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31/01/2001 - 03h43

Anti-Davos acaba em apoteose de Bové

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FERNANDO DE BARROS E SILVA, enviado especial a Porto Alegre
CARLOS ALBERTO DE SOUZA, da Agência Folha, em Porto Alegre

Sob o coro de cerca de 4.500 pessoas, que gritavam da platéia "Fica Bové, fora FHC", o Fórum Social Mundial foi encerrado ontem, por volta das 11h45, com uma grande faixa posta pelos organizadores do evento no palco do anfiteatro da PUC de Porto Alegre, onde se lia: "Somos todos Bové".

O ato de solidariedade ao ativista francês acabou virando a grande sensação do encerramento do fórum. A solenidade, muito festiva, foi marcada por refrões antiamericanos e terceiro-mundistas, como "Viva a África" e "FMI, somos filhos de Zumbi".

Ao final, Bové subiu ao palco e disse, em francês: "O século 21 começou em Seattle e em Porto Alegre". A seguir, em português, completou, com o punho cerrado no ar: "A luta continua".

Anteontem à noite, a Polícia Federal, cumprindo ordem do ministro da Justiça, José Gregori, havia notificado Bové, determinando que deixasse o país até a meia-noite de ontem para hoje.

O francês participara na última sexta-feira, a convite do MST, da invasão e destruição de parte de lavoura de soja transgênica, perto da cidade de Não-Me-Toque (a 300 km de Porto Alegre), onde a multinacional Monsanto realiza experimentos agrícolas.

Os organizadores do fórum estavam eufóricos desde a madrugada de ontem com o que consideraram ter sido um "grande erro político" de Fernando Henrique Cardoso. Sem querer, FHC acabou dando mais visibilidade ao Fórum Social e injetou ânimo em seus participantes na abertura e no encerramento do evento.

Porto Alegre 2002
O incidente acabou tendo peso decisivo na opção por realizar o próximo Fórum Social em Porto Alegre, anunciada durante a cerimônia de encerramento. Os organizadores estavam divididos, parte deles defendendo o adiamento da decisão ou a realização do fórum em outro local.

Foram pressionados a dar, na expressão de um deles, uma "resposta política" ao governo após a medida contra o ativista francês. O que poderia ser um anticlímax se transformou numa explosão de euforia de 4.500 pessoas quando Kjeld Jacobsen, representante da CUT no comitê organizador, anunciou Porto Alegre como sede do Fórum em 2002, que será simultâneo ao Fórum de Davos.

Como medida compensatória para os organizadores que não queriam decidir a favor da capital gaúcha, uma nota oficial informou que, além de Porto Alegre, se irá "estimular a realização, na mesma data, de fóruns em outros lugares do mundo". A ressalva soou apenas retórica.

Os momentos de maior comoção na cerimônia de encerramento do anti-Davos aconteceram quando as 4.500 pessoas começaram a cantar, espontaneamente,
o clássico cubano "Guantanamera" e, minutos depois, a entoar a canção
andina "El Condor Pasa".

Quatro representantes de cada continente foram chamados ao palco para responder à mesma pergunta: "Um outro mundo é possível?". Os mais aplaudidos foram Charles Lenchner, de Israel, e Abdel Rahman Sultan, da Jordânia, que falaram lado a lado, pedindo a paz no Oriente Médio.

O governador Olívio Dutra assistiu à cerimônia ao lado de Danielle Miterrand e do prefeito Tarso Genro. Nenhum deles subiu ao palco.
 

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