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26/01/2001
-
03h38
CLÓVIS ROSSI, da Folha de S.Paulo
Se tivesse que apostar, Alan Blinder diria que há 33% de chance de a economia norte-americana sofrer uma recessão, em vez da desaceleração que já é visível.
É pouco ou é muito? Responde o próprio Blinder: "A chance de recessão é horrivelmente alta, se se considerar que, de 1994 até 2000, a chance era zero".
É muito também pela autoridade de quem faz a previsão: Blinder foi membro do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência norte-americana, foi vice-presidente do Fed, o banco central dos EUA, e hoje leciona em Princeton, uma das grifes do mundo acadêmico planetário.
Para o resto do mundo, aliás, nem precisa haver uma recessão nos EUA para os efeitos serem tremendos: uma queda de entre 3 e 4 pontos percentuais no crescimento norte-americano levaria, calcula Blinder, a uma redução de entre 0,75 e 1 ponto percentual no crescimento econômico
mundial.
A avaliação de Blinder foi feita ontem, no encontro anual 2001 do Fórum
Econômico Mundial, em uma sessão de atualização sobre o panorama econômico global que superlotou o auditório.
Prova definitiva de que a dúvida sobre se haverá ou não um pouso forçado da economia norte-americana é a pergunta que frequenta mentes e corações de empresários, acadêmicos e governantes.
Para Blinder, o pouso da águia norte-americana não será suave, mas algo entre sacolejante e duro.
Será, de todo modo, sentido como uma recessão, por dois fatores: 1) uma economia que desacelera de 5% para 2% ou pouco mais de crescimento é, compara Blinder, como um carro que breca subitamente: "O motorista bate na direção"; 2) haverá recessões setoriais, especialmente no mercado automotivo.
O fato de Blinder limitar a 33% a chance de recessão já é um tremendo pessimismo: nenhum dos gurus econômicos de cada momento conseguiu prever qualquer uma das nove recessões por que passou a economia norte-americana desde a 2ª Guerra Mundial.
Mas há mais fatores para pessimismo presentes na cena internacional. "O G-7 inteiro está desacelerando", diz, por exemplo, Kenneth Courtis, vice-presidente para a Ásia da Goldman & Sachs.
No caso específico do Japão, segunda maior economia do planeta, "a única maneira de ser otimista é olhar os gráficos de ponta-cabeça", ironiza Courtis.
A Europa, ao contrário, exibe sinais de alguma solidez econômica. "Será capaz de substituir os EUA como locomotiva da economia? A resposta é negativa", afirma, no entanto, Jurgen van Hagen, do Centro de Estudos para a Integração Européia, da Universidade de Bonn (Alemanha).
Tudo somado, quem comemorava era o mediador do debate, Martin Wolf, colunista do jornal britânico "Financial Times", que fez questão de lembrar que há dois anos vem dizendo que o ritmo da economia norte-
americana era insustentável.
Mas Wolf terminou a sessão ainda com o título de principal pessimista presente.
Jacob Frenkel, ex-presidente do Banco Central israelense e hoje presidente da Merrill Lynch, definiu o quadro norte-americano apenas como "a desaceleração de um crescimento econômico insustentável". Portanto, algo que teria que ocorrer cedo ou tarde.
Courtis, da Goldman & Sachs, chegou a prever uma rápida retomada até do mercado de capitais nos Estados Unidos. "Já há um furtivo mercado de touro", diz Courtis, usando o jargão dos operadores para designar mercados em alta ("bull" ou touro, contra o urso ou "bear" que representa mercado em baixa).
Mesmo Blinder, aparentemente um pessimista, acredita que os fatores fundamentais que levaram ou estão levando ao desaquecimento já estão sob controle.
Tudo somado, resumiu o moderador Martin Wolf, o debate resultou em "uma visão razoavelmente otimista".
Talvez, mas Blinder lembrou que, quando o painel foi montado, meses atrás, ele estava pronto para dizer que o pouso da águia seria suave. Agora, há pelo menos 33% de chances de um "crash". Otimismo?
Pouso americano domina debate em Davos
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Se tivesse que apostar, Alan Blinder diria que há 33% de chance de a economia norte-americana sofrer uma recessão, em vez da desaceleração que já é visível.
É pouco ou é muito? Responde o próprio Blinder: "A chance de recessão é horrivelmente alta, se se considerar que, de 1994 até 2000, a chance era zero".
É muito também pela autoridade de quem faz a previsão: Blinder foi membro do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência norte-americana, foi vice-presidente do Fed, o banco central dos EUA, e hoje leciona em Princeton, uma das grifes do mundo acadêmico planetário.
Para o resto do mundo, aliás, nem precisa haver uma recessão nos EUA para os efeitos serem tremendos: uma queda de entre 3 e 4 pontos percentuais no crescimento norte-americano levaria, calcula Blinder, a uma redução de entre 0,75 e 1 ponto percentual no crescimento econômico
mundial.
A avaliação de Blinder foi feita ontem, no encontro anual 2001 do Fórum
Econômico Mundial, em uma sessão de atualização sobre o panorama econômico global que superlotou o auditório.
Prova definitiva de que a dúvida sobre se haverá ou não um pouso forçado da economia norte-americana é a pergunta que frequenta mentes e corações de empresários, acadêmicos e governantes.
Para Blinder, o pouso da águia norte-americana não será suave, mas algo entre sacolejante e duro.
Será, de todo modo, sentido como uma recessão, por dois fatores: 1) uma economia que desacelera de 5% para 2% ou pouco mais de crescimento é, compara Blinder, como um carro que breca subitamente: "O motorista bate na direção"; 2) haverá recessões setoriais, especialmente no mercado automotivo.
O fato de Blinder limitar a 33% a chance de recessão já é um tremendo pessimismo: nenhum dos gurus econômicos de cada momento conseguiu prever qualquer uma das nove recessões por que passou a economia norte-americana desde a 2ª Guerra Mundial.
Mas há mais fatores para pessimismo presentes na cena internacional. "O G-7 inteiro está desacelerando", diz, por exemplo, Kenneth Courtis, vice-presidente para a Ásia da Goldman & Sachs.
No caso específico do Japão, segunda maior economia do planeta, "a única maneira de ser otimista é olhar os gráficos de ponta-cabeça", ironiza Courtis.
A Europa, ao contrário, exibe sinais de alguma solidez econômica. "Será capaz de substituir os EUA como locomotiva da economia? A resposta é negativa", afirma, no entanto, Jurgen van Hagen, do Centro de Estudos para a Integração Européia, da Universidade de Bonn (Alemanha).
Tudo somado, quem comemorava era o mediador do debate, Martin Wolf, colunista do jornal britânico "Financial Times", que fez questão de lembrar que há dois anos vem dizendo que o ritmo da economia norte-
americana era insustentável.
Mas Wolf terminou a sessão ainda com o título de principal pessimista presente.
Jacob Frenkel, ex-presidente do Banco Central israelense e hoje presidente da Merrill Lynch, definiu o quadro norte-americano apenas como "a desaceleração de um crescimento econômico insustentável". Portanto, algo que teria que ocorrer cedo ou tarde.
Courtis, da Goldman & Sachs, chegou a prever uma rápida retomada até do mercado de capitais nos Estados Unidos. "Já há um furtivo mercado de touro", diz Courtis, usando o jargão dos operadores para designar mercados em alta ("bull" ou touro, contra o urso ou "bear" que representa mercado em baixa).
Mesmo Blinder, aparentemente um pessimista, acredita que os fatores fundamentais que levaram ou estão levando ao desaquecimento já estão sob controle.
Tudo somado, resumiu o moderador Martin Wolf, o debate resultou em "uma visão razoavelmente otimista".
Talvez, mas Blinder lembrou que, quando o painel foi montado, meses atrás, ele estava pronto para dizer que o pouso da águia seria suave. Agora, há pelo menos 33% de chances de um "crash". Otimismo?
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