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04/12/2006 - 22h40

Venezuela vive advento de ditadura, diz ex-secretário dos EUA

BRUNO GARCEZ
da BBC Brasil, em Washington

O ex-secretário assistente para o Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado americano, Roger Noriega, diz que Hugo Chávez foi eleito em um processo pouco democrático e acredita que, sob Chávez "veremos o advento de uma ditadura, até que o povo da Venezuela diga basta".

O ex-secretário exerceu seu cargo no Departamento de Estado entre 2003 e 2005 e não poupa críticas ao líder venezuelano desde então.

Noriega, ligado à facção mais à direita do Partido Republicano, foi um dos formuladores da Lei Helms-Burton, que endureceu o embargo de mais de 40 anos contra Cuba. Atualmente, ele é pesquisador do instituto de pesquisas neo-liberal American Interprise Institute e consultor de um escritório de advocacia.

No entender de Noriega, a eleição deste domingo, na qual Chávez foi reeleito para um mandato de seis anos, "esteve longe de ser democrática, justa e transparente". Ele acredita que a "situação da democracia na Venezuela tende a piorar, com mais ameaças às instituições democráticas do país".

Ele tampouco crê que possa haver qualquer melhora na relação entre Estados Unidos e Venezuela. "O único truque na manga de Chávez é desafiar os Estados Unidos. Ele se define como um opositor da política americana. Se fosse ter uma relação normal com o país, isso arruinaria sua credibilidade."

Noriega frisa, no entanto, que há um forte contraste entre a relação mantida pelos Estados Unidos com o presidente venezuelano e os laços que o país mantém com outras lideranças latino-americanas, entre elas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Os Estados Unidos têm excelentes relações por toda a região, como com Lula, Tabaré Vasquez, do Uruguai, e Michelle Bachelet, no Chile."

Mas Noriega acredita que com Chávez é diferente "porque ele mina a democracia em seu próprio país e na região, ao interferir em assuntos de outras nações."

Retórica

Segundo o ex-secretário, a dura retórica de Chávez em relação aos Estados Unidos também não deverá mudar, mas afirma que o tom dos Estados Unidos foi mais ameno do que o adotado pelo líder da Venezuela.

"Não acho que a retória americana tenha sido marcada pela raiva, em especial nos últimos 18 meses. Nem mesmo por parte do presidente Bush, que nem sequer menciona o nome de Chávez. Foi Chávez quem optou por esse tipo de provocação e retórica. Os Estados Unidos optaram por ignorá-lo."

O tom ameno que Noriega vê no discurso americano não esteve presente em fevereiro deste ano, quando o secretário de Defesa americano Donald Rumsfeld comparou Chávez a Adolf Hitler.

De acordo com o ex-secretário, os Estados Unidos não devem endurecer o tom com o líder de Venezuela, mas devem expressar de forma clara seus temores em relação a medidas tomadas por Chávez.

"A resposta dos Estados Unidos não deve se dar por retórica, nem por ataques pessoais. Mas o governo americano precisa expressar sua preocupação com o risco do surgimento de uma nova ditadura na América Latina."

Temores

Esse não é, no entanto, o único temor que os EUA devem expressar em relação a Chávez, no entender de Noriega.

"É preciso estar atento à sua associação com o Irã e seu interesse em energia nuclear. Seu apoio a organizações guerrilheiras, sua escassa vontade de combater cartéis de drogas e a compra que fez de armas russas, que poderão acabar nas mãos da guerrilha."

Na visão do ex-secretário, o suposto intervencionismo de Chávez em outros países da região e o tom áspero adotado em relação aos Estados Unidos "não conta com muito apoio na região", mas ele acredita que os países latino-americanos "não querem uma confrontação direta com ele e deixam todo o trabalho pesado para os Estados Unidos, quando se trata de combater a ameaça que ele representa para a segurança da região".

Roger Noriega não crê, no entanto, que as relações comerciais entre Estados Unidos e Venezuela venham a se deteriorar. "Os Estados Unidos são o maior parceiro comercial da Venezuela e por isso é irônico que ele não queira que ninguém na região assine acordos de livre comércio com os americanos. Se ele for encerrar essa relação, seria um suicídio político."

Posição oficial

Sean McCormack, um representente do Departamento de Estado americano, disse nesta segunda-feira que os Estados Unidos esperam ter "uma relação construtiva e positiva com o governo da Venezuela".

De acordo com McCormack, "naturalmente, quando você vê um pouco da retórica (de Chávez), isso pode tornar as coisas um pouco difíceis, em termos da relação. Mas isso não impede que trabalhemos juntos, ao menos da nossa perspectiva".

O representante do Departamento de Estado diz que o governo americano tem trabalhado com sucesso com a Venezuela de Chávez em algumas áreas e destacou o combate ao narcotráfico como exemplo dessa colaboração.
 

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