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24/12/2000 - 08h33

Cerrado do Piauí está sendo devastado por agricultores

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SERGIO TORRES
da Folha de S.Paulo

Uma das últimas áreas virgens e férteis para a agricultura no Nordeste, o cerrado do Piauí vem sendo devastado. Atraídos por terras quase de graça, agricultores do Sul chegam em massa ao cerrado.

O custo ambiental é alto e pode ser avaliado por um desmatamento recorde ocorrido na região: em 30 dias, desapareceram 45 mil hectares de mata, habitada por raposas, veados e até onças.

Equivalente a mais de 45 mil campos de futebol como o do estádio do Maracanã (Rio), a área devastada para a instalação da comunidade agrícola Nova Santa Rosa (onde já vivem cerca de 500 gaúchos) não é a única em que o cerrado foi posto abaixo para implantar lavouras de soja e arroz.

O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), o governo do Piauí e a Curadoria do Meio Ambiente da Procuradoria de Justiça do Estado desconhecem o tamanho exato do que já foi devastado até agora.

De acordo com dados oficiais do governo estadual, há 100.121 hectares plantados no cerrado piauiense, mas o total da área em que houve desmatamentos é bem maior. Durante três dias deste mês, a reportagem da Folha percorreu o cerrado. Ao longo de quilômetros de estradas vicinais, terras desmatadas e sem plantações surgiam de maneira contínua, a perder de vista.

Além da falta de pessoal para fiscalizar o meio ambiente, o desconhecimento oficial se deve, também, à imensidão do cerrado. São cerca de 11,5 milhões de hectares de terras praticamente inexploradas, que se espalham pelo sul e sudoeste do Piauí -cerca de 25% do território do Estado.

A localização do cerrado dificulta ainda mais a vigilância. As terras nobres ficam a 700 metros de altitude em relação ao nível do mar, sobre chapadões retos. Os acessos são por estradas precárias, que não permitem a passagem de carros sem tração nas quatro rodas e atrapalham a circulação de caminhões e carretas.

Na maioria das vezes, o desmatamento é feito por quem vende a terra aos sulistas. Um dos compromissos do vendedor tem sido o de entregar a terra desmatada, para não atrasar o plantio.

No caso dos 45 mil hectares devastados, conforme a apuração da Curadoria do Meio Ambiente do Ministério Público, os gaúchos tiveram em contrato a garantia de que encontrariam a terra limpa em um período de 30 dias. Os contratos foram assinados em 1998. Em um mês, o cerrado estava no chão. Só em 1999 o Ibama foi informado do desmatamento.

Em novembro, a promotora Maria Carmen Almeida, curadora do Meio Ambiente do Piauí, sobrevoou a área devastada em um avião de pequeno porte.
"Fiquei impressionada com a quantidade de terras nuas, sem matas ou plantações. Do alto, vi que os desmatamentos são constantes no cerrado, que está virando uma terra arrasada", disse.

Maria Carmen é a autora da ação criminal que tramita na Justiça do Piauí contra o suposto responsável pelo desmatamento, um fazendeiro e dono de terras cujo nome não foi revelado. Acusado pela prática de crime ambiental, ele ainda não foi localizado pela Justiça para ser formalmente informado sobre o processo.

Os sulistas que compraram as terras não foram denunciados até agora: "Não quis entrar com ação contra os compradores. São pequenos produtores que já encontraram a região desmatada".

A curadoria prepara uma ação civil em que deverá denunciar por suposta omissão e conivência com crimes ambientais os governos federal, estadual e municipais da região, além dos bancos que financiam agricultores sem exigir licença de desmatamento do Ibama e os estudos de impacto.



 

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