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24/01/2007 - 17h30

Análise: Bush faz discurso solene para um país que não escuta sua mensagem

CAIO BLINDER
da BBC Brasil, em Nova York

Uma imagem vale mais do que todas as palavras do presidente. No seu solene discurso anual sobre o Estado da União, na terça-feira à noite, George W. Bush tinha atrás de si, como em seis pronunciamentos anteriores, o vice-presidente, presidente do Senado e seu guarda-costas político Richard Cheney e, mais sintomaticamente, a nova presidente da Câmara, Nancy Pelosi.

Momento histórico: pela primeira vez, uma mulher preside a Câmara e, pela primeira vez, no governo do republicano Bush os democratas controlam o Congresso.

Mais do que conviver com a maioria de outro partido no Congresso (o que, como lembrou Bush, já aconteceu e acontecerá outras vezes), o presidente que discursou na terça-feira é um político isolado e enfraquecido. O país deixou de escutar um presidente que tampouco gosta de ouvir. O discurso não abriu muito espaço para o diálogo.

Bush tem o apoio de 1/3 dos americanos. Quando fez seu primeiro discurso sobre o Estado da União, em 2002, sua taxa de aprovação era de 84%. Isto é o que se chama desperdício de capital político.

Nas últimas seis décadas, somente dois presidentes americanos, na noite de cumprir este ritual anual de anunciar suas metas de governo, estavam em condições mais precárias nas pesquisas: Harry Truman, em 1952, durante a Guerra da Coréia, e Richard Nixon, em 1974, meses antes de renunciar devido ao escândalo Watergate.

Compromisso

As imagens e a história pesam sobre Bush, mas ele ainda tem as palavras no seu púlpito. E o presidente começou o discurso saudando graciosamente "Madame Speaker" Nancy Pelosi.

Na parte substancial do discurso, Bush não começou com o assunto que provocou sua erosão política: a guerra no Iraque.

Há uma nova realidade política no país. O presidente segue em estado de negação na guerra, como na sua proposta de mandar mais soldados para o Iraque, mas na terça-feira à noite ele falou de temas populares entre os democratas (mas não necessariamente entre algumas alas republicanas) e que abrem espaço para compromisso, como energia, aquecimento do planeta, saúde e imigração.

A idéia era mostrar que o presidente ainda é revelante nos dois anos que lhe restam de mandato e tem uma influente agenda doméstica.

Bush não quer amargar o destino de Lyndon Johnson, que há 40 anos teve seus ambiciosos e nobres programas domésticos (combate à pobreza e direitos civis) ofuscados pelo desastre na guerra do Vietnã.

Entre seus planos, Bush ofereceu o que considera um caminho que leve seu país à independência energética e segurança, propondo um corte de 20% no consumo de gasolina na próxima década, o que seria possível em parte com o uso de combustíveis alternativos.

Mas, como observa o Wall Street Journal na edição desta quarta-feira, são propostas que "omitem detalhes significativos sobre como podem ser realizadas e prometem relativamente pouco dinheiro para subsidiar o que seria um importante redirecionamento dos mercados energéticos".

Sóbrio e sombrio

Mais do que isto, a energia política do país esta direcionada para o Iraque. Este é o assunto que no momento mobiliza o Congresso.

Bush, o presidente imperial, praticamente implorou ao Legislativo de maioria democrata que aceite ou pelo menos dê uma oportunidade ao seu plano impopular de despachar mais 21 mil soldados ao Iraque.

Para o presidente é um plano que irá conter a violência, mas outra urgência para a Casa Branca é conter a frustração entre as próprias tropas republicanas no Congresso.

Até "cardeais" do partido do presidente, como o senador John Warner, já defendem uma resolução não mandatória contra o envio de mais soldados ao Iraque.

No geral, faltou energia para um Bush que fez um discurso sóbrio e sombrio. Um presidente combalido ainda é combativo no seu ideário.

O discurso teve a habitual advertência que os EUA não podem tolerar um "fracasso" no Iraque e a reprise do argumento de que a guerra naquele país faz parte de um contexto mais amplo de confronto com militantes islâmicos e de um conflito ideológico entre forças moderadas e extremistas.

Imagens valem mais do que palavras. Atrás do pódio, Nancy Pelosi não aplaudiu advertências iraquianas de Bush. À frente do presidente, uma platéia de uma dúzia de congressistas que já anunciaram ou que estudam a possibilidade de brigar por seu emprego nas eleições de 2008.

Bush quer ser relevante até lá, mas a distante campanha presidencial já compete com seus discursos e ações.
 

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