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29/09/2006
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11h36
da BBC Brasil, em Londres
Uma coleção de ensaios reunidos pela Universidade americana de Massachussets para antecipar o centenário de morte de Machado de Assis retrata o escritor fluminense como um "plagiário". E ainda por cima confesso.
"A Revolução Francesa e Otelo estão feitos; nada impede que esta ou aquela cena seja tirada para outras peças, e assim se cometem, literariamente falando, os plágios", escreveu em 1895 o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A citação machadiana serve de exemplo para que o editor da coleção, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, explique:
"Machado de Assis era um plagiário confesso, porque foi o primeiro escritor da literatura ocidental a reconhecer que o autor é antes de tudo um grande leitor".
Em uma época que escritores eram considerados 'gênios' que escreviam histórias unicamente a partir de sua imaginação, Machado encampou uma idéia "muito contemporânea", disse o professor.
"Muita gente na época simplesmente não entendeu."
Centenário
Batizado com o intrigante título de The Author as Plagiarist – The Case of Machado de Assis ("O autor como um plagiário – o caso de Machado de Assis"), o livro, que foi lançado em Londres, pretende inaugurar as comemorações pelo centenário da morte do escritor, em dois anos.
Machado de Assis rompeu com a idéia de que o artista é um gênio, ou nas palavras do professor Castro Rocha, "um vulcão de criatividade" cuja força vem do interior, muito comum aos autores românticos que faziam sucesso até então.
O escritor reconheceu que autores refletem suas influências literárias a um ponto em que "todos os escritores são filhos de suas leituras", como definiu em breves palavras – reproduzidas no livro – o escritor português José Saramago.
Décadas mais tarde, o argentino José Luis Borges afirmou que o escritor é um leitor que só escreve porque "esqueceu tudo o que leu".
Mas Borges, afirmou Castro Rocha, "tem certo gosto narcisista de mostrar que é um homem culto. Machado de Assis, não".
Contemporaneidade
Um século depois, a Internet colocou a idéia machadiana na ordem do dia.
"O artista de hoje recebe muita informação via Internet. Ele sabe que o que fizer já foi feito em algum lugar no mundo; em Londres, na Índia, ou no Piauí", diz o editor.
Ao que tudo indica, isto já era conhecido por Machado de Assis, homem de leitura e dado a intercâmbios culturais – sua mãe era de Açores e sua mulher, da cidade do Porto.
José Saramago nota apenas um aspecto estranho em Brás Cubas: o fato de o francês Denis Diderot, o autor da Enciclopédia do século 18, não receber no livro nenhuma menção, ao passo que escritores menos conhecidos foram citados pelo personagem principal.
"Há quem me diga que Brás Cubas não cita Diderot simplesmente porque não o leu", escreve o prêmio Nobel de Literatura. "Pode ser. Mas ninguém me tira da cabeça que então era Diderot quem lia Brás Cubas…"
Livro analisa 'plágios' de Machado de Assis
PABLO UCHOAda BBC Brasil, em Londres
Uma coleção de ensaios reunidos pela Universidade americana de Massachussets para antecipar o centenário de morte de Machado de Assis retrata o escritor fluminense como um "plagiário". E ainda por cima confesso.
"A Revolução Francesa e Otelo estão feitos; nada impede que esta ou aquela cena seja tirada para outras peças, e assim se cometem, literariamente falando, os plágios", escreveu em 1895 o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas.
A citação machadiana serve de exemplo para que o editor da coleção, o professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) João Cezar de Castro Rocha, explique:
"Machado de Assis era um plagiário confesso, porque foi o primeiro escritor da literatura ocidental a reconhecer que o autor é antes de tudo um grande leitor".
Em uma época que escritores eram considerados 'gênios' que escreviam histórias unicamente a partir de sua imaginação, Machado encampou uma idéia "muito contemporânea", disse o professor.
"Muita gente na época simplesmente não entendeu."
Centenário
Batizado com o intrigante título de The Author as Plagiarist – The Case of Machado de Assis ("O autor como um plagiário – o caso de Machado de Assis"), o livro, que foi lançado em Londres, pretende inaugurar as comemorações pelo centenário da morte do escritor, em dois anos.
Machado de Assis rompeu com a idéia de que o artista é um gênio, ou nas palavras do professor Castro Rocha, "um vulcão de criatividade" cuja força vem do interior, muito comum aos autores românticos que faziam sucesso até então.
O escritor reconheceu que autores refletem suas influências literárias a um ponto em que "todos os escritores são filhos de suas leituras", como definiu em breves palavras – reproduzidas no livro – o escritor português José Saramago.
Décadas mais tarde, o argentino José Luis Borges afirmou que o escritor é um leitor que só escreve porque "esqueceu tudo o que leu".
Mas Borges, afirmou Castro Rocha, "tem certo gosto narcisista de mostrar que é um homem culto. Machado de Assis, não".
Contemporaneidade
Um século depois, a Internet colocou a idéia machadiana na ordem do dia.
"O artista de hoje recebe muita informação via Internet. Ele sabe que o que fizer já foi feito em algum lugar no mundo; em Londres, na Índia, ou no Piauí", diz o editor.
Ao que tudo indica, isto já era conhecido por Machado de Assis, homem de leitura e dado a intercâmbios culturais – sua mãe era de Açores e sua mulher, da cidade do Porto.
José Saramago nota apenas um aspecto estranho em Brás Cubas: o fato de o francês Denis Diderot, o autor da Enciclopédia do século 18, não receber no livro nenhuma menção, ao passo que escritores menos conhecidos foram citados pelo personagem principal.
"Há quem me diga que Brás Cubas não cita Diderot simplesmente porque não o leu", escreve o prêmio Nobel de Literatura. "Pode ser. Mas ninguém me tira da cabeça que então era Diderot quem lia Brás Cubas…"
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