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27/09/2006 - 20h40

Lula está mais para Bush que para JK, diz Skidmore

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

O brasilianista americano Thomas Skidmore acredita que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está mais para George W. Bush do que para Juscelino Kubitschek devido à forma como reage à necessidade de planejamento a longo prazo e investimentos em infra-estrutura no Brasil.

''Não vejo Lula fazendo programas de longo prazo. Ele é muito diferente de JK, que tinha grandes projetos e tinha um sentido de destino do Brasil. Os estrategistas de Lula não são sofisticados o suficiente para investir em programas de longo prazo'', disse à BBC Brasil o historiador.

Se Lula contrasta com Juscelino, o brasilianista crê que o presidente ''está muito parecido com nosso presidente Bush''. O historiador explica seu raciocínio: ''O Brasil precisa investir em infra-estrutura, em estradas, portos, sistemas de transporte. Mas está copiando os Estados Unidos, onde você depende do setor privado para investir nessas áreas. Se o Estado tenta investir nestes setores, desperta uma oposição feroz da direita''.

Thomas Skidmore diz que ''o Brasil já teve excelentes estrategistas, pessoas que pensavam no desenvolvimento nacional a longo prazo. Não apenas no período de JK, mas até mesmo mais tarde''.

Mas o historiador acredita que ''o que aconteceu desde então é que o Brasil caiu na mesma letargia que os EUA, onde é costume pensar que, se o setor privado não fizer, não vale a pena ser feito''.

Para Skidmore, os setores onde essa suposta letargia é mais grave são educação e investimento em tecnologia, ''setores que o Brasil segue negligenciando''.

No entender de Skidmore, se Lula for reeleito, ''tudo indica que ele seguirá adotando políticas econômicas ortodoxas e, no campo social, seguirá aplicando políticas 'band-aid', como o Bolsa-Família. Ele não tem a coragem de realizar um grande programa de investimentos que transformaria, por exemplo, o Nordeste''.

Política com vizinhos

Skidmore é autor de vários livros em que analisa a história e sociedade brasileiras, entre eles Brasil – de Getúlio a Castelo e Brasil – de Castelo a Tancredo, ambos publicados no Brasil.

Em termos de política externa, o brasilianista crê que Lula será mais bem-sucedido do que em suas políticas estruturais. O historiador acredita que em um possível segundo mandato Lula conseguirá ter uma relação estável com países vizinhos, como a Bolívia e a Venezuela.

''O Brasil precisa importar energia e isso implica relações mais íntimas com vizinhos como a Bolívia.'' Por isso, diz o historiador, o governo Lula reagiu bem ao que chama de ''golpe dado pela Bolívia'', em menção à nacionalização de recursos de gás e petróleo pelo país andino.

Mas enquanto prevê uma relação estável com a Bolívia, Skidmore não vislumbra o mesmo cenário em relação à Venezuela.

''A Bolívia é um símbolo de país falido. Já a Venezuela, um rival para o Brasil na América do Sul e no Mercosul, tenta chantagear o Brasil com seu petróleo.''

Mas no entender do historiador, a suposta estratégia do presidente venezuelano, Hugo Chávez, não deverá surtir efeito. ''O Brasil se tornou auto-suficiente em petróleo, então não irá cair no jogo de Chávez. A tática dele é mostrar que o Brasil é um adepto da causa americana, o braço direito dos Estados Unidos na América do Sul''.

Com isso, afirma Skidmore, a Venezuela tenta tirar da órbita brasileira países que Skidmore qualifica como sendo ''satélites'' do Brasil, como a Bolívia e a Colômbia. ''Mas fomentar tensões em países frágeis, com movimentos guerrilheiros, é uma estratégia perigosa''.

Política doméstica

Skidmore diz não acreditar que a base do governo fique enfraquecida, mesmo que, após uma eventual reeleição, Lula tenha de governar com uma bancada do PT encolhida e veja reduzido o seu número de aliados no Congresso.

''Lula controla uma vasta máquina estatal. Hoje há pessoas em todos os níveis da burocracia que devem seus empregos ao presidente. Não ao partido ou a um ideal, mas sim ao presidente.''

De acordo com o historiador, não só será difícil mudar esse quadro, ''como será muito tentador continuar a governar com esta máquina''. Skidmore afirma que ''muitos vêem em Lula um camponês de pouca instrução, mas ele mostrou ser muito astuto na hora de saber manipular a burocracia''.

''É daí que ele retira sua autoridade. Mas isso também acabou minando o PT. Não existe mais ideologia. Em um segundo mandato, o que teremos é uma grande máquina movida não por ideais, mas pelo poder. Os idealistas do PT já se foram. Estão hoje trabalhando para a Igreja ou em outro lugar, mas não estão mais no governo'', conclui Skidmore.
 

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