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26/09/2006
-
05h54
da BBC Brasil, em Washington
O Brasil precisa romper com sua atual política antiinflacionária, que está tendo efeitos ''destrutivos'' sobre a indústria e impedindo que o país retome o nível de crescimento obtido entre as décadas de 60 e 80, diz o economista Mark Weisbrot.
Essa é também uma das principais conclusões do estudo intitulado A Eleição Presidencial Brasileira: Contexto de Temas Econômicos, recém-divulgado pelo Center for Economic and Policy Research (CEPR), instituto de pesquisas econômicas baseado em Washington do qual Weisbrot é co-diretor.
A despeito do título, o estudo aborda o cenário econômico brasileiro nos últimos 25 anos, mas sugere caminhos para o futuro e destaca as ações da administração Lula e os supostos equívocos do atual governo.
De acordo com o relatório, a meta inflacionária do Banco Central, baseada em juros elevados, tem sido bem-sucedida em baixar os níveis da inflação, mas pode ser extremamente negativa para a economia do país.
''A política antiinflacionária está destruindo os setores industriais e manufatureiros. Uma taxa de juros como a brasileira, de cerca de 11%, é uma das mais altas do mundo'', afirma Weisbrot.
O analista acrescenta que as atuais políticas ''afugentam investimentos, encolhem a economia e supervalorizam o real, tornando as importações falsamente baratas e dificultando que alguém obtenha lucro investindo no setor manufatureiro''.
O relatório afirma que ''a manutenção de uma moeda supervalorizada causará danos às perspectivas de crescimento do Brasil. O declínio das exportações desde 2004, em 1,4% do PIB, já contribuiu para a desaceleração da economia. E feriu uma série de indústrias, como as têxteis, as de calçados, de móveis, de couro e de madeira''.
Caminho errado
Weisbrot afirma que, por conta da dificuldade em obter investimentos no setor industrial, o país se voltou para a produção agrícola e a mineração. ''Mas nenhum país fica rico investindo apenas em agricultura e minério de ferro'', diz o analista.
De acordo com o estudo, se o Brasil tivesse mantido sua meta de crescimento econômico obtida entre as décadas de 60 e 80, hoje teria um padrão de vida similar ao europeu. ''Mas nos últimos 25 anos, o crescimento do PIB per capita foi de 0,5% ao ano, o que é péssimo, especialmente se comparado com os índices do período entre 1960 e 1980, que foi de 123%'', comenta o economista.
A pesquisa conclui que o crescimento do PIB per capita foi similar durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso e Lula. No governo do primeiro, ficou na faixa de 1,6%. No de Lula, caiu ligeiramente para 1,4%.
''Não há muita redistribuição de renda que possa ser feita com um crescimento destes. Não é muito para melhorar o padrão de vida das pessoas'', afirma Weisbrot.
O economista acredita que ''Lula fez muito por diversos brasileiros, especialmente os mais pobres, como o aumento do salário mínimo e o Bolsa Família. É mais do que eles obtiveram da administração anterior''. No entanto, em seu estudo, afirma que ''diante de um crescimento lento e de um orçamento apertado'' é ''impossível tirar pessoas da pobreza em larga escala ou gerar empregos suficientes para reduzir o desemprego''.
Resistência
Segundo o analista, o país precisa baixar suas taxas de juros, mas enfrenta resistências do mercado financeiro nacional e internacional.
''O mercado financeiro tem absoluto controle sobre o Banco Central. Mas o propósito de ter um Banco Central é que ele atenda aos interesses de toda a sociedade. Temos o mesmo problema nos EUA. Há congressistas com enorme influência sobre o Fed, o que acaba fazendo com que ele muitas vezes tome a decisão errada.''
Além de pressões, o analista acredita que Lula deu ouvido às pessoas erradas.
''Ele teve consultores como Palocci, que acharam que a melhor coisa era agradar o mercado financeiro a qualquer preço. O governo anterior dobrou a dívida pública, o que foi um fardo para Lula. Ok, se você pega um país em crise, é preciso adotar certas medidas por alguns meses, mas não é possível sacrificar a economia de um país por quatro anos.''
No entender de Weisbrot, se eleito para um segundo mandato, Lula precisará ''se livrar da meta inflacionária como política macroeconômica, afrouxar a política fiscal - algo que ele já começou a fazer - e buscar estratégias de desenvolvimento, educação, infra-estrutura e políticas industriais''.
Tudo isso, diz o analista, ''estava na plataforma de Lula, mas nada foi implantado. Foi uma gestão muito decepcionante e terá de melhorar''.
Política antiinflacionária é 'destrutiva' para o Brasil, diz estudo
BRUNO GARCEZda BBC Brasil, em Washington
O Brasil precisa romper com sua atual política antiinflacionária, que está tendo efeitos ''destrutivos'' sobre a indústria e impedindo que o país retome o nível de crescimento obtido entre as décadas de 60 e 80, diz o economista Mark Weisbrot.
Essa é também uma das principais conclusões do estudo intitulado A Eleição Presidencial Brasileira: Contexto de Temas Econômicos, recém-divulgado pelo Center for Economic and Policy Research (CEPR), instituto de pesquisas econômicas baseado em Washington do qual Weisbrot é co-diretor.
A despeito do título, o estudo aborda o cenário econômico brasileiro nos últimos 25 anos, mas sugere caminhos para o futuro e destaca as ações da administração Lula e os supostos equívocos do atual governo.
De acordo com o relatório, a meta inflacionária do Banco Central, baseada em juros elevados, tem sido bem-sucedida em baixar os níveis da inflação, mas pode ser extremamente negativa para a economia do país.
''A política antiinflacionária está destruindo os setores industriais e manufatureiros. Uma taxa de juros como a brasileira, de cerca de 11%, é uma das mais altas do mundo'', afirma Weisbrot.
O analista acrescenta que as atuais políticas ''afugentam investimentos, encolhem a economia e supervalorizam o real, tornando as importações falsamente baratas e dificultando que alguém obtenha lucro investindo no setor manufatureiro''.
O relatório afirma que ''a manutenção de uma moeda supervalorizada causará danos às perspectivas de crescimento do Brasil. O declínio das exportações desde 2004, em 1,4% do PIB, já contribuiu para a desaceleração da economia. E feriu uma série de indústrias, como as têxteis, as de calçados, de móveis, de couro e de madeira''.
Caminho errado
Weisbrot afirma que, por conta da dificuldade em obter investimentos no setor industrial, o país se voltou para a produção agrícola e a mineração. ''Mas nenhum país fica rico investindo apenas em agricultura e minério de ferro'', diz o analista.
De acordo com o estudo, se o Brasil tivesse mantido sua meta de crescimento econômico obtida entre as décadas de 60 e 80, hoje teria um padrão de vida similar ao europeu. ''Mas nos últimos 25 anos, o crescimento do PIB per capita foi de 0,5% ao ano, o que é péssimo, especialmente se comparado com os índices do período entre 1960 e 1980, que foi de 123%'', comenta o economista.
A pesquisa conclui que o crescimento do PIB per capita foi similar durante os mandatos de Fernando Henrique Cardoso e Lula. No governo do primeiro, ficou na faixa de 1,6%. No de Lula, caiu ligeiramente para 1,4%.
''Não há muita redistribuição de renda que possa ser feita com um crescimento destes. Não é muito para melhorar o padrão de vida das pessoas'', afirma Weisbrot.
O economista acredita que ''Lula fez muito por diversos brasileiros, especialmente os mais pobres, como o aumento do salário mínimo e o Bolsa Família. É mais do que eles obtiveram da administração anterior''. No entanto, em seu estudo, afirma que ''diante de um crescimento lento e de um orçamento apertado'' é ''impossível tirar pessoas da pobreza em larga escala ou gerar empregos suficientes para reduzir o desemprego''.
Resistência
Segundo o analista, o país precisa baixar suas taxas de juros, mas enfrenta resistências do mercado financeiro nacional e internacional.
''O mercado financeiro tem absoluto controle sobre o Banco Central. Mas o propósito de ter um Banco Central é que ele atenda aos interesses de toda a sociedade. Temos o mesmo problema nos EUA. Há congressistas com enorme influência sobre o Fed, o que acaba fazendo com que ele muitas vezes tome a decisão errada.''
Além de pressões, o analista acredita que Lula deu ouvido às pessoas erradas.
''Ele teve consultores como Palocci, que acharam que a melhor coisa era agradar o mercado financeiro a qualquer preço. O governo anterior dobrou a dívida pública, o que foi um fardo para Lula. Ok, se você pega um país em crise, é preciso adotar certas medidas por alguns meses, mas não é possível sacrificar a economia de um país por quatro anos.''
No entender de Weisbrot, se eleito para um segundo mandato, Lula precisará ''se livrar da meta inflacionária como política macroeconômica, afrouxar a política fiscal - algo que ele já começou a fazer - e buscar estratégias de desenvolvimento, educação, infra-estrutura e políticas industriais''.
Tudo isso, diz o analista, ''estava na plataforma de Lula, mas nada foi implantado. Foi uma gestão muito decepcionante e terá de melhorar''.
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