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03/10/2006 - 20h52

Rice pede apoio a governos árabes aliados

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, no Cairo

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, reafirmou a recusa dos americanos em reconhecer a liderança do Hamas na Autoridade Palestina como legítima, porque o grupo islâmico não reconhece o direito à existência do Estado de Israel.

“A solução para os palestinos é encontrar um governo que esteja de acordo com os princípios estabelecidos pelo Quarteto”, disse Rice, em entrevista coletiva no Cairo, em uma referência ao mapa da paz, um plano criado por Estados Unidos, União Européia, Rússia e ONU, que prevê a criação de dois Estados na região.

Mas o Hamas não aceita a solução de dois Estados, e a recusa do grupo em renunciar completamente às ações armadas contra Israel levaram ao bloqueio dos recursos internacionais destinados aos palestinos.

O atraso no pagamento dos salários de funcionários públicos é um dos motivos para a violência que dominou Gaza nos últimos dias.

No entanto, entre os árabes, a leitura é de que o Hamas ganhou eleições justas nos territórios palestinos e tem que ser respeitado como uma força política presente no governo.

“Esta argumentação (de Condoleeza Rice) faz muito sentido do ponto de vista dos Estados Unidos e de Israel, mas não na visão dos árabes e dos palestinos. Isso só reforça a impressão do Hamas de que o objetivo é destruir o grupo e dificulta ainda mais a negociação de paz”, diz o diretor do centro de pesquisas egípcio Al Ahram – um instituto próximo do governo egípcio -, Hassan Abu Taleb.

Amigos

A visita da secretária Rice foi para se encontrar principalmente com líderes de países considerados próximos dos Estados Unidos – vistos pelos americanos como moderados – para pedir apoio na estabilização do Iraque, na retomada de negociações entre israelenses e palestinos e na crise nuclear com Irã.

No Cairo, Rice falou com os ministros de Relações Exteriores dos países que compõem o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) – Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Oman, Catar e Kuwait –, da Jordânia e do Egito e depois concedeu uma entrevista coletiva à imprensa.

Mas o ministro de Relações Exteriores do Egito, Ahmad Abu Gheit, rejeitou qualquer sugestão de que haja um “eixo” pró-Estados Unidos no Oriente Médio.

“Não existe nenhum grupo formando um eixo. Isso é inimaginável”, disse Abu Gheit, que também participou da entrevista coletiva.

A Jordânia e o Egito são os dois únicos países do Oriente Médio que têm tratados de paz com Israel e são essenciais para mediar os contatos com alas mais radicais dos palestinos. Mas, como em todo o mundo árabe, qualquer impressão de proximidade ou aliança com os Estados Unidos costuma ser duramente criticada pela população.

Irã

Condoleezza Rice também discutiu com os paises árabes a questão nuclear iraniana e pediu o apoio deles para pressionar o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad a abandonar as pesquisas nucleares.

“Eu espero que ainda haja como resolver esta questão (do enriquecimento de urânio no Irã), mas a comunidade internacional tem pouco tempo, porque logo sua credibilidade vai ser afetada (se não forem impostas as sanções previstas em resolução do Conselho de Segurança da ONU)”, disse Rice na entrevista coletiva no Cairo.

Hassan Abu Talab diz que os países árabes também estão preocupados com as ambições nucleares do Irã, mas diz que mesmo nesta questão os pontos em comum com os Estados Unidos são “muito pequenos”.

“Os países árabes não vão aceitar a imposição de sanções contra o irã”, diz Abu Taleb.

Iraque

O Iraque era outro tema importante que Rice tinha a discutir com representantes árabes, mas há uma percepção grande de que pouco pode ser feito agora.

“Os americanos têm que forçar as facções iraquianas a negociar uma solução para crise política no país e apresentar um cronograma, mesmo que longo, para a saída de suas tropas, porque a ocupação é uma das grandes causas da violência e da insatisfação dos iraquianos”, diz Abu Taleb.

Mas ele diz que não vê nenhuma chance de o governo Bush adotar qualquer uma destas medidas.

“O atual governo americano não ouve os conselhos dos árabes. Mas de qualquer maneira é importante que Condoleezza Rice venha até aqui para ouvi-los de novo, para que não tenham a impressão de que esquecemos e aceitamos”, diz Taleb.
 

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