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13/05/2007 - 10h32

Papa tenta em Aparecida influenciar igreja latino-americana

VALQUÍRIA REY
DANIEL GALLAS
CAROLINA GLYCERIO
da BBC Brasil, em Roma e Aparecida

O papa Bento 16 abre neste domingo a 5ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe (Celam), em Aparecida (SP), buscando dar um rumo mais alinhado a sua visão para a Igreja da região e reafirmar o compromisso de seu pontificado com os valores tradicionais do catolicismo.

Acompanhe ao vivo a visita do papa Bento 16 ao Brasil em tempo real na Folha Online.

Um dos motivos da viagem do pontífice tem sido alertar os líderes da Igreja na América Latina para o crescimento de outras religiões no continente e chamar os católicos a reagir a este movimento.

A expectativa é de que o discurso de Bento 16 na conferência, que se estenderá até 31 de maio, seja tão importante para o catolicismo latino-americano quanto a visita do papa. Da reunião de bispos latino-americanos, sairão as diretrizes para a ação da Igreja na região nos próximos anos.

Analistas e bispos ouvidos pela BBC Brasil avaliam que Bento 16 poderá seguir, na abertura do evento, a mesma linha dura dos discursos feitos nos três primeiros dias no Brasil e o do encontro com os núncios apostólicos da América Latina, realizado em fevereiro, no Vaticano.

Em seus pronunciamentos, o papa condenou o aborto e a eutanásia, criticou o divórcio, as seitas neopentecostais, defendeu a castidade antes do casamento, pediu aos bispos que deixem questões ideológicas de lado e defendeu uma campanha de evangelização.

Contra-ataque

Para os bispos brasileiros que participarão como delegados da conferência, o recado mais importante para a América Latina foi dado pelo papa no discurso aos bispos na Catedral da Sé, na sexta-feira, quando ele falou sobre o "proselitismo das seitas".

A queda no número de católicos é, para muitos bispos, um dos principais desafios da Igreja na América Latina, especialmente no Brasil.

Para contra-atacar, a Igreja estaria apostando no papel dos leigos para ajudar na evangelização da população, ou seja, fiéis educados por padres e bispos - e não só padres e bispos --passariam a trabalhar como missionários da religião.

"A Igreja Católica não é proselitista como essas outras seitas que existem por aí. A Igreja prega apenas a palavra de Jesus, mas não chega com esse fanatismo que oferece soluções fáceis a todos", diz o bispo Orani João Tempesta, da Arquidiocese de Belém do Pará, que está em Aparecida para o encontro da Celam.

"Assim como fez na última sexta-feira, (o papa) deverá falar da influência das pastorais sociais e das comunidades eclesiais de base na Igreja brasileira, com a condição de que mantenham a inspiração no Evangelho", diz o padre José Oscar Beozzo, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) na Assembléia de Aparecida.

O sociólogo Luiz Alberto Gomez de Souza, diretor do Instituto de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, diz que o papa será conservador no que diz respeito a problemas internos da Igreja, como o celibato, a participação das mulheres nos ministérios e a sexualidade.

"Provavelmente, os temas da doutrina católica não serão o centro do discurso dele", afirma. "Ele deverá ser cuidadoso. É um papa intelectual, aberto a problemas modernos, das grandes transformações da sociedade."

Influência do papa

Ao participar da abertura do evento, Bento 16 segue o exemplo do que fizeram outros papas: tenta influenciar os bispos através do discurso inicial.

Na Conferência de Medellín, em 1968, a introdução de Paulo 6º foi cautelosa, mas teve peso ao insistir na existência de uma violência estrutural, silenciosa na América Latina e que os cristãos não tinham o direito de usá-la na transformação política.

Em Puebla, em 1979, João Paulo 2º fez um discurso duro: afirmou que a Teologia da Libertação tinha o marxismo por base, chamou a igreja popular de paralela e propôs as vocações sacerdotais, a família e a juventude como prioridades.

"Muitos bispos disseram que a conferência não precisaria de nenhum documento, bastaria usar o discurso do papa", diz o padre Beozzo, especialista em história eclesiástica da América Latina, lembrando que, em seguida, d. Aloísio Lorscheider, presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (Celam), pediu ao bispos que discutissem livremente os problemas do continente.

"O episcopado levou em consideração apenas a orientação sobre a juventude. Definiu como prioridades a opção pelos pobres, pelos jovens, a questão dos direitos humanos e a constituição de uma sociedade justa."

Em Santo Domingo, em 1992, houve uma pressão muito forte da Cúria Romana. Mesmo assim, d. Luciano Mendes de Almeida introduziu praticamente sozinho um capítulo sobre promoção social.

"Os bispos vão levar em consideração o discurso do papa", afirma Souza. "Mas as reuniões são sempre uma surpresa. Uma minoria pode levar ao consenso. Basta que um grupo de poucos diga coisas duras sobre a realidade latino-americana para que a posição majoritária seja modificada."

Duas forças

Duas linhas majoritárias no catolicismo latino-americano estarão em discussão na assembléia. Uma mais conservadora --representada por movimentos com muita influência no Vaticano, como a Opus Dei e os Legionários de Cristo, pela Renovação Carismática e a geração de bispos alinhada à Santa Sé-- condena a influência da Teologia da Libertação e a politização da Igreja latino-americana e defende o tradicionalismo da Igreja e a doutrina moral católica.

Essa ala teve peso na conferência de Santo Domingo e impôs a linha de uma nova "evangelização das culturas".

A segunda força é minoritária. Representa bispos e teólogos progressistas, que vão brigar pela aprovação da "opção preferencial pelos pobres".

"Não vamos a esta conferência com respostas prontas para essas questões. Pelo contrário, vamos à conferência para procurar as respostas a essas nossas dúvidas", afirma o arcebispo de Fortaleza, d. José Antônio, que participará da conferência na delegação brasileira.

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