Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
12/02/2007 - 15h50

Análise: Candidata socialista surpreende céticos na França

GIANNI CARTA
da BBC Brasil, em Paris

A dez semanas do primeiro turno das eleições presidenciais francesas, e em ascendente descrédito no seio de seu próprio partido, a candidata socialista Ségolène Royal surpreendeu os mais céticos: apresentou no domingo um programa bem acolhido pela esquerda moderada, bem como pela mais radical.

"É mais do que um programa, se trata de um pacto de honra, de um contrato presidencial", disse, trajando um tailleur vermelho, em perfeita sintonia com seu discurso em Villepinte, periferia de Paris, a deputada Royal, de 53 anos.

Carinhosamente chamada de Ségo, a ex-ministra do presidente François Mitterrand e do primeiro-ministro Lionel Jospin foi ovacionada com freqüência pelos 10 mil correligionários. Mostrou-se confiante, à vontade, determinada.

Uma hora antes, seu rival Nicolas Sarkozy, o ministro conservador do Interior, de 51 anos, propunha, num discurso intitulado "Novo Pacto Republicano", o fim das "divisões" ideológicas devido "aos reflexos condicionados pela educação".

O objetivo de Sarko, como é conhecido, era roubar manchetes de jornais e comentários na mídia que poderiam ser dedicados à sua rival. Ao mesmo tempo, antecipando o discurso de esquerda de Ségolène, ele quis se apresentar como o "conciliador" entre ideologias, para seduzir as esquerdas, nos escrutínios de 22 de abril e 6 de maio.

No entanto, Ségolène deixou claro o oposto: a esquerda permanece intacta. E, ao que tudo indica, a deputada socialista aglutinará as esquerdas e, por tabela, será a mais forte rival de Sarkozy.

Propostas

Ao centro do programa socialista de 100 propostas, estão a criação de empregos, programas de educação, e um aumento de 20% do salário mínimo, para 1,5 mil euros.

Em relação aos esquálidos subúrbios como Clichy-sous-Bois, de onde, em sua maioria, filhos e netos de imigrantes do norte da África iniciaram violentas insurreições que sacudiram a França, no final de 2005, Ségo, mãe de quatro filhos, disse, pela primeira vez com voz trêmula:

"Quero para as crianças nesses subúrbios o mesmo que quero para os meus filhos."

Ségolène pretende combater a exclusão social nos subúrbios reduzindo o número de estudantes por sala de aula. Estudantes com dificuldades receberão maior ajuda gratuita. Mais: a deputada socialista propõe classes para ensinar os pais desses alunos a disciplinar seus filhos.

Rendeu frutos sua estratégia de esperar para expor suas idéias até este domingo, quando apresentou seu programa. Ségolène poderá ser a primeira presidente mulher na história da França.

Durante meses, martelou que a política deveria ser repensada. Criou um website, "Désirs d’Avenir" (Desejos do Futuro), através do qual ouviu os pedidos e críticas de cidadãos de todo o país. Ouviu e leu e-mails de milhares de franceses, participou de mais de 6 mil debates. Só então formulou seu programa.

É o que Ségolène chama de "Democracia Participativa".

Tony Blair

Mas, apesar de estar fazendo um discurso de esquerda, e de estar tentando procurar novos meios de interação entre a formulação de medidas políticas baseada no desejo do povo, o programa de Ségolène apropriou-se da experiência do primeiro-ministro britânico Tony Blair.

Ségolène acredita em forjar elos com empresas que criam empregos. Ao mesmo tempo, acredita em descentralizar o Estado, demasiado burocrático, dando maiores poderes às regiões.

Perguntada, no final do ano passado, por este analista, se ela apreciava a política de Blair, Ségolène retrucou: "Algumas de suas táticas são aproveitáveis".

Já em relação à Europa, Ségolène foi clara: não quer uma Europa que seja somente uma zona de mercado livre, ligada a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A palavra chave de Ségolène, que vale para a França e Europa, é esta: solidariedade.

Ségolène, se eleita, pretende ter uma parceria com os Estados Unidos. Mas a França – e nisso ela difere de Blair – terá sua voz. "Nós vimos isso na (guerra) contra o Iraque. A voz da França não foi ouvida."
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página