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01/01/2001 - 04h49

Estudo vê risco de radiação em colônia do Pará

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FLÁVIA SANCHES, da Folha de S.Paulo

Um estudo da UFPA (Universidade Federal do Pará) afirma que há risco de contaminação radioativa no mais antigo projeto de colonização agrícola do Brasil, a colônia Inglês de Souza, um assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) no município de Monte Alegre, no Estado do Pará.

A universidade, que iniciou a pesquisa a pedido da Câmara Municipal de Monte Alegre, em 1995, entregará ainda neste mês laudo concluindo que a área do assentamento, onde vivem 1.240 famílias, é imprópria para cultivo.

O relatório preliminar de um estudo sobre a contaminação dos alimentos na região, encomendado pelo Incra à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aponta a existência de elementos radioativos (potássio e rádio) em amostras, mas afirma que os índices verificados não são conclusivos.

O Serviço de Proteção Radiológica, ligado à Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), também fez relatório sobre as amostras da produção, concluindo que a concentração de minérios radioativos exige estudo aprofundado.

Urânio
A colônia Inglês de Souza, fundada na década de 20, está localizada ao lado de uma das maiores ocorrências de urânio (minério radioativo) do Brasil. Segundo a UFPA, os assentados correm risco de contaminação por urânio e por radônio, um gás associado à ocorrência desse minério.

A professora Lúcia Maria Costa e Silva, do Centro de Geociências da UFPA e chefe das pesquisas na região, diz que existem situações de risco no assentamento e também na cidade de Monte Alegre.

"Os moradores alimentam-se de produtos cultivados em cima da anomalia de urânio. Em Monte Alegre, algumas pessoas construíram suas casas com material radioativo, vindos das trincheiras ricas em urânio e tório (mineral radioativo) do depósito", disse.

Segundo Lúcia, a população passou a ter acesso à área de ocorrência de urânio a partir de 1983, quando técnicos do governo federal estiveram na região para avaliar o local e concluíram que não havia potencial econômico.

Os acessos abertos pelos técnicos teriam permitido que moradores de Monte Alegre passassem a usar as rochas radioativas, conhecidas na região como "pedras jacaré", na construção de casas. Segundo a UFPA, 1.800 dos cerca de 5.000 imóveis de Monte Alegre foram construídos com as pedras.

"Por lei, é proibida a extração desse tipo de material. Isso bastava para que a população e o prefeito fossem advertidos de que a área estaria fechada à cata. Isso nunca aconteceu", diz Lúcia.

O médico Hermano Albuquerque de Castro, da Fiocruz, afirmou que não existe um acompanhamento dessa população ao longo do tempo e por isso ainda é prematuro avaliar os impactos da presença de minérios radioativos. Segundo o relatório, há um "aparente aumento em casos de câncer em órgãos do aparelho digestivo dos moradores da cidade".

A Fiocruz pretende fazer um estudo dos casos de leucemia e câncer de pulmão, aparelho digestivo e mama de 1990 a 2000.
 

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