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01/12/2006 - 09h30

Vargas Llosa quer Lula mais próximo do Chile do que de Chávez

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

O escritor peruano Mario Vargas Llosa diz esperar que em seu segundo mandato o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adote políticas mais próximas das seguidas pela presidente do Chile, Michelle Bachelet, do que das adotadas pelo líder venezuelano, Hugo Chávez.

"Ele (Lula) fez coisas muito positivas, tendo em vista que veio de uma esquerda radical, marxista. Mas no poder atuou com moderação. Seguindo uma linha social-democrata. Esperemos que siga assim, aberto ao mundo e apoiando investimentos internacionais, se espelhando no Chile, onde há uma esquerda muito responsável, que passou do socialismo à social democracia."

De acordo com Vargas Llosa, Lula precisa, no entanto, se distanciar de Chávez. Mas acrescenta que "em termos de retórica, Lula não se atreve a fazê-lo. Ele vive fazendo declarações de simpatia e amor a Chávez. Mas grave mesmo seria se ele copiasse as suas políticas. Tomara que continue a não fazê-lo. Mas é uma contradição declarar sua solidaderiedade a Chávez e seguir coisas completamente opostas às que ele faz".

Os comentários do autor de livros como Tia Júlia e o Escrivinhador e A Guerra do Fim do Mundo foram feitos à BBC Brasil em Washington, na sede do Cato Institute, uma entidade de pesquisas americana que defende princípios neo-liberais.

Vargas Llosa fez o discurso de encerramento do evento realizado na sede do instituto nesta quinta-feira, intitulado América Latina: Entre o Populismo e a Modernidade .

Conversão

Vargas Llosa já concorreu à presidência peruana, mas foi derrotado por Alberto Fujimori, em 1990. Na juventude, ele seguiu ideiais de esquerda e apoiou causas como a Revolução Cubana, mas há décadas se converteu ao neo-liberalismo.

No entender do autor, apoiar a entrada de investimentos internacionais e ser "aberto ao mundo é algo que qualquer um com um pouco de lucidez sabe ser o caminho do desenvolvimento. E seguramente não há outro".

O autor se entusiasma pelo modelo chileno porque diz que "é uma esquerda moderna, que se espelhou no socialismo espanhol, no trabalhismo britânico".

O escritor diz não estar plenamente satisfeito, no entanto, com o líder da Argentina, Néstor Kirchner. "Ele está em uma terra de ninguém. Ora oscila entre o populismo, ora atua com maior responsabilidade. É difícil defini-lo. Não tem uma política muito coerente. Não se pode dizer que a economia da Argentina vá mal, mas poderia ir melhor. Se há uma país que deveria ir não apenas bem, mas muito bem, é a Argentina, devido a seus extraordinários recursos."

Mas ele reserva suas maiores restrições aos modelos adotados por Cuba e Venezuela. "Espero que os governos eleitos de esquerda não sigam Cuba ou a Venezuela, porque isso seria catastrófico para seus países. Tomara que sigam o Chile, o Brasil ou o Uruguai. Que se mirem em Lula, não em Chávez."

O autor acredita, no entanto, que líderes como o presidente eleito da Nicarágua, Daniel Ortega, e Rafael Correa, no Ecuador, já sinalizaram que não adotarão uma agenda radical de esquerda.

"Desde que foi eleito, Correa adotou um tom bem menos virulento, e Ortega já está buscando empresários, dando-lhes todas as garantias e até se converteu ao catolicismo, se tornou um conservador mais radical do que o cardeal Obando", ironiza, mencionando o célebre clérigo nicaragüense Miguel Obando Bravo, que se opôs ao regime sandinista na década de 80.

México

Em relação a Felipe Calderón, que toma posse nesta sexta-feira como presidente do México, Vargas Llosa comenta ter "muita esperança de que ele dê continuidade à modernização do México".

O peruano acredita que "ele não fez demagogia. Parece ser um liberal, mas ao mesmo tempo tem grande consciência das enormes dificuldades sociais vividas por seu país".

O autor reserva uma avaliação bastante negativa a respeito do candidato de esquerda derrotado na votação, segundo as apurações oficiais, Manuel López Obrador. O candidato de esquerda não reconheceu a vitória de Calderón e exigiu uma recontagem.

"Sua maneira de proceder o debilitou enormente. Muitos se decepcionaram com sua conduta pouco democrática, de tentar impor a política das ruas. Tenho esperanças que ele irá se enfraquecer cada vez mais e que tudo que fez seja visto como uma enorme palhaçada."

Ainda que seja um conservador, Vargas Llosa se opõe a uma das principais plataformas defendidas pelas facções mais à direita do Partido Republicano nos Estados Unidos: a construção de um muro na fronteira com o México.

"O muro é um disparate total. O que me tranqüiliza é que ele nunca será construído. É uma ficção política. Os próprios políticos que o aprovaram colocaram uma cláusula nos termos de sua construção dizendo que os Estados poderão usar a verba da construção para investir em infra-estrutura, que é o que irá acontecer."

"É preciso condenar este muro, porque os Estados Unidos são um país de imigrantes. Que prometeu aos que vieram aqui o direito à felicidade. A diversidade de nacionalidades que povoaram este país é sua maior riqueza."
 

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