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01/04/2001
-
09h13
FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo
É falso um dos papéis mais importantes do dossiê Caribe: um extrato bancário -até hoje inédito na mídia- no valor de US$ 352,971 milhões. A informação foi obtida pela Folha em caráter definitivo na última sexta-feira.
Depois de longa investigação com a ajuda de pessoas que têm acesso informal a informações financeiras na Suíça, a Folha procurou oficialmente o banco no qual estaria a conta bancária principal do dossiê Caribe. Trata-se do banco de investimentos britânico-suíço Schroders. O extrato falso seria de uma agência dessa instituição em Zurique.
O responsável pelo mercado de América Latina do Schroders, Bernhard H. Leibkutsch, recebeu da Folha uma cópia por fax do suposto extrato. Respondeu por escrito: "O extrato bancário que você nos enviou é definitivamente falso".
Esse extrato bancário falso era a peça mais relevante do dossiê Caribe -conjunto de papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta empresa e conta no exterior do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro José Serra (Saúde), do ministro Sérgio Motta (Comunicações, morto em 1998) e do governador paulista Mário Covas (morto neste ano). O dossiê apareceu na mídia em novembro de 98.
O extrato bancário falso tem quatro páginas, além de uma de apresentação. O dono da suposta conta seria a empresa CH, J & T.
A CH, J & T é uma empresa legalmente constituída em Nassau, capital das Bahamas -conhecido paraíso fiscal no Caribe, onde é possível abrir uma firma sem que o nome do proprietário fique conhecido. O dossiê Caribe sugere que a empresa seria de propriedade da cúpula tucana.
Cópia
Poucas pessoas conheciam o suposto extrato bancário do dossiê Caribe. A Polícia Federal do Brasil não tem cópia desse papel. A Folha obteve uma reprodução há 29 meses, em novembro de 98.
O material não havia sido publicado até agora porque o jornal continuava a procurar formas de checar os dados ali contidos.
O fato de o extrato falso do Schroders nunca ter sido publicado ajudou a difundir um valor equivocado do que seria o saldo da suposta conta bancária da CH, J & T. Alguns políticos e pelo menos um advogado que tiveram acesso visual ao papel diziam que o total era de US$ 368 milhões.
Na realidade, o falsificador optou por uma cifra um pouco menor: US$ 352,971 milhões. Desse total, segundo consta no papel falsificado, US$ 351,263 milhões estavam disponíveis e US$ 1,708 milhão seria referente a rendimento de aplicação ainda a ser creditado.
O papel com o logotipo do Schroders tem data de 4 de agosto de 1998. Os US$ 351,263 milhões aparecem no falso extrato como sendo o saldo de 31 de julho de 1998. O valor está assim dividido:
1) investimento a prazo - US$ 236,482 milhões a uma taxa de 6,40% ao ano, no Barclays Bank;
2) investimento de curto prazo -US$ 86,126 milhões, a uma taxa de 5,4% ao ano;
3) dinheiro em conta, sem aplicação - US$ 28,654 milhões.
À época que o dossiê Caribe apareceu na mídia, algumas pessoas que divulgaram os papéis alegavam que o alto valor (US$ 28,654 milhões) sem aplicação era por causa da proximidade da campanha eleitoral daquele ano -quando supostamente os fundos teriam de ser usados pelos tucanos.
Protocolar
A Folha buscou saber como foi produzida a falsificação. O mais provável, segundo o jornal apurou, são duas hipóteses.
Primeiro, alguém com proximidade a algum correntista do Schroders obteve cópia de um extrato verdadeiro a partir do qual montou o falso.
A segunda hipótese é que alguém do próprio banco tivesse fornecido os papéis. Além de perguntar se o Schroders poderia atestar a falsidade ou veracidade do suposto extrato bancário, a Folha também quis saber do banco se a CH, J & T teve no passado alguma conta com essa instituição.
A resposta do Schroders foi protocolar: "Por causa de razões legais, nós não podemos responder à sua segunda pergunta. A lei de segredo bancário na Suíça nos proíbe de informar a um terceiro sobre a existência ou não (de contas bancárias) ou sobre relações passadas com ex-clientes".
Essa é uma precaução conhecida de instituições bancárias. Mesmo que a CH, J & T nunca tenha mantido uma conta no Schroders, o banco não poderia fornecer essa informação.
Se o fizesse, estaria obrigado a proceder dessa forma sempre que indagado a respeito de outras empresas -o que seria um risco, pois algum dia poderia aparecer alguma firma que de fato fosse sua cliente.
Tese
Com a revelação de que o extrato bancário do dossiê Caribe é falso, fica reforçada a tese sempre divulgada pelo Palácio do Planalto a respeito do caso: trata-se apenas de um conjunto de papéis forjados. Até agora, entretanto, continua sem resposta o fato de a empresa CH, J & T existir.
Segundo uma das pessoas acusadas de ter montado ou ajudado a montar o dossiê Caribe, o brasileiro radicado em Miami Oscar de Barros, é possível que Sérgio Motta tenha sido mesmo um dos responsáveis pela empresa.
Na versão do governo, alguém pode ter criado a CH, J & T e colocado o nome de Sérgio Motta como um dos responsáveis à revelia do tucano. Segundo a Folha apurou, essa operação não seria tão fácil assim, embora não seja uma hipótese impossível.
Quanto aos outros papéis do dossiê Caribe, nunca se conseguiu provar nada a respeito deles. A parte mais relevante é a que Sérgio Motta supostamente transfere cotas da CH, J & T para Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Mário Covas. O governo classifica esses papéis como uma farsa. A PF investigou o caso e nunca chegou a uma conclusão a respeito.
Até agora, há apenas duas certezas sobre o dossiê Caribe. Primeiro, que a sua parte inicial (a empresa CH, J & T) existe. Segundo, que o trecho final (o extrato do Schroders) é falso.
Ainda não se conhece a história completa sobre o miolo do dossiê, quem falsificou o extrato nem quem abriu a empresa.
Extrato de US$ 352,9 mi, do dossiê Caribe, é falso, diz banco na Suíça
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FERNANDO RODRIGUES
da Folha de S.Paulo
É falso um dos papéis mais importantes do dossiê Caribe: um extrato bancário -até hoje inédito na mídia- no valor de US$ 352,971 milhões. A informação foi obtida pela Folha em caráter definitivo na última sexta-feira.
Depois de longa investigação com a ajuda de pessoas que têm acesso informal a informações financeiras na Suíça, a Folha procurou oficialmente o banco no qual estaria a conta bancária principal do dossiê Caribe. Trata-se do banco de investimentos britânico-suíço Schroders. O extrato falso seria de uma agência dessa instituição em Zurique.
O responsável pelo mercado de América Latina do Schroders, Bernhard H. Leibkutsch, recebeu da Folha uma cópia por fax do suposto extrato. Respondeu por escrito: "O extrato bancário que você nos enviou é definitivamente falso".
Esse extrato bancário falso era a peça mais relevante do dossiê Caribe -conjunto de papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta empresa e conta no exterior do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro José Serra (Saúde), do ministro Sérgio Motta (Comunicações, morto em 1998) e do governador paulista Mário Covas (morto neste ano). O dossiê apareceu na mídia em novembro de 98.
O extrato bancário falso tem quatro páginas, além de uma de apresentação. O dono da suposta conta seria a empresa CH, J & T.
A CH, J & T é uma empresa legalmente constituída em Nassau, capital das Bahamas -conhecido paraíso fiscal no Caribe, onde é possível abrir uma firma sem que o nome do proprietário fique conhecido. O dossiê Caribe sugere que a empresa seria de propriedade da cúpula tucana.
Cópia
Poucas pessoas conheciam o suposto extrato bancário do dossiê Caribe. A Polícia Federal do Brasil não tem cópia desse papel. A Folha obteve uma reprodução há 29 meses, em novembro de 98.
O material não havia sido publicado até agora porque o jornal continuava a procurar formas de checar os dados ali contidos.
O fato de o extrato falso do Schroders nunca ter sido publicado ajudou a difundir um valor equivocado do que seria o saldo da suposta conta bancária da CH, J & T. Alguns políticos e pelo menos um advogado que tiveram acesso visual ao papel diziam que o total era de US$ 368 milhões.
Na realidade, o falsificador optou por uma cifra um pouco menor: US$ 352,971 milhões. Desse total, segundo consta no papel falsificado, US$ 351,263 milhões estavam disponíveis e US$ 1,708 milhão seria referente a rendimento de aplicação ainda a ser creditado.
O papel com o logotipo do Schroders tem data de 4 de agosto de 1998. Os US$ 351,263 milhões aparecem no falso extrato como sendo o saldo de 31 de julho de 1998. O valor está assim dividido:
1) investimento a prazo - US$ 236,482 milhões a uma taxa de 6,40% ao ano, no Barclays Bank;
2) investimento de curto prazo -US$ 86,126 milhões, a uma taxa de 5,4% ao ano;
3) dinheiro em conta, sem aplicação - US$ 28,654 milhões.
À época que o dossiê Caribe apareceu na mídia, algumas pessoas que divulgaram os papéis alegavam que o alto valor (US$ 28,654 milhões) sem aplicação era por causa da proximidade da campanha eleitoral daquele ano -quando supostamente os fundos teriam de ser usados pelos tucanos.
Protocolar
A Folha buscou saber como foi produzida a falsificação. O mais provável, segundo o jornal apurou, são duas hipóteses.
Primeiro, alguém com proximidade a algum correntista do Schroders obteve cópia de um extrato verdadeiro a partir do qual montou o falso.
A segunda hipótese é que alguém do próprio banco tivesse fornecido os papéis. Além de perguntar se o Schroders poderia atestar a falsidade ou veracidade do suposto extrato bancário, a Folha também quis saber do banco se a CH, J & T teve no passado alguma conta com essa instituição.
A resposta do Schroders foi protocolar: "Por causa de razões legais, nós não podemos responder à sua segunda pergunta. A lei de segredo bancário na Suíça nos proíbe de informar a um terceiro sobre a existência ou não (de contas bancárias) ou sobre relações passadas com ex-clientes".
Essa é uma precaução conhecida de instituições bancárias. Mesmo que a CH, J & T nunca tenha mantido uma conta no Schroders, o banco não poderia fornecer essa informação.
Se o fizesse, estaria obrigado a proceder dessa forma sempre que indagado a respeito de outras empresas -o que seria um risco, pois algum dia poderia aparecer alguma firma que de fato fosse sua cliente.
Tese
Com a revelação de que o extrato bancário do dossiê Caribe é falso, fica reforçada a tese sempre divulgada pelo Palácio do Planalto a respeito do caso: trata-se apenas de um conjunto de papéis forjados. Até agora, entretanto, continua sem resposta o fato de a empresa CH, J & T existir.
Segundo uma das pessoas acusadas de ter montado ou ajudado a montar o dossiê Caribe, o brasileiro radicado em Miami Oscar de Barros, é possível que Sérgio Motta tenha sido mesmo um dos responsáveis pela empresa.
Na versão do governo, alguém pode ter criado a CH, J & T e colocado o nome de Sérgio Motta como um dos responsáveis à revelia do tucano. Segundo a Folha apurou, essa operação não seria tão fácil assim, embora não seja uma hipótese impossível.
Quanto aos outros papéis do dossiê Caribe, nunca se conseguiu provar nada a respeito deles. A parte mais relevante é a que Sérgio Motta supostamente transfere cotas da CH, J & T para Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Mário Covas. O governo classifica esses papéis como uma farsa. A PF investigou o caso e nunca chegou a uma conclusão a respeito.
Até agora, há apenas duas certezas sobre o dossiê Caribe. Primeiro, que a sua parte inicial (a empresa CH, J & T) existe. Segundo, que o trecho final (o extrato do Schroders) é falso.
Ainda não se conhece a história completa sobre o miolo do dossiê, quem falsificou o extrato nem quem abriu a empresa.
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