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09/11/2006 - 13h56

Água contaminada mata 200 crianças por hora, diz ONU

CASSIANO GOBBET
da BBC Brasil

Um relatório divulgado nesta quinta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) alerta para a crise de água potável que o mundo vive e pede um plano imediato de ação para diminuir suas conseqüências.

No estudo "Além da Escassez: Poder, Pobreza e a Crise Mundial do Fornecimento de Água", a agência das Nações Unidas cita os vários casos de doenças e mortes que poderiam ser evitadas com o fornecimento adequado de água e saneamento.

Reprodução
Populações de localidades mais pobres são as que têm de desembolsar uma quantia maior pelo uso de água
Populações de localidades mais pobres são as que têm de desembolsar uma quantia maior pelo uso de água
Anualmente, 1,8 milhão de crianças morre de diarréia (o equivalente a 205 crianças por hora), 443 milhões faltam à escola por doenças causadas pelo consumo de água inadequada e metade da população dos países em desenvolvimento passa por algum problema de saúde dessa natureza.

Conforme informações dadas pelo Programa Ambiental das Nações Unidas, metade dos leitos hospitalares é ocupado por doenças causadas pelo uso de água imprópria.

Brasil

O estudo do PNUD afirma que o Brasil tem um bom índice de acesso à água potável, aproximando-se de estados com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como Coréia do Sul (92%) e Cuba (91%).

Contudo, em relação ao saneamento básico, os números do Brasil são piores, com 75% da população tendo coleta de esgoto, valor menor do que Paraguai e México, por exemplo.

De qualquer forma, o relatório avalia como positivos os indicadores do Brasil entre 1990 e 2004 e elogia o estado do Ceará como um dos mais bem-sucedidos na gestão de recursos hídricos.

Perda de PIB

Por causa do déficit de infra-estrutura em saneamento básico, a África subsaariana, segundo o documento, perde cerca de 5% do seu PIB, muito mais do que a região recebe em ajuda internacional.

Para os autores do relatório, apesar das conseqüências devastadoras, a crise da água potável não tem o apelo e a capacidade de chamar a atenção dos líderes mundiais como, por exemplo, uma guerra ou um desastre natural.

"Assim como a fome, se trata de uma emergência silenciosa que recai sobre os mais pobres e é tolerada por aqueles que têm recursos, tecnologia e poder político para buscar uma solução", afirma o relatório.

"Quando se trata de saneamento básico e água, o mundo tem um excesso de debate e uma carência de ações práticas", afirmou Kevin Watkins, um dos autores do relatório de Desenvolvimento Humano de 2006.

"A resolução da crise da água e do saneamento poderia constituir o próximo grande passo em frente da humanidade", disse Watkins.

Investimento de 1% do total

Entre as sugestões feitas pelo estudo está o emprego de 1% do PIB mundial para investimento em água e saneamento, com o propósito final de fazer com que a água passe a ser um direito básico de fato, além de delinear novas estratégias e aumentar a quantidade de ajuda internacional.

No mundo, cerca de 1,1 bilhão de pessoas não têm acesso à água tratada, e por volta de 2,6 bilhões não têm instalações básicas de saneamento, com a maioria dessa população vivendo na África e na Ásia.

O estudo do PNUD avalia que cada pessoa deveria ter disponíveis ao menos 20 litros de água para consumo, por dia. Nos países em desenvolvimento, cada pessoa tem, em média, metade dessa quantia, e, nos Estados Unidos, se estima que só na água usada em descargas chegue-se a usar cerca de 50 litros diários por pessoa.

Água cara para os mais pobres

Uma das grandes perversidades do sistema, de acordo com o estudo, é que justamente as populações de localidades mais pobres são as que têm de desembolsar uma quantia maior pelo uso de água.

Segundo o estudo do PNUD, as classes mais baixas pagam entre cinco a dez vezes mais pela água que recebem do que as de áreas mais ricas. As pesquisas mostraram que regiões pobres de cidades como Acra, capital de Gana, e Manila, capital filipina, pagam mais caro do que cidades como Londres, Nova York e Paris.

Conforme explica o estudo, na casa de uma família pobre em El Salvador ou na Nicarágua, o gasto com água gira em torno dos 10% da renda familiar, enquanto no Reino Unido, essa despesa não consome mais do que 3% dos ganhos.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre água potável

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