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13/11/2006 - 13h20

Para ONU, coleta de chuva pode amenizar falta de água

PAULO CABRAL
da BBC Brasil, em Nairóbi

Um relatório divulgado nesta segunda-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o Centro Mundial de Agroflorestamento diz que tecnologias baratas para coleta de chuva podem ajudar a resolver os problemas de abastecimento de água em diversas comunidades.

"Desde sempre a humanidade coletou água da chuva para conseguir sobreviver neste planeta, mas atualmente não costumamos levar este recurso a sério como uma alternativa para resolver nossos grandes problemas de água. Este estudo mostra que o recurso é muito importante", disse o subsecretário-geral da ONU e diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner.

O estudo apresentado na Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas na capital queniana, Nairóbi, se concentra principalmente no potencial de coleta de águas da chuva no continente africano.

"Há escassez de água na África e a coleta da chuva seria suficiente para atender as necessidades de toda a população com muita folga", afirma o relatório. "A crise de água na África é mais um problema de falta de investimento do que verdadeira falta deste recursos."

Mas o Pnuma observa que o potencial não é limitado apenas ao continente africano e entre os programas destacados pela instituição está o brasileiro Um Milhão de Cisternas, que prevê a construção em cinco anos de reservatórios nas regiões semi-áridas do Brasil.

Investimento

O principal atrativo dos projetos da captação de chuva é o custo baixo, principalmente se comparado aos altos investimentos em infra-estrutura de água nos grandes centros urbanos do mundo.

"Há muitos investimentos sendo feitos atualmente, mas as populações mais necessitadas, que precisam mais desses recursos, não vão ser beneficiados por eles porque são projetos para atender populações dos grandes centros urbanos", diz Steiner.

A coordenadora de programas do Pnuma no Quênia, Elizabeth Kakha, diz que, no caso dos projetos de captação de água, o custo pode ser simplesmente o de cavar um pequeno açude e construir um tanque de cimento.

"Com um investimento de US$ 30 a US$ 70, é possível construir aqui na África um tanque para armazenas 1 mil litros de água da chuva", disse Kakha.

Comunidades

Algumas experiências promissoras de captação de água da chuva já estão funcionando no Quênia.

Agnes Massani, de uma pequena vila a cerca de 40 minutos de Nairóbi, participa da conferência da ONU na capital para contar que o uso da água da chuva na comunidade dela já tem grande impacto positivo sobre a vida das pessoas.

"Antes, nós tínhamos que andar duas horas até o ponto onde era possível pegar água e agora, com a coleta da chuva na própria vila, a água está disponível todo o tempo ali mesmo", descreve.

Massani conta que a qualidade da água consumida pela comunidade também aumentou muito.

"Antes, tínhamos que beber uma água meio esverdeada e agora temos água pura da chuva. Percebemos que as crianças estão com saúde muito melhor agora e que elas melhoraram seu aproveitamento escolar", diz.

Ela observa que, na comunidade dela, os investimentos foram feitos em conjunto e a água captada pertence e é usada por toda a vila.

Donos da chuva

Archi Steiner diz que "felizmente a água caindo do céu não tem dono e, nos países ricos, a tendência é de que as pessoas captem a água, por exemplo, no telhado de suas casas e a utilizem".

"Em comunidades mais pobres, o investimento para captar a água pode ter que ser comunitário e, portanto, a posse do recurso também é", disse Steiner.

O conceito de que ninguém pode impedir a coleta de água da chuva ou se declarar proprietário dela pode parecer óbvio para muitos, mas o tema já provocou controvérsias.

Em 2000, o sistema de águas de Cochabamba, na Bolívia, foi privatizado e comprado pela empresa americana Bechtel.

Uma das cláusulas do contrato assinado com a corporação impedia os moradores da região de coletarem água da chuva para uso próprio, uma vez que todos os recursos hídricos tinham passado para a posse da Bechtel.

Violentos protestos de rua ocorreram em seguida e, na repressão, um jovem ativista de 17 anos de idade acabou morto pela polícia.

O governo boliviano defendeu até o fim a posição da Bechtel, mas, depois de toda a publicidade negativa em torno do assunto, a empresa decidiu voluntariamente abandonar o negócio.
 

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