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Oposição boicota 1º pleito multipartidário em 24 anos no Sudão
da BBC Brasil
A maioria dos partidos de oposição do Sudão decidiu, nesta quinta-feira, boicotar as eleições presidenciais do país, a primeira multipartidária desde 1986, alegando a possibilidade de que ocorram irregularidades no pleito, entre os dias 11 e 13 de abril.
Em um comunicado divulgado após uma reunião na capital sudanesa, Cartum, os representantes afirmaram que estavam retirando seus candidatos pois não havia chance de o pleito ser "livre e justo".
Os partidos pedem uma investigação sobre acusações de fraude no registro de eleitores e para esclarecer como uma estatal ganhou uma licitação para imprimir cédulas de votação.
A decisão ocorre um dia depois que o principal partido do sul sudanês, o Movimento pela Liberação do Povo do Sudão (SPLM), decidiu retirar seu candidato, Yasir Arman, do pleito presidencial.
O SPLM, formado por ex-rebeldes, integra uma coalizão de governo com o partido do presidente Omar Al-Bashir e alega que teve seus direitos de acesso à mídia estatal e de realizar comícios restringidos pelo partido governista, o que teria favorecido a campanha para a reeleição de Bashir.
Com o boicote da maioria dos oposicionistas, apenas o candidato do Partido Congressista Popular, Abdullah Deng Nhial, deve enfrentar Al-Bashir, acusado de crimes de guerra em Darfur (região no oeste no Sudão).
O enviado americano para o Sudão, Scott Gration, está em Cartum para tentar incentivar a realização do pleito.
Golpe
Segundo o correspondente da BBC na capital sudanesa, Cartum, James Copnall, a decisão do SPLM foi "um golpe para a credibilidade do pleito".
Isso porque o único candidato forte que enfrentará Bashir é de um partido formado por islâmicos que costumavam ser fortes aliados do presidente. Os outros rivais são independentes ou de partidos menores.
Depois do anúncio da decisão do SPLM, Bashir ameaçou cancelar a realização de um plebiscito sobre a independência do sul do Sudão, previsto em um acordo de paz firmado em 2005 que selou o fim de décadas de guerra civil entre o sul e o norte do país.
Segundo Bashir, o plebiscito pode ser cancelado se o SPLM realmente boicotar as eleições.
Mas membros do partido de oposição e países ocidentais afirmaram que o referendo e as eleições presidenciais são duas questões separadas, que não devem estar relacionadas.
Após décadas de conflito, o sul do Sudão permanece uma das áreas mais pobres do mundo.
Cerca de 1,5 milhão de pessoas morreram em confrontos entre a maioria muçulmana do norte e o sul, onde a maioria da população é cristã ou segue crenças tradicionais.
No ano passado cerca de 2 mil pessoas morreram em confrontos que, segundo o partido que governa a área, estariam sendo incentivados pelo governo para desestabilizar a região antes das eleições. O governo nega as acusações.
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