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02/04/2007 - 15h28

"Populismo religioso" acelera criação de santos, diz analista

VALQUIRIA REY
da BBC Brasil, em Roma

Enquanto alguns ícones da Igreja Católica esperam até mesmo séculos para serem considerados beatos ou santos, outros passam pelas etapas do processo com muito mais rapidez.

Especialistas dizem que pressão popular, dinheiro, lobby e influência papal são fatores que ajudam a acelerar a santificação.

No caso de João Paulo 2º, centenas de fiéis poloneses pediram para que não sejam cumpridas as regras do direito canônico e o papa polonês seja considerado santo imediatamente.

"Esta aceleração contradiz a tradicional e justa cautela da igreja, que deve analisar muito bem todas as provas de santidade", diz Vincenzo Pace, presidente da Sociedade Internacional de Sociologia da Religião.

"As pessoas estão trabalhando com a lógica de que, se é evidente a santidade, deve-se optar por um atalho. Ceder desta maneira é uma forma de populismo religioso."

Influência papal

De acordo com Pace, os casos de santificações rápidas se devem à força e ao lobby da ordem religiosa a quem pertenceu o candidato a santo.

"Com Josémaria Escrivá de Balaguer, por exemplo, foi assim", afirma. "A Opus Dei conseguiu acelerar o processo de seu fundador, porque tinha muita força no pontificado de João Paulo 2º. Ele morreu em 1975, foi beatificado em 1991 e canonizado em 2002."

O papa Bento 16 estaria tendo uma influência decisiva na aceleração da beatificação de João Paulo 2º. Nesta segunda-feira, são lembrados os dois anos da morte do papa polonês. Neste dia, foi concluída oficialmente a primeira fase do processo de beatificação.

Normalmente, esperam-se cinco anos após a morte para que o processo tenha início. Com o reconhecimento de um milagre, torna-se beato. Logo em seguida, ocorrendo mais um, ele se torna santo.

Em 2005, quando o processo foi iniciado, um grupo de 13 teólogos e escritores se manifestou contrário à causa. Na ocasião, o ex-abade italiano Giovanni Franzoni alegou que as perseguições aos defensores da Teologia da Libertação e os casos de padres que abusaram sexualmente de mulheres e crianças sem qualquer punição do papa deveriam ser levados em consideração na discussão da sua santidade.

"A Polônia tem pressa, o cardeal da Cracóvia Stanislao Dziwisz, também. Um santo muda a imagem de um país", diz Onorato Bucci, professor de Direito Canônico da Universidade Lateranense de Roma.

"Cabe ao papa dizer quanto tempo ele quer esperar. Além de pontífice, ele é o legislador, quem assina todos os documentos do Vaticano."

Bucci também espera que o papa seja sensato. Mesmo que apresse a beatificação, acredita que seria mais razoável aguardar o tempo necessário para a santificação.

Valor

O dinheiro também acelera os processos de beatificação. Quando os documentos começam a tramitar pela burocracia de Roma, as congregações precisam de dinheiro para pagar viagens dos postulantes da causa à Itália, os gastos com peritos na comprovação dos milagres e a confecção de documentos.

No caso da Madre Paulina, primeira santa do Brasil, canonizada em 2002, grande parte dos US$ 100 mil gastos no processo foram doados por fiéis italianos.

"O retorno é bom para a cidade e para o país do santo", afirma Pace.
Quantia semelhante também foi necessária para o processo do Frei Galvão (1739-1822), que deve ser canonizado em São Paulo no dia 11 de maio pelo papa Bento 16.

Desde o anúncio da santificação, o comércio de produtos relacionado ao frei brasileiro tem crescido muito, o que justificaria o interesse polonês na santificação de João Paulo 2º.

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre João Paulo 2º
  • Leia o que já foi publicado sobre a visita do papa ao Brasil
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