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20/09/2006
-
19h29
da BBC Brasil, em Nova York
Na véspera de completar 52 anos, Shinzo Abe recebeu um presente previsível na quarta-feira: a liderança do governista Partido Liberal Democrático.
O presente maior será dado na semana que vem com a consagração de Abe no Parlamento japonês como o sucessor do primeiro-ministro Junichiro Koizumi.
Já os vizinhos do Japão não estão seguros se podem se sentir igualmente recompensados com a escolha de um dirigente que, ainda mais do que Koizumi, não esconde sua ambição de que o país tenha uma voz política no cenário mundial compatível com sua importância econômica.
Inquietações existem em particular na China e na Coréia do Sul (vítimas do expansionismo imperial japonês na primeira metade do século 20) e também na comunista Coréia do Norte, hoje vista como a maior ameaça à segurança do Japão.
Abe ganhou espaço politico em 2002 com sua atitude dura (e popular), criticando as autoridades de Tóquio por não investigar a fundo as alegações (que eram corretas) de que a Coréia do Norte seqüestrara cidadãos japoneses durante a Guerra Fria. E ele declara com insistência sua intenção de reescrever a Constituição pacifista do Japão, legado da ocupação americana no pós-guerra.
'Geração pós-guerra'
Os motivos de alarme regional não páram por aí: como Koizumi, Abe é visitante freqüente do santuário de Yasukuni, onde criminosos de guerra são honrados ao lado de outros 2,5 milhões de japoneses que morreram em combate. Para Abe, o Japão já se desculpou um número de vezes suficiente (mais de 20) pela Segunda Guerra Mundial.
Ele e seus partidários argumentam que tomam atitudes que refletem o amadurecimento da democracia japonesa e o passar dos tempos. Abe diz que ele representa a "geração pós-guerra". E, de fato, sua ascensão ao poder é histórica. Ele será o mais jovem dirigente japonês desde 1945 e o primeiro que nasceu depois da Segunda Guerra.
Abe é o futuro, mas também o passado. Seu avô Nobusuke Kishi foi arquiteto-chave da expansão imperial japonesa nos anos 30, integrante do ministério que assinou a declaração de guerra contra os EUA em 1941 e, após a derrota em 1945, preso e detido, embora nunca julgado. Kishi retornou ao jogo politico e foi primeiro-ministro entre 1957 e 1960. É qualificado por seu neto como um "estadista combatente".
Ambigüidade
Agora todos estão de olho na intensidade dos combates de Shinzo Abe. Apesar da reputação de falar o que pensa e de agir de forma incendiária, existe ambigüidade no futuro primeiro-ministro.
Não é à toa que para alguns ele irá reforçar o nacionalismo japonês até com pitadas militaristas, com estímulo de setores mais conservadores dos EUA, que investem no país como um contraponto à inevitável hegemonia chinesa e também a uma Coréia do Norte possivelmente com armas nucleares.
Mas há a visão de que Abe, no poder, irá se curvar à realidade, forçado a aceitar a importância estratégica das relações econômicas do seu país com a China.
Nas últimas semanas, ele amansou sua conversa mais dura e não esclareceu que, se como primeiro-ministro, irá visitar o santuário de Yasukuni. Em uma ambigüidade calculada, Abe poderá ficar ao largo do memorial, sem prometer formalmente que não irá visitá-lo.
Paradoxalmente, é possivel que o diálogo Tóquio- Pequim, suspenso no governo de Koizumi, seja retomado com Abe.
Como o visceral anticomunista ex-presidente americano Richard Nixon que foi a Pequim nos anos 70, o agressivo nacionalista Abe teria credibilidade para aparar as arestas com a emergente superpotência chinesa. Seria um presente para a estabilidade regional e mundial.
Caio Blinder: Novo dirigente japonês é um samurai de ambigüidade
CAIO BLINDERda BBC Brasil, em Nova York
Na véspera de completar 52 anos, Shinzo Abe recebeu um presente previsível na quarta-feira: a liderança do governista Partido Liberal Democrático.
O presente maior será dado na semana que vem com a consagração de Abe no Parlamento japonês como o sucessor do primeiro-ministro Junichiro Koizumi.
Já os vizinhos do Japão não estão seguros se podem se sentir igualmente recompensados com a escolha de um dirigente que, ainda mais do que Koizumi, não esconde sua ambição de que o país tenha uma voz política no cenário mundial compatível com sua importância econômica.
Inquietações existem em particular na China e na Coréia do Sul (vítimas do expansionismo imperial japonês na primeira metade do século 20) e também na comunista Coréia do Norte, hoje vista como a maior ameaça à segurança do Japão.
Abe ganhou espaço politico em 2002 com sua atitude dura (e popular), criticando as autoridades de Tóquio por não investigar a fundo as alegações (que eram corretas) de que a Coréia do Norte seqüestrara cidadãos japoneses durante a Guerra Fria. E ele declara com insistência sua intenção de reescrever a Constituição pacifista do Japão, legado da ocupação americana no pós-guerra.
'Geração pós-guerra'
Os motivos de alarme regional não páram por aí: como Koizumi, Abe é visitante freqüente do santuário de Yasukuni, onde criminosos de guerra são honrados ao lado de outros 2,5 milhões de japoneses que morreram em combate. Para Abe, o Japão já se desculpou um número de vezes suficiente (mais de 20) pela Segunda Guerra Mundial.
Ele e seus partidários argumentam que tomam atitudes que refletem o amadurecimento da democracia japonesa e o passar dos tempos. Abe diz que ele representa a "geração pós-guerra". E, de fato, sua ascensão ao poder é histórica. Ele será o mais jovem dirigente japonês desde 1945 e o primeiro que nasceu depois da Segunda Guerra.
Abe é o futuro, mas também o passado. Seu avô Nobusuke Kishi foi arquiteto-chave da expansão imperial japonesa nos anos 30, integrante do ministério que assinou a declaração de guerra contra os EUA em 1941 e, após a derrota em 1945, preso e detido, embora nunca julgado. Kishi retornou ao jogo politico e foi primeiro-ministro entre 1957 e 1960. É qualificado por seu neto como um "estadista combatente".
Ambigüidade
Agora todos estão de olho na intensidade dos combates de Shinzo Abe. Apesar da reputação de falar o que pensa e de agir de forma incendiária, existe ambigüidade no futuro primeiro-ministro.
Não é à toa que para alguns ele irá reforçar o nacionalismo japonês até com pitadas militaristas, com estímulo de setores mais conservadores dos EUA, que investem no país como um contraponto à inevitável hegemonia chinesa e também a uma Coréia do Norte possivelmente com armas nucleares.
Mas há a visão de que Abe, no poder, irá se curvar à realidade, forçado a aceitar a importância estratégica das relações econômicas do seu país com a China.
Nas últimas semanas, ele amansou sua conversa mais dura e não esclareceu que, se como primeiro-ministro, irá visitar o santuário de Yasukuni. Em uma ambigüidade calculada, Abe poderá ficar ao largo do memorial, sem prometer formalmente que não irá visitá-lo.
Paradoxalmente, é possivel que o diálogo Tóquio- Pequim, suspenso no governo de Koizumi, seja retomado com Abe.
Como o visceral anticomunista ex-presidente americano Richard Nixon que foi a Pequim nos anos 70, o agressivo nacionalista Abe teria credibilidade para aparar as arestas com a emergente superpotência chinesa. Seria um presente para a estabilidade regional e mundial.
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