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11/11/2000 - 03h38

Garotinho diz que vai deixar o PDT

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LUIZ ANTÔNIO RYFF, da Folha de S.Paulo

O governador do Rio, Anthony Garotinho, anunciou ontem sua saída do PDT, após quase dois anos de conflitos com o presidente do partido, Leonel Brizola.

Ele não decidiu para qual partido irá, mas há três possibilidades mais fortes. Garotinho mantém negociações com o PSB, cogita criar um novo partido ou poderá aglutinar seu grupo político em torno de uma pequena legenda -como o PST, do deputado federal Francisco Silva, seu aliado.

A decisão do governador põe fim a um confronto com Brizola pelo controle do PDT. A divergência entre os dois começou pouco antes da posse de Garotinho como governador, em 1º de janeiro de 1999, mas se acirrou neste ano e atingiu seu auge quando Brizola decidiu lançar sua candidatura à Prefeitura do Rio.

Garotinho promoverá no dia 15 um ato de desfiliação coletiva do seu grupo político para demonstrar força. Segundo ele, deixarão o PDT cinco dos oito deputados federais do partido no Rio e 14 dos 18 deputados estaduais, além de prefeitos e outros dirigentes.

O governador afirmou que todos os secretários de Estado do PDT irão abandonar o partido. Entre eles, políticos que já foram bem próximos de Brizola, como Noel de Carvalho (Agricultura), Luiz Alfredo Salomão (Transporte) e Fernando Lopes (Fazenda).

"Nós já tomamos aqui hoje uma decisão. Não decidimos ir para lugar nenhum." Garotinho não é o primeiro a deixar o PDT por divergências com Brizola: Saturnino Braga (PSB), Marcello Alencar (PSDB) e Cesar Maia (PTB) seguiram pelo mesmo caminho.

De manhã, na inauguração de um bandejão popular subsidiado pelo Estado, na Central do Brasil, Garotinho atribuiu à falta de vontade política do governo federal a não erradicação da fome no país.

"Infelizmente, esse governo que aí está gasta R$ 128 bilhões para pagar juros aos banqueiros e não tem dinheiro para matar a fome do povo brasileiro", disse ele.

A inauguração do bandejão se transformou em um ato político, com a presença do secretariado de governo, que, diante dos jornalistas, provou a comida a R$ 1. O restaurante, que deve servir 3.000 refeições por dia, leva o nome de Herbert de Souza, o Betinho.

"Como é possível um país tão rico com tanta gente passando fome?", disse Garotinho, que, durante seu discurso, foi interrompido por gritos de "presidente".

As críticas ocorrem dois dias depois de ele receber um telefonema do presidente Fernando Henrique Cardoso oferecendo-se para arcar com a maior parte da conta para levar o metrô até Niterói, por baixo da baía de Guanabara, obra orçada em R$ 800 milhões.

Segundo Garotinho, combater a fome deveria ser uma prioridade do governo federal: "E prioridade é uma questão política". "Como é que não tem dinheiro para erradicar a fome no Brasil? É questão de prioridade política", afirmou.

Presente à cerimônia, o bispo dom Mauro Morelli, de Duque de Caxias (RJ), também afirmou que, para combater a fome, é preciso vontade política. "O problema da fome não é um problema divino. É um problema do ser humano", afirmou dom Mauro. "É preciso decisão política", afirmou ele, que rezou um pai-nosso e conclamou o público a aplaudir Garotinho e a primeira-dama, Rosângela Matheus, a Rosinha.

Garotinho disse que espera que o aumento do salário mínimo estadual para R$ 220 contribua para o debate sobre o mínimo nacional. Segundo o governador, "a lógica que determina o salário mínimo" está equivocada.

"Eles dizem que o salário mínimo é responsável pela inflação. Eu acho que o salário mínimo é responsável pela estagnação. Com um salário maior o trabalhador pode comprar mais e comer melhor. Consequentemente, o comércio vende mais, gera mais emprego, a indústria vai vender mais.
Precisamos criar um ciclo virtuoso de desenvolvimento no país", afirmou o governador.

Outro lado

O porta-voz da Presidência da República, Georges Lamazière, não quis comentar a afirmação do governador Garotinho. Lamazière foi procurado na tarde de ontem pela Folha e tomou conhecimento do inteiro teor da afirmação do governador.
 

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