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20/10/2006 - 20h43

Rejeição a Lula faz Arroio do Padre votar em Alckmin

ALESSANDRA CORRÊA
da BBC Brasil, em Arroio do Padre (RS)

O candidato à presidência Geraldo Alckmin, do PSDB, nunca percorreu os 25 quilômetros de terra que ligam a BR-116 a Arroio do Padre, município gaúcho de 2.739 habitantes distante 268 quilômetros de Porto Alegre.

Essa ausência, no entanto, não impediu que Alckmin recebesse 81,5% dos votos válidos do município no primeiro turno das eleições, contra apenas 11,4% do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Os números fizeram de Arroio do Padre a cidade onde Lula teve a sua menor votação proporcional em todo o país e revelaram a rejeição que o candidato do PT enfrenta no município.

A crise vivida pela agricultura, que é a base da economia do município, e as denúncias de corrupção envolvendo o governo são as principais justificativas dos eleitores para o resultado.

Na votação do próximo dia 29 de outubro, muitos moradores acreditam que a diferença entre os dois candidatos será ainda maior.

Antipetista

Se perguntados sobre as qualidades ou as realizações do ex-governador de São Paulo, os 2.111 eleitores de Arroio do Padre irão, em sua maioria, oferecer respostas vagas.

"Ele é uma boa solução", diz a professora aposentada Gundela Sander, ressaltando que a necessidade de renovação no cenário político nacional motivou seu voto em Alckmin.

"Achei que devia mudar", concorda o produtor de leite Egon Perleberg, que também apóia o candidato do PSDB.

O discurso muda quando o assunto é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em Arroio do Padre, o candidato do PT desperta críticas bem diretas, especialmente em relação à atual situação da agricultura (prejudicada em todo o Brasil depois de duas quebras de safra consecutivas).

A pouca simpatia pelo PT, porém, não é um fenômeno desta eleição.

Em 2002, a postura "antipetista" de Arroio do Padre já havia chamado a atenção por garantir ao candidato a governador Germano Rigotto (PMDB) a maior votação em todo o Rio Grande do Sul no segundo turno, com 84,7% do total de votos, contra 11,2% do candidato do PT, Tarso Genro.

Naquele mesmo pleito, o candidato a presidente José Serra (PSDB) recebeu 79,7% do total de votos, e Lula, 15,8%.

Agricultura

O prefeito Gilnei Fischer, do PFL (partido que integra a coligação Por um Brasil Decente, de Geraldo Alckmin), afirma que o resultado do primeiro turno das eleições ocorreu naturalmente.

"Em outros municípios da região, o resultado foi semelhante", diz o prefeito. "A agricultura tem ido mal. Os agricultores sentem na pele."

Quem visita Arroio do Padre percebe facilmente a importância da agricultura. O município de 124,69 km² é formado em sua maioria por pequenas e médias propriedades rurais, dedicadas principalmente à fumicultura e espalhadas por seis núcleos ligados por estradas de terra.

A agricultura é a principal geradora de empregos em Arroio do Padre. Grande parte da população trabalha como diarista nas lavouras, durante a safra.

No entanto, mesmo com a crise no setor rural, o prefeito afirma que não há desempregados no município.

"Tem gente esperando oportunidade de trabalho, mas não estão sem fazer nada", afirma Fischer.

Campanha

Apesar de grave, a crise agrícola dos últimos dois anos não pode ser apontada como o único motivo da baixa votação de Lula e do bom resultado de Alckmin no primeiro turno.

Desde de que foi instalado como município, em 2001 (a emancipação de Pelotas ocorreu por meio de um plebiscito, em 1996, mas ficou quatro anos na Justiça até ser oficializada), Arroio do Padre nunca teve um vereador do PT.

Neste ano, a campanha do PT se resumiu a três cartazes com as fotos de Lula e dos candidatos a governador Olívio Dutra e a senador Miguel Rossetto, colocados em pontos estratégicos pelo presidente do partido no município, Manoel Chagas.

Representante comercial aposentado, Chagas, 63 anos, nasceu em Pernambuco, foi criado em São Paulo e morou em Curitiba antes de se instalar em Arroio do Padre, há seis anos.

Lá, formou o PT, que reúne, segundo ele, "uns nove" integrantes no município.

"O pessoal aqui é conservador. Não quer saber de partidos de esquerda", diz Chagas, que nunca concorreu a um cargo público.

A campanha do PSDB foi coordenada pelos dois vereadores do partido em Arroio do Padre.

O presidente do PSDB no município, Dario Krüger, e o secretário, Bruno Weber, comandaram a distribuição de santinhos dos candidatos.

Ambos acreditam que a candidata do partido ao governo do Estado, Yeda Crusius, que surpreendeu ao chegar ao segundo turno, deverá obter no próximo dia 29 uma votação bem superior à de 1º de outubro, quando recebeu 22,4% do total de votos.

No primeiro turno, o governador Germano Rigotto (que não chegou ao segundo turno) ficou com 58,11% do total de votos em Arroio do Padre. Olívio Dutra, que vai disputar com Yeda, recebeu apenas 6,9%.
 

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