Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/09/2006 - 07h12

Vice da Bolívia se desculpa por pedir que índios se armem

MARCIA CARMO
da BBC Brasil, em Buenos Aires

Após ter dito que a revolução boliviana deve ser defendida até com armas, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, pediu desculpas nesta quinta-feira por ter dito "alguma frase que possa ter sido entendida de outra maneira".

Um polêmico discurso do vice-presidente durante visita à província de Omasuyos, de maioria indígena, na quarta-feira, causou grande repercussão na imprensa e na mídia bolivianas.

“Omasuyos está de pé. Omasuyos é a pátria e defenderá com seu peito, com sua mão, com a pedra, com o (fuzil) mauser esta revolução, estas mudanças e este governo revolucionário”, teria dito García Linera, que substitui interinamente o presidente Evo Morales, que está em Nova York.

"Se for necessário, em 2006, 50 mil indígenas poderemos morrer para defender nosso gás, petróleo e as riquezas naturais.”

No discurso em Omasuyos, o vice-presidente, que foi guerrilheiro nos anos 90, também lembrou que aprendeu a "pegar em armas para defender o país".

Linera disse ainda que os bolivianos eram o “escudo protetor” do presidente Evo Morales, que estava sendo “agredido por todos os lados” e não podia "ficar sozinho”.

García Linera estava em Omasuyos para participar de uma manifestação em homenagem aos cerca de 60 bolivianos que morreram em confrontos com a polícia em outubro de 2003. Eles morreram em meio aos protestos contra as privatizações lideradas pelo ex-presidente Gonzalo Sanchez de Lozada, que acabou renunciando ao cargo.

Repercussão

As declarações do presidente interino de quarta-feira tiveram ampla repercussão na imprensa e na mídia do país. O jornal La Razón interpretou que Linera havia "pedido" que Omasuyos se armasse. “García Linera apóia a luta indígena armada”, publicara o jornal El Deber, de Santa Cruz de la Sierra, em sua manchete desta quinta-feira. As declarações também foram assunto em diferentes emissoras de rádio do país.

Nos últimos meses, Linera passou a ser uma espécie de moderador e interlocutor do governo Morales com o governo brasileiro. Ele já esteve em Brasília e, na semana passada, congelou uma resolução assinada pelo então ministro de hidrocarbonetos, Andres Soliz Rada, que rebaixava as refinarias da Petrobras, a maior investidora no país, na Bolívia a prestadoras de serviço.

Como disse uma fonte diplomática disse à BBC Brasil, para negociadores brasileiros, ele é a esperanca do diálogo entre os dois governos e entre a Petrobras e a gestão Morales.

Linera fez as polêmicas declarações num momento interno também delicado, em que os protestos voltam ao país. De um lado, estão o governos e os chamados “comitês cívicos” – que reúnem empresários e diferentes profissionais - dos quatro departamentos economicamente mais ricos que protestam contra as regras para a assembléia constituinte. De outro, os indígenas que nesta semana bloquearam o trânsito contra o que chamam “intransigência das velhas oligarquias”.

É nesse clima que está prevista, para os dias 26 e 27, uma reunião da Petrobras com a comissão boliviana responsável por negociar os novos contratos com as petroleiras, após a nacionalização do gás e do petróleo, decretada por Morales no dia 1º de maio.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página