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24/12/2009 - 09h07

Infeliz Natal

LUCAS MENDES
colunista da BBC Brasil, em Nova York (EUA)

Que Natal! Acabo de saber que sou um infeliz.

Duas autoridades, um cientista inglês e um americano passaram anos examinando estudos e descobriram que nós, moradores do Estado de Nova York, somos os mais infelizes dos Estados Unidos.

O inglês Andrew J. Oswald da Universidade Warwick na Inglaterra e Stephen Wu, do Hamilton College de Clinton, de Nova York, colocaram numa complicada equação, 1,3 milhão de respostas de uma pesquisa do respeitado Centro de Controle e Prevenção de Doenças e os "indicadores objetivos" de outro estudo de pesquisadores da Universidade da Califórnia, e Nova York apareceu em 51º lugar em felicidade entre os estados americanos.

A capital, Washington, foi incluída na pesquisa e apesar dos detestáveis políticos, aparece em 37º.

Minhas opções são ruins porque não moraria em nenhum dos cinco Estados campeões de felicidade : Louisiania, Havaí, Flórida, Alabama, Tenessee e Arizona.

Destes, a Louisiania é fascinante pela música, comida e história, mas entre o calor do verão e o do inferno muita gente prefere o do inferno, mais seco.

Estes Estados, além do sol, oferecem qualidade de vida com menos congestionamento, ar um pouco mais limpo e moradia mais barata.

Nova York e Califórnia, que aparece em 46º apesar de todo aquele sol, são vítimas da fama. Todo mundo quer morar nestes Estados que acabam sufocados pelas multidões e pelos preços altos.

Este estudo tira minha felicidade no mesmo ano em que outra pesquisa que mereceu uma página inteira no "Times" garantiu que eu morava no bairro mais feliz de Manhattan.

Fiquei tão comovido em saber que era feliz e não sabia que escrevi uma coluna. Agora, desenganado, peço desculpas. Sou um infeliz e não sabia.

Outro ilustre que não sai do noticiário esta semana e estragou nossa felicidade neste Natal é o economista Joel Waldfogel da Wharton School, na Pensilvânia.

O livro dele é "Sroogenomics: Porque você não deve dar presentes de Natal. Não trazem felicidade".

A equação dele também não é das mais fáceis mas, em resumo, quando compro um presente de US$ 50 para uma pessoa que não é íntima, o valor, para quem recebe não passa de US$ 30, ou seja, há um desperdício de US$ 20.

Ele passou 15 anos perguntando sobre presentes e chegou à conclusão que dos US$ 65 bilhões que os americanos gastam só em dezembro (2 vezes o PIB do Uruguai), US$ 13 bilhões são desperdiçados. No fim das contas, o prazer de quem dá é maior do que de quem recebe um presente.

Se você, como eu, acha que o americano gasta muito no Natal, está enganado. Entre os países desenvolvidos, os americanos estão em 20º lugar em gasto per capita com presentes de Natal, e, mais incrível, em plena recessão na década de 30, gastavam, proporcionalmente, muito mais.

As pessoas participavam de "Clubes de Natal" onde depositavam algum dinheiro todos os meses para ser gasto em presentes no fim de ano.

O livro dele, "Porque você não deve presentes de Natal", está na lista dos livros mais presenteados.

Você não precisa gastar dinheiro para ser infeliz com um presente.

Uma amiga de muitos anos me encomendou --e pagou-- por quatro jogos de dvds para o adorável neto. Foi meio em cima do laço mas, quando vi uma caixa da Amazon em cima da minha mesa na véspera do meu embarque, respondi ao e-mail dela: "oba, sua encomenda chegou". Coloquei num plástico no fundo da mala.

Durante a viagem, que era via Washington e São Paulo, a mala foi roubada e chegou em Belo Horizonte sem a caixa. Estava toda revirada, os remédios abertos e centenas de comprimidos espalhados entre roupas. Quem roubou deveria estar a procura de drogas mas, sem interesse em aspirina e liptor, acabou levando a caixa, talvez pelo tamanho, fácil de esconder.

O neto ficou devastado. A avó tinha comprado uma televisão de quarenta e tantas polegadas que estava montada com a máquina dos jogos na sala à minha espera e cheguei de mãos vazias, com uma história comprida, sem o presente.

Difícil dizer qual de nós dois estava mais desapontado mas tristeza de criança, como alegria, não tem preço.

Passei a manhã de segunda-feira em briga com a companhia de aviação. Me respondiam com delicadeza, eu insultava, impaciente com as perguntas deles.

Fui instruído a dar queixa em Nova York e, quando disseram que deveria ter dado queixa em 24 horas, no Brasil, subi pelas paredes.

Me mandaram preencher um longo formulário na internet, e, fiz direitinho, com a sensação que era total perda de tempo, uma fórmula do cliente desabafar e parar de gritar nos ouvidos deles. Eu queria uma satisfação para dar ao neto da amiga.

No dia seguinte chegou pelo correio uma caixa da Amazon com os dvds. Putz! E a caixa roubada?

Cinco dias depois chegou uma carta delicada de desculpas da companhia de aviação informando que o cheque com o valor dos dvds estava no correio.

Devolvo, engulo ou deposito?

 

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