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31/10/2006 - 12h07

Lula está em posição melhor do que FHC em 98, diz brasilianista

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

O brasilianista Peter Hakim acredita que países latino-americanos não têm bons históricos de segundos mandatos presidenciais bem-sucedidos, mas crê que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com um contexto favorável para romper com essa tradição.

"Lula assume o segundo mandato com uma economia sólida. Ele fez um excelente trabalho no campo econômico e vem de uma eleição na qual teve mais de 60% dos votos, o que lhe confere bastante independência", afirma o presidente do Inter American Dialogue, um dos principais institutos de pesquisas políticas sobre o continente americano nos Estados Unidos.

Segundo Hakim, o momento atual é muito distinto do que foi vivido pelo antecessor de Lula, Fernando Henrique Cardoso, logo após sua reeleição.

"Ele começou o segundo mandato em meio a uma profunda crise financeira. Alguns dizem que esta teria sido até provocada pelos gastos necessários para financiar a sua reeleição", afirma, em referência ao ex-presidente que é também um dos integrantes do Inter American Dialogue.

Hakim identifica uma tendência latino-americana por segundos mandatos de pouco brilho. Ele afirma ser difícil detectar todos os fatores responsáveis por isso, mas identifica um deles: "Um dos problemas é o grande esforço feito para a reeleição, que gera desgastes políticos. Foi o caso de Carlos Menem, na Argentina, e Fernando Henrique Cardoso, que gastou muito capital político na revisão da Constituição do Brasil para obter sua reeleição".

Histórico

O brasilianista lista ainda outros casos. "Houve também [Alberto] Fujimori, no Peru, e Carlos Andrés Perez, na Venezuela, que não teve um segundo mandato consecutivo, mas foi reeleito. São poucas as exceções, como Leonel Fernandez, da República Dominicana", diz, em menção ao presidente dominicano que foi reeleito em 2004 e tem recebido elogios por seu ímpeto modernizador.

No entender de Hakim, Lula poderá seguir o mesmo exemplo, até porque o presidente brasileiro está preocupado com seu legado político.

"Lula é uma pessoa notável e fez conquistas impressionantes. Ele construiu a maior federação trabalhista da América Latina e montou um partido de esquerda do nada. Não consigo imaginar que ele não esteja pensando além do dia-a-dia. Ele é um homem de extraordinária imaginação. Não creio que não esteja pensando no legado que deixará para o Brasil e seu povo."

O analista descarta a hipótese de que o presidente dê uma guinada para a esquerda em seu novo mandato.

"Lembremos que Lula não é um esquerdista intelectual. Ele saiu do movimento trabalhista e sabe que para combater a pobreza são necessários empregos e crescimento. Ele aprendeu que para crescer é necessário investir, algo que não pode ser obtido sem que se conduza a economia de uma forma disciplinada, como ele vem fazendo."

Conflito interno

Hakim crê, no entanto, que há um conflito dentro do governo entre os que defendem um crescimento econômico mais rápido e os adeptos de uma linha que preza que o crescimento esteja condicionado à contenção da inflação e à disciplina fiscal.

Mas ele acrescenta que "esse conflito existe desde que Lula tomou posse. Muitos dentro do PT queriam que ele gastasse mais para investir em programas sociais. Mas acredito que os que pensam assim irão se decepcionar mais uma vez. Tudo leva a crer que ele seguirá com uma política fiscal rigorosa. Ele próprio reconheceu que sua principal conquista foi a estabilidade".

Ainda que não anteveja reformas radicais nos próximos quatro anos, Hakim diz: "Suspeito que ele irá tentar ser mais agressivo no sentido de estimular reformas que permitirão um crescimento mais rápido do que o que temos visto, mas não dependerá só dele, mas também da aliança política que ele conseguir montar".

De acordo com Hakim, o presidente poderá ter dificuldades para cumprir esse objetivo, porque "o Congresso brasileiro é fragmentado, o que torna difícil formar coalizões estáveis. Por mais que queira ser agressivo, ele terá também de mostrar habilidade política".

Relação com EUA

O analista não crê que uma provável vitória dos democratas no Congresso e talvez até no Senado, nas eleições de meio período do dia 7 de novembro, possam alterar as relações com o Brasil.

Historicamente, os democratas tendem a ser mais protecionistas do ponto de vista econômico e a zelar pelos interesses da indústria americana. Hakim acredita, no entanto, que Lula e seus ministros já aprenderam a lidar com isso.

"No início, todos se surpreenderam ao ver como Lula e Bush se deram bem. Os dois países discordam em muitos assuntos comerciais, mas os Estados Unidos consideram o Brasil um aliado em muitos temas, tanto que os dois países estão colaborando no Haiti", afirma, em referência aos soldados brasileiros que integram a missão de paz no país caribenho.

Segundo Hakim, "os Estados Unidos aprenderam a lidar com o Brasil, e o Brasil aprendeu a lidar com um país que não está disposto a fazer concessões em termos de comércio".

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