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12/05/2007
-
10h41
da BBC, de Brasília
Analistas ouvidos pela BBC Brasil divergem sobre os resultados da visita do papa Bento 16 ao Brasil e se ela será capaz de influenciar o comportamento dos brasileiros daqui para a frente.
Paulo Daniel Farah, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), acha que um dos efeitos da visita será levar a Igreja para o centro dos debates sobre temas que interessam aos católicos atualmente --como a educação sexual, o aborto, o uso da camisinha, o casamento de homossexuais, as pesquisas com embriões e a eutanásia.
"O papa conseguiu envolver a sociedade em discussões polêmicas, como o aborto, e marcar a posição da igreja nesta discussão", afirmou.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha reafirmado o caráter laico do Estado brasileiro, Farah acha que a visita deixa claro que a Igreja quer ser ouvida nessas questões.
"Quando ela traz este debate à tona, tem um grande ganho. Deixa bem claro aos católicos qual é sua posição e como eles devem se posicionar quando forem chamados a participar das decisões", disse. "A posição da Igreja passa a ser levada em conta."
"Influência limitada"
O sociólogo Luiz Alberto Gomez, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, acha que a visita não provoca nenhuma mudança substancial na relação da igreja com o Estado.
"O papa não veio aqui fazer política ou pressões políticas", afirma Gomez. "A igreja não faz política, a Igreja dá princípios éticos, que iluminam a discussão política", diz ele.
Gomez vê uma influência muito limitada da igreja nas decisões políticas do governo brasileiro. "Durante muito tempo, parecia que a Igreja iria impedir a aprovação do divórcio, e o divórcio passou", exemplifica.
"Há uma defasagem entre a doutrina e a prática. A doutrina é rígida, e a prática é bem mais flexível. Por exemplo, o uso da camisinha é uma prática comum. A prática vai avançando e a própria doutrina vai avançando", afirma.
Erro tático
Já o debate sobre o aborto foi levantado de maneira inoportuna pelo ministro da Saúde, José Ramos Temporão, na avaliação dele.
"Foi um erro tático dos que são favoráveis à descriminação lançar justo no momento da visita do papa. Deveriam ter esperado um momento mais tranqüilo", afirmou.
A socióloga Lucia Ribeiro, pesquisadora do Iser-Assessoria --uma ONG que desenvolve atividades para igrejas cristãs e outras organizações --acha que, apesar da laicidade do Estado brasileiro, a Igreja "tem um peso enorme e vai tentar influenciar as decisões".
"A Igreja tem uma função importante no sentido de apontar valores éticos que são valores humanos e atingem não só seus fiéis, mas todos os seres humanos", diz ela.
Ela acredita que o Estado e a igreja no Brasil estão em sintonia, no momento, na prioridade aos pobres e na busca de justiça social
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Analistas divergem sobre herança da visita do papa
DENIZE BACOCCINAda BBC, de Brasília
Analistas ouvidos pela BBC Brasil divergem sobre os resultados da visita do papa Bento 16 ao Brasil e se ela será capaz de influenciar o comportamento dos brasileiros daqui para a frente.
Paulo Daniel Farah, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), acha que um dos efeitos da visita será levar a Igreja para o centro dos debates sobre temas que interessam aos católicos atualmente --como a educação sexual, o aborto, o uso da camisinha, o casamento de homossexuais, as pesquisas com embriões e a eutanásia.
"O papa conseguiu envolver a sociedade em discussões polêmicas, como o aborto, e marcar a posição da igreja nesta discussão", afirmou.
Embora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha reafirmado o caráter laico do Estado brasileiro, Farah acha que a visita deixa claro que a Igreja quer ser ouvida nessas questões.
"Quando ela traz este debate à tona, tem um grande ganho. Deixa bem claro aos católicos qual é sua posição e como eles devem se posicionar quando forem chamados a participar das decisões", disse. "A posição da Igreja passa a ser levada em conta."
"Influência limitada"
O sociólogo Luiz Alberto Gomez, diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, acha que a visita não provoca nenhuma mudança substancial na relação da igreja com o Estado.
"O papa não veio aqui fazer política ou pressões políticas", afirma Gomez. "A igreja não faz política, a Igreja dá princípios éticos, que iluminam a discussão política", diz ele.
Gomez vê uma influência muito limitada da igreja nas decisões políticas do governo brasileiro. "Durante muito tempo, parecia que a Igreja iria impedir a aprovação do divórcio, e o divórcio passou", exemplifica.
"Há uma defasagem entre a doutrina e a prática. A doutrina é rígida, e a prática é bem mais flexível. Por exemplo, o uso da camisinha é uma prática comum. A prática vai avançando e a própria doutrina vai avançando", afirma.
Erro tático
Já o debate sobre o aborto foi levantado de maneira inoportuna pelo ministro da Saúde, José Ramos Temporão, na avaliação dele.
"Foi um erro tático dos que são favoráveis à descriminação lançar justo no momento da visita do papa. Deveriam ter esperado um momento mais tranqüilo", afirmou.
A socióloga Lucia Ribeiro, pesquisadora do Iser-Assessoria --uma ONG que desenvolve atividades para igrejas cristãs e outras organizações --acha que, apesar da laicidade do Estado brasileiro, a Igreja "tem um peso enorme e vai tentar influenciar as decisões".
"A Igreja tem uma função importante no sentido de apontar valores éticos que são valores humanos e atingem não só seus fiéis, mas todos os seres humanos", diz ela.
Ela acredita que o Estado e a igreja no Brasil estão em sintonia, no momento, na prioridade aos pobres e na busca de justiça social
Folha/Arte/Folha |
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