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29/11/2000 - 03h36

Sem cesta, sem-terra pedem esmola

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FÁBIO GUIBU, da Agência Folha, em Vitória de Santo Antão

O atraso do governo federal na entrega das cestas básicas de alimentos transformou em mendigos trabalhadores rurais do MST acampados em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata de Pernambuco.

Sem receber as cestas há três meses, as 56 famílias que invadiram a fazenda Bento Velho se revezam nas tarefas de cultivar a terra, pedir esmolas e recolher sobras de comida em feiras, mercados e no lixão da cidade.

Os homens trabalham no campo, enquanto as mulheres e as crianças vão mendigar. Elas só retornam quando conseguem alimento suficiente para atender a família por pelo menos três dias.

É o caso da agricultora Maria José da Silva, 30, que há dois meses pede esmolas nas ruas de Vitória de Santo Antão. Maria vai para a cidade duas vezes por semana e, quando não consegue ajuda no mesmo dia, dorme na calçada com seus cinco filhos.

Para evitar constrangimentos, os líderes do acampamento decidiram que ninguém pode mendigar com roupas ou objetos que os identifiquem como integrantes do MST. "Aqui ninguém é marginal, mas se alguém souber que o mendigo é sem-terra, ele vai ser criticado e não conseguirá nada", disse a coordenadora do acampamento, Isabel de Arruda.

"É uma vergonha o que estamos passando", disse ela. "Os agricultores estão se humilhando esse tempo todo, e agora o governo federal diz que vai acabar com a cesta básica", afirmou.

Segundo Isabel, os lavradores dependiam dos alimentos doados pelo governo porque a maior parte das lavouras foi destruída pela chuva, pela seca, ou durante os quatro despejos sofridos pelo grupo desde a invasão.

"Preferimos pedir esmola para não criar confusão com o governo", afirmou a coordenadora do acampamento. "Agora, como ninguém tem mais nada a perder, a solução vai ser fechar a rodovia e partir para o saque", disse.

Os acampados concordam com Isabel. "A gente ficava na expectativa de receber a cesta básica atrasada e segurava a barra", disse Luiz Paulino da Silva, 47. "Agora, vamos quebrar pedra e entupir a estrada", declarou.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), responsável pela distribuição das cestas, confirmou que não repassa os produtos ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desde setembro. Segundo a estatal, este ano houve entrega apenas em janeiro, abril, julho e agosto.

Segundo o Incra, cerca de 6.000 lavradores teriam direito a receber mensalmente o benefício no Estado. O número entregue, no entanto, variou de 1.567 a, no máximo, 5.018. A Conab afirma ter atendido todos os pedidos feitos pelo Incra em Pernambuco. Sonia Massa, da comissão de mediação de conflitos do Incra e responsável pela distribuição dos alimentos, nega a versão.

Segundo ela, a Conab lhe informou que não havia mais alimentos disponíveis e que aguardava a realização de um leilão para a aquisição de produtos e a autorização de Brasília para o repasse.
 

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