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27/11/2006 - 12h30

Análise: Eleição tenta romper com passado no Equador

DANIEL SCHWEIMLER
da BBC Brasil, em Quito

O povo do Equador falou e falou alto.

Quando todos esperavam um resultado equilibrado no segundo turno da eleição presidencial, o que ocorreu foi uma vitória folgada do economista de esquerda Rafael Correa.

Ele venceu facilmente o adversário de direita e homem mais rico do país, Álvaro Noboa – mesmo nas regiões costeiras onde pensava-se que Correa não tinha tantos eleitores.

Com um doutorado por uma universidade americana, o economista poliglota e guitarrista impressionou muito com sua energia juvenil e seu entusiasmo demonstrados durante a campanha.

Mas Correa é politicamente inexperiente e lidera um novo movimento político sem representação no Congresso.

Mudança radical

Ao que parece, o povo do Equador quer a mudança radical prometida por Correa, a "revolução dos cidadãos" para derrubar o que ele chama de instituição governante desacreditada – uma instituição que produziu oito presidentes nos últimos dez anos.

Correa, que foi ministro da Economia por um breve período no governo do presidente interino Alfredo Palacio, quer garantir que uma fatia maior da riqueza do Equador vá para os muitos pobres do país, e que mulheres e grupos indígenas sejam melhor representados na sociedade equatoriana.

O economista deseja reverter processos migratórios que levam centenas de milhares de pessoas à Europa e aos Estados Unidos em busca de uma vida melhor.

Ele é conhecido por suas opiniões fortes a respeito do relacionamento com os Estados Unidos: chamou o presidente George W. Bush de "estúpido", disse que não vai assinar um acordo de livre comércio com os americanos, e quer o fechamento de uma base militar dos Estados Unidos em território equatoriano.

Mas há seis anos o Equador adotou o dólar americano como a moeda oficial do país e é difícil não ser amigável com os Estados Unidos quando as notas usadas todos os dias pela população levam retratos de Abraham Lincoln e George Washington.

Esta deve ser a razão que pode levar Rafael Correa a tentar colocar certa distância entre ele e seu amigo, o presidente radical da Venezuela e crítico dos Estados Unidos, Hugo Chávez.

Correa declarou que não será influenciado por Chávez, e que vai tentar ser mais amigável com todos os países da região, incluindo os Estados Unidos.

Temor

Já Álvaro Noboa é conhecido dos equatorianos: tentou três vezes a Presidência e nunca conseguiu. Mas ninguém o acusa de não se esforçar nas campanhas.

Noboa cruzou o país várias vezes carregando uma Bíblia, entregando computadores de presente, cadeiras de roda e medicamentos. Prometeu criar empregos, construir casas e aumentar salários.

"Como Cristo, tudo o que quero é servir para que os pobres tenham casas, saúde, educação e empregos", disse.

O empresário é proprietário de mais de cem companhias, tem amigos em Washington e o apoio de uma base forte na comunidade empresarial na cidade costeira de Guayaquil.

Noboa tentou convencer os eleitores de que iria aplicar a astúcia empresarial que deu a ele tanta riqueza. Também tentou assustar eleitores, afirmando que seu adversário seria um marionete do presidente Chávez.

Mas os eleitores pareciam mais preocupados com o fato de que Noboa poderia representar um político do velho estilo da América Latina, um modelo que cansou os eleitores nos últimos anos.

A consultoria independente Centro para Pesquisa Econômica e Política, baseada em Washington, afirmou em um relatório que "o fator medo foi uma estratégia importante da direita nas eleições da América Latina em 2006".

"Mas não há razão para imaginar que o resultado destas eleições vai afetar de forma adversa a economia do Equador, independente de quem vença."

Falta de entusiasmo

O voto é obrigatório no Equador, mas muitos dos nove milhões de eleitores foram às urnas sem entusiasmo.

Uma mulher do lado de fora de um local de votação em Quito afirmou: "O vencedor deve fazer aquilo que prometeu. Estamos na confusão atual por causa disso - eles prometem muito durante a campanha. Quando chegam ao poder eles esquecem tudo, tudo".

"Primeiro queremos alguém que cumpra o prometido - alguém super honesto, homem de palavra, alguém que possamos respeitar como presidente. Com todos os problemas que o Equador teve em todos estes anos, não acredito em mais ninguém", disse Manuel, engraxate no centro colonial de Quito.

O Equador, com sua riqueza em petróleo e banana, deveria estar melhor. Anos de corrupção e falhas na administração deixaram o país instável política e economicamente.

Três destes presidentes foram retirados do poder depois de manifestações violentas da população, incluindo o último líder eleito, Lucio Gutierrez.

Agora, o povo do Equador aposta em Correa. Como os métodos antigos falharam, a população parece tentar uma nova forma de administrar o país.
 

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