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21/11/2006 - 08h25

Morte de brasileiro expõe violência no Timor Leste

da BBC Brasil

A morte do missionário brasileiro Edgard Gonçalves Brito, no domingo, voltou a expor a situação de crescente violência no Timor Leste. "Agora ficou patente que a questão da segurança está saindo de controle e que os atos de vandalismo estão ficando mais graves", afirmou o embaixador do Brasil no país, Antônio Souza e Silva, em entrevista à BBC Brasil.

"A ONU está muito preocupada (com a violência). Dos cerca de 1.600 policiais previstos, mil já chegaram ao país", disse Souza e Silva, por telefone, de Díli, a capital do Timor Leste.

Brito, que era missionário da Igreja Assembléia de Deus, foi o primeiro estrangeiro morto no país desde abril, quando a demissão de 600 soldados que reclamavam de discriminação étnica dentro das Forças Armadas provocou uma onda de violência que já matou mais de 30 pessoas.

"Não há nenhum indício de crime personalizado contra ele ou estrangeiros", afirmou o embaixador.

Souza e Silva disse que o missionário foi atacado por gangues de jovens que cercaram o seu carro na noite de domingo.

Brito foi atingido por uma lança, que provocou um ferimento entre o pescoço e o ombro, e morreu a caminho do hospital. Ele estava acompanhado da irmã, que também é missionária no Timor Leste.

"A falta de policiamento na cidade está permitindo que grupos de jovens criem essa situação de vandalismo", afirmou o embaixador. "Todos os dias há dois, três, quatro conflitos. Carros passam e são atingidos por pedras. Eles atacam os campos de refugiados."

Missão da ONU

Os conflitos registrados no Timor Leste desde abril - os mais graves desde a luta pela independência da Indonésia, em 1999 - provocaram a renúncia do primeiro-ministro, Mari Alkatiri, que foi substituído em julho pelo ganhador do Nobel da Paz José Ramos-Horta. Os confrontos também motivaram o envio de uma nova força da paz das Nações Unidas para o país, formada por policiais.

Segundo o embaixador, os confrontos se dão principalmente entre gangues formadas por jovens, muitos deles ligados a grupos praticantes de lutas. "É resultado do vandalismo, da pobreza, da falta do que fazer."

Milhares de pessoas foram obrigadas a deixar suas casas fugindo da violência. Conforme Souza e Silva, há atualmente 25 mil pessoas vivendo em campos de refugiados. "Esse número já chegou a 80 mil", afirmou.

De acordo com o embaixador, a missão da ONU terá um efetivo de 1608 policiais, sendo quatro brasileiros. Os dois principais objetivos dessa força de paz são tentar restabelecer o controle do sistema de segurança pública do país e reestruturar a polícia timorense, que "desapareceu quando começaram os primeiros incidentes", segundo Souza e Silva.

Sepultamento no Brasil

Brito, 27 anos, era um dos cerca de cem missionários brasileiros que atuam no Timor Leste. Segundo o embaixador, a população total de brasileiros no país oscila entre 140 e 160 pessoas. Além de missionários, há funcionários da embaixada, da ONU, juristas e professores.

O primeiro-ministro, José Ramos-Horta, divulgou uma declaração oficial lamentando a morte do brasileiro, que vivia no país havia cerca de dois anos e trabalhava em uma escola de português para alfabetização de crianças no interior.

Conforme o comunicado do primeiro-ministro, as autoridades iniciaram uma investigação imediata para esclarecer o crime.

"A reação da comunidade brasileira é de perplexidade com a morte de um homem que dedicava sua vida a ajudar os outros e foi assassinado com essa brutalidade", afirmou o embaixador.

Segundo ele, a família do missionário deseja que o sepultamento seja realizado no Brasil. "Estamos vendo a melhor maneira de transportar o corpo, se via Austrália ou Indonésia", disse o embaixador.
 

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