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11/02/2001 - 00h10

Peemedebista ataca ACM para se defender

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ELIANE CANTANHÊDE
KENNEDY ALENCAR

da Folha de S.Paulo

Em vez de se defender, Jader Barbalho atacou. Disse que seu desafeto Antonio Carlos Magalhães tem um patrimônio de R$ 60 milhões, mas não soube dizer em quase duas horas de entrevista de quanto é o seu: "Não tenho, evidentemente, no momento em que dou entrevista, a somatória em preços de mercado".

A respeito dos indicados para a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia) suspeitos de corrupção, o senador paraense afirmou que eles não eram acusados de irregularidades à época da nomeação.

"Não posso ser responsabilizado por pessoas que mereceram minha solidariedade na indicação e das quais eu não tinha nenhum registro de deslize."


Folha - Como o sr. explica que, sendo vereador e jovem advogado em 1966, o sr. tenha seguido carreira política e ao mesmo tempo virado um grande agropecuarista e dono de um império de comunicações?
Jader
- Há 26 anos tenho atividade empresarial e declarei toda essa movimentação ao longo do tempo. Não digo, farisaicamente, que recebi herança do meu sogro (como diz o presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhães).

O que não posso aceitar é uma avaliação arbitrária de R$ 30 milhões, muito parecida com a que os inimigos do Juscelino Kubitschek (presidente da República), particularmente no regime militar, fizeram para elegê-lo a quinta fortuna do mundo.


Folha - Se o sr. for eleito, não será para sempre o senador de R$ 30 milhões?
Jader
- Esse é o preço que o homem público paga.


Folha - Por que, em vez de explicar o patrimônio, o sr. distribuiu bombons de cupuaçu na primeira entrevista sobre o assunto?
Jader
- Apenas não aceitei, por habilidade política, discutir naquele momento. Não aceito que arbitrariamente se fixe um valor sem sustentação técnica.


Folha - Houve um grave dano à sua imagem?
Jader
- Percorrer a vida pública é sempre um corredor polonês. Não aceito, portanto, que o meu acusador seja o meu julgador. Isso só ocorre no regime militar.


Folha - Qual é o seu patrimônio?
Jader
- É o que está declarado. Na reportagem, quando foram mencionados valores históricos, mandei conferir.


Folha - E qual foi a conclusão?
Jader
- A conclusão é que a declaração é correta, e o número, arbitrário. Não tenho, evidentemente, no momento em que dou entrevista, a somatória em preços de mercado.


Folha - Para uma pessoa que está sendo questionada, o sr. não deveria ter tido o cuidado de saber qual é seu patrimônio exato?
Jader
- Um levantamento técnico que mandei fazer diz que o resultado do patrimônio é compatível com os rendimentos.


Folha - O sr. indicou dois superintendentes da Sudam que são acusados de corrupção. O sr. se sente co-responsável?
Jader
- Em primeiro lugar, é preciso saber: qual a acusação?


Folha - O superintendente José Arthur Guedes Tourinho, indicado pelo sr., liberou dinheiro para o empresário José Osmar Borges, que emitiu notas fiscais falsas. Uma nota de R$ 486 mil virou uma de R$ 26. Borges obteve mais de R$ 100 milhões da Sudam assim. Depois, R$ 60 mil em cheques de Borges foram parar na conta de Tourinho. O seu indicado alegou que vendeu terreno a Borges. Não tinha recibo, não tinha registro em cartório. Depois, falou que desfizera o negócio após assumir a Sudam e que devolveria o dinheiro.
Jader
- Ninguém pode se sentir responsável pelo desempenho de alguém que você indica imaginando que a pessoa tenha todas as credenciais para a função.


Folha - Isso é cômodo, senador. Não é lavar as mãos?
Jader
- Minutinho. Tony Blair, na Inglaterra, acabou de demitir um ministro porque ele teria cometido deslizes. Nem por isso se acha que o Tony Blair é responsável pessoal pelo deslize.


Folha - Collor (o ex-presidente Fernando Collor) então pode dizer que não tem responsabilidade sobre o que o PC fazia.
Jader
- Aí é diferente.


Folha - É o mesmo raciocínio.
Jader
- Não admito a comparação.


Folha - Não estamos comparando, mas dizendo que seu raciocínio vale para o Collor.
Jader
- Fui informado de que essa possível transação (venda do terreno) e o depósito teriam ocorrido anos antes de Tourinho assumir a Sudam, quando ele era diretor do Banco da Amazônia.


Folha - Não é estranho um diretor de banco não ter um recibo, um registro em cartório da venda do terreno?
Jader
- Isso ele tem de responder e vai responder. Quando o indiquei, ele tinha oito anos de diretoria no Banco da Amazônia sem nenhum registro na sua conduta funcional.
Como também apoiei o doutor Maurício Vasconcelos. Quem indicou foi o ministro Fernando Bezerra (do PMDB, de Jader).


Folha - O sr. Maurício Vasconcelos, substituto de Tourinho, liberou R$ 44 milhões para um empresário sem exigir contrapartida nenhuma. Vasconcelos foi demitido do Ministério da Integração Nacional, no qual ocupava o segundo posto, porque o governo achou que ele não se explicou quando deu entrevista sobre o tema. Isso não é desabonador?
Jader
- Um minutinho só, estou dizendo da indicação. Foi secretário de Tancredo e trabalhou com Sarney na Presidência. Não posso ser absolutamente responsabilizado por pessoas que mereceram minha solidariedade na indicação e das quais eu não tinha nenhum registro de deslize.


Folha - E a sua opinião sobre os fatos e sobre os dois hoje?
Jader
- Apurar tudo. Se forem culpados, que sejam punidos


Folha - O sr. pelo menos se penitencia por uma indicação que deu errado, está sob suspeita?
Jader
- Não, em absoluto.


Folha - O sr. é amigo de José Osmar Borges, o campeão de liberações da Sudam?
Jader
- Eu o conheço há muitos anos, como conheço inúmeros empresários da Sudam.


Folha - É amigo?
Jader
- Não é meu amigo. Conheço. Tenho relacionamento com ele, como tenho com outros que têm interesse na Sudam.


Folha - Em algum momento o sr. intercedeu a favor de um pedido dele? Foi à fazenda dele?
Jader
- Não intercedi. Conheci a fazenda dele.


Folha - Isso não constrange o sr.? O sr. indica um superintendente para a Sudam que está sob suspeita e ao mesmo tempo frequenta a fazenda de um empresário que recebeu uma liberação de R$ 100 milhões do seu indicado com notas frias...
Jader
- Não, não. Esse empresário já tinha aprovado três projetos na Sudam antes de o doutor Tourinho tomar posse, inclusive com certificado de implantação.


Folha - O que o sr. acha de esse empresário ter apresentado notas frias?
Jader
- Totalmente errado.


Folha - Essa conjunção de coisas contra o sr., o patrimônio, as relações, as nomeações, forjou uma imagem compatível com a de presidente do Congresso?
Jader
- Não vejo incompatibilidade. Não há acusação formalizada contra mim. Quero saber do que eu sou acusado.


Folha - De ter indicado pessoas suspeitas de deslizes.
Jader
- Não se pode estender responsabilidades, nem sob o ponto de vista político nem pessoal.


Folha - Se o sr. for eleito presidente do Senado, o sr. pode ficar vulnerável nessa área? Numa discussão sobre CPI, por exemplo, o acusado pode botar o dedo e perguntar: "O sr. foi acusado de ladrão. Quem é o sr. para me investigar?"
Jader
- Em absoluto. Não posso admitir que o conceito e o juízo dos meus adversários sejam ao mesmo tempo um julgamento. Quem acusa tem de provar a procedência da acusação.
 

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