Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/05/2010 - 21h06

Análise: Chegou a hora de negociar no Reino Unido. Mas quem deve fazê-lo?

JAMES LANDALE
Editor-assistente de política do BBC News

Em 1974, após uma eleição na qual ninguém conquistou uma maioria no Parlamento, o então primeiro-ministro britânico Ted Heath, do Partido Conservador, perguntou: "Quem governa o Reino Unido?" A pergunta faz sentido nesta sexta-feira, um dia depois das eleições gerais no país.

A primeira decisão veio do primeiro-ministro trabalhista, Gordon Brown. Apesar de perder vagas no Parlamento e do segundo lugar, ele decidiu não renunciar ao cargo. Tendo inicialmente aberto o caminho para dar início às negociações entre partidos, aceitando dialogar com conservadores e liberais democratas, ele também mandou um recado para o líder liberal democrata, Nick Clegg.

Mesmo respeitando a decisão de Clegg de falar primeiro com o líder conservador, David Cameron, o primeiro-ministro deixou sua porta aberta para negociações, falando sobre os pontos comuns nas plataformas dos trabalhistas e liberais democratas.

É claro que se Brown tivesse renunciado, o conservador David Cameron teria ido direto ao palácio de Buckingham para receber o cargo da rainha Elizabeth 2ª e começado a governar com minoria no Parlamento.

Os auxiliares de Brown e seus ministros estão deixando claro que algum tipo de acordo com os liberais democratas é possível, uma espécie de "aliança progressista" anticonservadores, com um compromisso de reformar as leis eleitorais.

A vez de Clegg

Agora quem precisa dar o próximo passo é Nick Clegg. Ele diz que manterá sua promessa de campanha de permitir que o partido com o maior número de vagas no Parlamento --neste caso, os conservadores- tenha o direito de tentar formar um governo.

Ele diz: "É agora a vez de o Partido Conservador provar que é capaz de tentar governar pensando no interesse nacional".

Em outras palavras, ele estaria perguntando: "O que você está oferecendo, David Cameron?"
Clegg não está dizendo que nunca negociará com os trabalhistas, mas apenas que conversará primeiro com os conservadores. Ele ouvirá o que Cameron tem para oferecer e levará isso ao seu partido no sábado. Ele não terá pressa.

Os liberais democratas não vão querer discutir nada com os conservadores se a proposta de mudar a representação política não estiver na mesa. É importante lembrar que Clegg precisa negociar tudo com seu partido, e não pode fazer nada sozinho.

Legitimidade

David Cameron falou nesta sexta-feira sobre algumas políticas comuns entre os dois partidos --ambos, por exemplo, querem um bônus para apoiar na educação de crianças com problemas.

Mas o líder conservador terá que ter cuidado ao negociar sobre a mudança no sistema de representação política.

Muitos parlamentares conservadores são contra qualquer negociação deste tipo. Por isso, Cameron cautelosamente propôs "um comitê com todos os partidos para analisar uma reforma eleitoral e política".

Até falar sobre esse tipo de reforma pode ser demais para alguns conservadores. Um dos políticos conservadores disse: "A oferta do partido de representação política proporcional chegou apenas em terceiro lugar nesta eleição. Por que deveríamos concordar com algo que os eleitores rejeitaram?"

Alguns conservadores poderiam, no entanto, tolerar um mandato fixo para os parlamentares, outra proposta liberal democrata.

Mas como Cameron disse nesta sexta-feira, os dois partidos discordam profundamente sobre assuntos como aproximação com a União Europeia e defesa.

Cenários

Se os liberais democratas e conservadores fecharem um acordo, Brown teria que renunciar. Ele saberia que em poucas semanas não comandaria com confiança a Câmara dos Comuns. Mas se não houver acordo, os liberais democratas e os trabalhistas negociariam entre si.

Qualquer acordo com liberais democratas depende totalmente de legitimidade. Como eles poderiam vender um governo para os eleitores que seria visto como uma coalizão dos perdedores?

Eles poderiam argumentar que uma coalizão de ambos formaria uma maioria anticonservadores e que isso seria suficiente para legitimar o acordo.

Mas, para alguns, esse argumento é difícil de ser aceito. Como disse o meu taxista hoje pela manhã: "Então os conservadores ganharam mais votos e mais vagas. Por que eles não ganharam?"

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página