Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
25/03/2001 - 09h55

Relatório do BC liga aliado de Jader a desvio no Banpará

Publicidade

WLADIMIR GRAMACHO
da Folha de S.Paulo, em Belém

Relatório do Banco Central (BC) aponta o ex-diretor do Banpará Hamilton Guedes, indicado pelo então governador e atual presidente do Senado, Jader Barbalho, como provável beneficiário de depósito de US$ 50 mil, em 1985, proveniente de recursos da própria instituição, após transação triangular.

Jader Barbalho (PMDB-PA) apoiou Hamilton Guedes como candidato a deputado estadual em 1986, contratou-o como assessor especial quando governou de 1991 a 1994 e o mantém como advogado do PMDB no Pará.

Em 12 de fevereiro de 1985, o Instituto Tecnológico de Brasília (ITB) recebeu do Banpará US$ 200 mil (Cr$ 742 milhões) por serviços prestados ao banco.

O dinheiro foi dividido em três ordens de pagamento. Uma delas foi descontada na agência do Banco Industrial e Comercial (BIC) de Belém um dia depois. Minutos antes, segundo o BC, o mesmo caixa havia registrado depósito de idêntico valor na conta 0716-6, mantida por Guedes no BIC.
Em valores históricos, os Cr$ 185,5 milhões depositados na conta equivaliam a US$ 50 mil -hoje, superariam R$ 150 mil.

"O cheque administrativo 44542, no valor de Cr$ 185,5 milhões, foi pago pelo caixa do próprio BIC/Belém, conforme comprova a fita de caixa do dia 13 de fevereiro de 1985, na autenticação 030, sendo que, nesta mesma data, ainda conforme a mesma fita de caixa, na autenticação 028, foi efetuado depósito na conta 0716-6, de Hamilton Francisco Assis Guedes", diz o relatório do BC.

Como o depósito foi feito em dinheiro e não por meio de ordem bancária ou cheque, o então chefe do Departamento de Fiscalização do BC, Adílson Rodrigues Ferreira, escreveu: "Esse depósito, apesar de não podermos confirmar a sua vinculação com o cheque administrativo, chamou a nossa atenção pela coincidência de valor e data". Nos documentos obtidos pela Folha, não há informação sobre o destino do dinheiro.

Apesar de não ser citado, Jader mais uma vez prestou apoio ao amigo, contratando uma advogada para defender o instituto que teria repassado dinheiro para a conta de Guedes.

"Fui contratada por uma pessoa enviada por Jader Barbalho. Ele (o senador) me pagaria pelos serviços", conta Maria Lúcia Andrade, que diz ter recebido do emissário de Jader parte do dinheiro, ainda no início dos anos 90. Ficaram faltando US$ 1.500, segundo ela.

A principal tarefa da advogada era protelar na Justiça as investigações que levariam aos beneficiários de recursos do Banpará destinados, a princípio, ao ITB.

Uma das primeiras providências da advogada foi mover processo contra o perito designado pela Justiça para investigar os depósitos, John Newton Seixas Queiroga. A Folha tem cópia da ação em que ele é acusado de tentar promover uma "devassa ilegal" no ITB e na vida de seu presidente, Agnaldo Menezes Dantas.

Maria Lúcia disse que ficou intrigada ao ser contratada por um político do Pará para defender um instituto de Brasília. "Realmente é curioso. Mas eu gosto de trabalhar e detesto política."

Ex-dirigentes do Banpará apontam Guedes como "o homem de Jader" no banco, no início da década passada, e como o mentor das operações que teriam desviado US$ 10 milhões para contas do peemedebista e de pessoas ligadas a ele. Nessas operações, eram utilizados cheques administrativos da agência central do banco.

Outro lado

O ex-diretor do Banpará Hamilton Guedes, mais uma vez, não quis comentar as informações sobre seu envolvimento com o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e com os desvios no Banpará.

Procurado pela Folha, Hamilton Guedes disse que não tinha interesse em conversar sobre o assunto e desligou o telefone sem dar mais informações.
A assessoria de imprensa de Jader Barbalho falou por ambos. Informou que nem o senador nem Hamilton Guedes lembram da contratação da advogada Maria Lúcia Andrade.

Ela atuou para impedir que a Justiça chegasse aos beneficiários de pagamentos feitos pelo Banpará ao Instituto Tecnológico de Brasília (ITB), em 1985.

Duas versões

Em Brasília, o empresário Agnaldo Menezes Dantas, sócio-fundador do ITB, disse desconhecer a advogada Maria Lúcia Andrade.

Apesar da negativa de Jader e Guedes, a informação dada por Dantas pode reforçar a declaração da advogada, que afirma ter sido contratada pelo então governador Jader Barbalho, no início dos anos 90.

Na quinta-feira, Agnaldo Dantas apresentou à Folha duas versões diferentes para explicar por que o ITB recebeu US$ 200 mil do Banpará.
Primeiro, afirmou que entre 1984 e 1985, período em que o Banco Central (BC) identificou a emissão de cheque administrativo em favor da empresa, o ITB, uma associação de professores registrada como pessoa jurídica sem fins lucrativos, prestava serviços de consultoria a Edson Sossai Cipriano.

No pacote dos clientes de Cipriano estaria o Banpará, para o qual o ITB teria prestado assessoria para fins de reestruturação e modernização de procedimentos bancários.

"O Edson tinha contatos com a administração pública e o sistema bancário. Trabalhamos para ele, não para o Banpará. Foram serviços para bancos e, entre eles, poderia estar o Banpará", afirmou Dantas.

Em nova entrevista, Dantas afirmou que Sossai era sócio do ITB, onde era secretário de Planejamento. Ressalvou, porém, que, como os demais integrantes da sociedade, Sossai também tinha negócios particulares e, às vezes, recrutava mão-de-obra auxiliar do ITB.

"Mas ele (Sossai) trabalhava mais com sua estrutura própria, fora do ITB, que contava com outros dois técnicos", declarou Dantas.

Ainda nessa segunda entrevista, o empresário levantou a possibilidade de o ITB ter enviado ao Banpará uma proposta de trabalho. Mas afirmou desconhecer a existência de qualquer contrato firmado como resultado disso. "Muito menos em valores tão altos. Só se há alguma coisa menor, mas precisamos fazer um levantamento geral na contabilidade."

Segundo Dantas, a hipótese mais provável para o surgimento do nome do ITB nas investigações do BC sobre o Banpará é o uso indevido do nome e dos dados da empresa para montar uma operação fraudulenta.

O ITB foi fundado em 1977. Em sua primeira investida, os sócios da empresa, moldada com perfil filantrópico, tentaram abrir faculdades em Minas Gerais. Fracassaram. Voltaram-se, então, para o Distrito Federal.

Dantas, que à época já era dono de um curso pré-vestibular, construiu com sua família um complexo de ensino, que inclui duas unidades do colégio e faculdade AD1, em Ceilândia, e o Instituto Compacto de Ensino Superior e Pesquisa (Icesp), no Guará, ambas cidades-satélites de Brasília.


 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página