Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
06/11/2000 - 09h01

40 mil clandestinos vivem no Amazonas

Publicidade

DULCE BENIGNA ALVARENGA
da Folha de S.Paulo

Levantamento da Fundação Joaquim Nabuco, de Manaus, estima em mais de 40 mil o total de imigrantes clandestinos no Amazonas, quase três vezes o número registrado pela Polícia Federal.

O trabalho, apresentado neste ano e desenvolvido pelos pesquisadores do Instituto de Estudos Sobre a Amazônia da fundação com base em dados da Pastoral dos Migrantes coletados em 1997, destaca ainda que a imigração clandestina não está sempre associada ao narcotráfico e à guerrilha na região amazônica.

Dos imigrantes clandestinos identificados, a fundação apurou que 93% eram oriundos do Peru, país que viveu instabilidades econômicas recentes e enfrenta crises políticas devido à presença de grupos guerrilheiros, como o Sendero Luminoso. Outros vieram da Colômbia (cerca de 3%) e da Venezuela (cerca de 2,5%).

A maioria afirmou que veio ao Brasil fugindo do narcotráfico ou de perseguições políticas. No entanto, as condições de vida desses imigrantes são precárias, especialmente em relação ao acesso ao emprego e a serviços básicos de educação, saúde e saneamento.

O Brasil é um dos países que assinaram o documento produzido na Conferência Mundial de População do Cairo, realizada pelas Nações Unidas em 1994. Pelo documento, os países se comprometeram a resolver, até por razões humanitárias, a questão dos migrantes clandestinos.

Perfil

Os homens solteiros, com idade entre 25 e 34 anos e escolaridade equivalente ao segundo grau no Brasil, são a maioria dos clandestinos.

Os homens casados só trazem a família (em geral mulher e dois filhos) quando já estão instalados no país.

Devido a acordos internacionais, o Brasil não exige visto de entrada dos vizinhos sul-americanos, mas é necessário legalizar a entrada e situação junto a representações da Polícia Federal espalhadas pelo Estado. Esse fato, aliado à semelhança entre os idiomas espanhol e português e à grande extensão da fronteira, contribui para a imigração ilegal.

Segundo a freira Márcia de Oliveira, da Pastoral do Migrante de Manaus, "o ingresso desses imigrantes no Amazonas acontece principalmente nos feriados, quando a fiscalização é menor".

Segundo ela, isso ocorre tanto por terra quanto pelos rios. No caso dos barcos, a viagem entre Tabatinga (fronteira com Colômbia e Peru) e Manaus dura cerca de seis dias e custa hoje R$ 126.

Imagem negativa

Os imigrantes clandestinos acabam sendo vítimas, no Brasil, dos problemas dos quais tentavam escapar ao deixar o país de origem. De acordo com a freira Márcia, eles são associados à lavagem de dinheiro, ao narcotráfico colombiano e boliviano e à "biopirataria" -roubo de material genético da flora e da fauna.

Como estão em situação de ilegalidade, ficam impedidos de trabalhar, o que em geral os leva ao comércio ambulante, aos biscates e à prestação de serviços que exigem pouca qualificação, ainda que eles tenham nível de instrução relativamente alto.

Segundo vários depoimentos registrados, é muito comum, quando sua situação clandestina é descoberta por contratantes brasileiros, receberem menos que o combinado e, muitas vezes, não receberem nada em troca da proteção do silêncio.

Esse tipo de situação nunca é denunciado por receio de que resulte na deportação do denunciante.

Para tentar regularizar sua situação, esses imigrantes buscam casar com brasileiras, o que dá ao estrangeiro o direito de solicitar a permanência definitiva em território nacional.

Muitas vezes, os imigrantes ilegais do Amazonas não mantêm vínculos afetivos com as mulheres e filhos que deixaram em seu país de origem e acabam abandonando essas famílias.

  • Leia mais sobre o caso no especial
    Saúde do Governador

  • Leia mais sobre os casos TRT-SP e EJ no especial
    Poder Público

  • Leia mais sobre o MST no especial
    Reforma Agrária

    Clique aqui para ler mais sobre política na Folha Online.
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página