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12/01/2007 - 11h26

Albânia vira refúgio para libertados de Guantánamo

NEIL ARUN
da BBC, em Tirana

Os ex-suspeitos de terrorismo dos Estados Unidos estão seguindo para uma nova vida como refugiados na Albânia.

A pobre nação no leste da Europa se tornou o novo destino para uma categoria especial de prisioneiro --homens que os EUA acreditam ser correto libertar, mas que há riscos em sua repatriação.

Já foi arranjado asilo na Albânia para oito ex-detentos do presídio americano em uma base do país na Baía de Guantánamo, em Cuba. As autoridades americanas acreditam que eles poderiam ser submetidos a tortura se enviados de volta para seus países.

Esta transferência de ex-prisioneiros marca uma nova tendência na "guerra contra o terror".

Especialistas dizem que o mesmo poderá acontecer com dezenas de homens que serão libertados em breve de Guantánamo por causa da preocupação americana com direitos humanos em seus países de origem.

Entre eles, de acordo com o advogado especializado em direitos humanos Clive Stafford Smith, estão cidadãos do Uzbequistão, Argélia, Tunísia, Egito e Líbia.

Smith, que realizou uma campanha para a libertação de vários prisioneiros em Guantánamo, disse que decidir o destino de tais prisioneiros "é um grande obstáculo para o fechamento do campo (de prisioneiros em Guantánamo)".

Até agora, diz ele, "a Albânia foi o único lugar disposto a recebê-los".
O advogado argumenta que a maioria dos países deveria assumir a responsabilidade de reabilitar detentos libertados de Guantánamo que são, na prática, refugiados.

Sua opinião coincide com a do governo dos EUA que, no entanto, discorda de Smith em muitos outros aspectos ligados aos direitos dos detentos.

O vice-diretor para crimes de guerra do Departamento de Estado americano critica a aparente hipocrisia de países que dizem que Guantánamo é ilegal mas se recusam a ajudar na reabilitação de seus ex-prisioneiros.

"Todos se adiantam em criticar e pedem o fechamento de Guantánamo", disse Sandy Hodgkinson, mas poucos países oferecem "alternativas confiáveis em casos difíceis de direitos humanos".

Cerca de cem países rejeitaram pedidos dos EUA para conceder asilo a suspeitos libertados antes de a Albânia ter se apresentado, afirmou Hodgkinson.

Estória estranha

Adil Abdul Hakim foi um dos primeiros a chegar à Albânia.
Seu contato com os militares americanos começou no campo de batalha do Afeganistão e terminou, quatro anos depois, na Albânia.

Ele tinha quase 30 anos quando entrou em Guantánamo, e deixou a prisão no ano passado, aos 32 anos, e com saudades de casa.

De sua nova casa no leste da Europa, ele telefonou para a família que deixou para trás no oeste da China. Não conversavam desde que ele foi encarcerado.

"Nós não conseguimos conversar", disse Adil. Na primeira ligação, "eles ficaram tentando falar, mas tudo o que eu ouvia era choro."

Adil é um dos cinco ex-detentos de Guantánamo originários da província de Xinjiang, na China, a viver em um país milhares de quilômetros longe de casa, com língua e costumes diferentes.

Sua história, embora estranha, não é mais uma anomalia. Desde sua chegada, no ano passado, a Albânia também aceitou ex-detentos originários de Egito, Argélia e Uzbequistão.

Tortura

Os cinco homens de Xinjiang são uigures --de religião islâmica e língua de origem turca, diferentemente da maioria dos chineses.

Tendo trazido os homens do Afeganistão, os militares americanos decidiram, mais tarde, que eles "não eram mais combatentes inimigos" e não representavam ameaça aos EUA.

Os uigures se consideram etnicamente distintos dos chineses.
Os militares decidiram que os homens precisavam ser libertados --mas isto apresentava novos problemas.

A China os considera militantes separatistas e exige que os EUA enviem os homens para o país para que sejam indiciados.

O Departamento de Estado americano disse que eles poderão ser torturados se enviados para a China e tentaram encontrar um novo país para recebê-los.

"A posição dos EUA é clara --nós não vamos enviar indivíduos para lugares onde acreditamos que é mais do que possível que eles sejam torturados", disse Hodgkinson.

Na metade de 2006, a Albânia concordou em receber os cinco homens como refugiados. Os Chineses ficaram furiosos e seu embaixador em Tirana repreendeu os albaneses.

Especial
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