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27/03/2001 - 07h43

Confronto com PMs fere 16 sem-terra em MG

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ELIANE SILVA
da Agência Folha, em Ribeirão Preto
ELAINE RESENDE
Free-lance para Agência Folha

Um confronto entre cerca de 60 policiais militares e 350 militantes do MST causou ferimentos em 16 sem-terra na noite de anteontem, no município de Uruana de Minas, no noroeste mineiro.

Policiais e sem-terra permaneciam, até a noite de ontem, ocupando as extremidades do local do conflito, uma ponte de madeira que une Uruana ao município de Arinos. O local fica a 15 km da fazenda Renascença, propriedade do embaixador brasileiro na Itália, Paulo Tarso Flecha de Lima, que, segundo a PM de Minas, seria alvo de uma invasão do MST.

O sem-terra Evandro Teixeira da Costa foi atingido no pescoço por uma bala de borracha e permanece internado em estado regular. Jorge Augusto Xavier de Almeida, líder do movimento, foi preso e liberado ontem.

O comboio de manifestantes, com sete ônibus, quatro caminhões e uma carreta, tentou furar o bloqueio da PM na ponte. Os policiais responderam com balas de borracha, bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo.

A PM disse que agiu para impedir a invasão da fazenda, cujos preparativos teriam sido detectados pelo serviço secreto da polícia. A ordem para proteger a fazenda partiu do governador Itamar Franco (PMDB).
"Usamos tática de guerrilha para bloquear a ponte, porque cercar os sem-terra na fazenda seria mais difícil", disse o tenente Elias Andrade Oliveira. Os policiais contaram com o auxílio de dois helicópteros.

O MST negou que estivesse preparando uma invasão e afirmou que seu objetivo era fazer uma vigília de protesto. "Agora o clima mudou. Os companheiros estão revoltados com as agressões e a prisão e vão fazer de tudo para chegar ao local", disse ontem Antonio Nascimento da Silva, coordenador estadual do movimento.

A Renascença, de 5.000 hectares, produz algodão, milho e soja e fica a 60 km da fazenda Córrego da Ponte, em Buritis, de propriedade dos filhos do presidente Fernando Henrique Cardoso, que já foi alvo de tentativa de invasões do MST no ano passado.

"A tentativa de invasão é um ato político, porque a Renascença é altamente produtiva e gera cerca de 200 empregos", disse o prefeito de Arinos, Sebastião Caetano de Oliveira (PSDB), 46.

Os dois lados buscaram reforços ontem. Mais 30 policiais, com cães, foram deslocados de Patos de Minas, e os sem-terra aguardavam a chegada de militantes de outros acampamentos da região.

O protesto tem como objetivo principal, segundo o MST, denunciar a política de crédito do governo federal e a falta de acordo na pauta local de reivindicações.

Itamar Franco enviou uma carta ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, na qual diz que a PM está atuando no sentido de manter a ordem no local e evitar a invasão.

No documento, o governo mineiro reitera a "necessidade imperiosa" da presença, no local do conflito, do presidente do Incra, Sebastião Azevedo, para negociar com os representantes do MST.

Durante entrevista, Itamar afirmou que não aceita provocação do MST ou de organismos federais e que não hesitará em responsabilizar o governo federal pela "ausência e incapacidade na negociação envolvendo o Incra e as lideranças do movimento, o que certamente contribuirá para o agravamento do quadro, com consequências imprevisíveis".

Izabel Flecha de Lima, filha do embaixador, disse que a fazenda nunca sofreu ameaças de invasão, e que é um "alvo político". "Confio na polícia mineira para impedir a invasão." Ela está informando o pai, na Itália, sobre o conflito envolvendo a propriedade.


 

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