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Uma casca de banana na Escócia
IVAN LESSA
colunista da BBC Brasil
Eu faço uma porção de coisas erradas. Londres está cheia de coisas erradas. Vez por outra, no entanto, há que se dar uma parada nas reclamações e nas auto-recriminações e fazer aquilo que nossas tias recomendavam: "Veja o lado bom das coisas." Ser menos negativo e mais positivo. Vá lá que seja, eu topo. Afinal, o outono é a estação ideal para se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Numa Londres que aos meus olhos, pelo menos, vem perdendo sua graça a cada dia que passa, sou fã do lixo e seu recolhimento. Primeiro, as autoridades locais do bairro distribuem vastos sacos pretos de plástico resistente, para o lixo comum, e outros alaranjados e transparentes para tudo que for reciclável.
Depois, duas vezes por semana, às segundas e quintas, os lixeiros --perdão, refiro-me à brava rapaziada responsável pela coleta e tratamento dos resíduos naturais a uma vivenda (waste management)-- passam e recolhem tudo que, na casa de quatro andares em que moro, fica armazenado por nós, moradores, num depósito do porão, em vastas caixas pretas de lixo, cada uma com o número de seu respectivo flat. Cumpro minha parte não jogando nada fora nas ruas de meu bairro. Qualquer bairro. Muito menos casca de banana.
No que aproveito a deixa, mantenho o equilíbrio e pego um trem com direção à Escócia para ver como andam por lá em matéria de bananas. Não, não. Banana não é fruta típica do aprazível país situado no norte do Reino Unido. A banana é simplesmente uma iguaria incomparável para os britânicos. Escocês então, nem se fala. Pior para mim que nunca dei muita bola (mas também não dei banana) para as bananas. Fritas, com açúcar e uma canelinha por cima, tudo bem. Ao natural, me eram e me são indiferentes. Prefiro manga. Azar o meu.
O que há lá por cima, na Escócia, é que suas paisagens magníficas, louvadas em cantos e livros por conhecedores, estão sofrendo com os caminhantes profissionais e amadores, para não falar dos alpinistas, pois monte e montanha, é com a Escócia.
A mais famosa montanha escocesa, Ben Nevis, acha-se ameaçada pelas bananas. Mais precisamente, pelas cascas de bananas. Britânico, de que país for, não é besta de jogar banana fora. Andam, isto sim, desfazendo-se mal das cascas de banana que consomem em seus passeios e excursões.
O John Muir Trust, que zela pela natureza da Escócia, acaba de dar um bom, e merecido, puxão de orelhas nos andarilhos e desbravadores, profissionais ou amadores. O Trust informa que, no momento, neste ano de 2009, há perto de mil cascas de bananas espalhadas por Ben Nevis. Isto significa que serão necessários dois anos até que sucumbam por completo à biodegradação ideal.
Tendo o fato me chamado a atenção, procurei saber mais sobre o tempo necessário para a correta biodegradação das coisas mais comuns que as gentes irresponsáveis, não importa sua nacionalidade, jogam fora como lixo, emporcalhando assim as ruas deste pobre mundo de Deus.
Um saco de papel: um mês.
A polpa de uma maçã: oito semanas.
Casca de banana ou de laranja: dois anos.
Guimba de cigarro: de 18 meses a --atenção!-- 500 anos.
Saco plástico: 10 a 20 anos.
Garrafa plástica: 450 anos.
E, last but not least, a goma de mascar: um milhão de anos. Repetindo, um milhão de anos, sim, senhor.
Neste setor, ao menos, não tenho com que me preocupar. Além de não mascar nada nem sujar rua nenhuma, minhas poluições biodegradáveis viajam duas vezes por semana em vistosas sacolas plásticas transparentes como eu e sob o cuidado altamente profissional de waste managers de primeiríssima categoria.
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