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03/04/2001 - 08h03

Presidente critica a Folha por causa do dossiê Caribe

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da Folha de S.Paulo

O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a Folha na cerimônia de criação da Corregedoria Geral da União. Ao citar reportagem publicada pelo jornal no domingo ("Extrato bancário do dossiê Caribe é falso"), o presidente disse: "Dossiê Cayman. Desse, me dá gosto de falar hoje. Porque eu li, ontem, um artigo de um dos principais divulgadores do dossiê Cayman, dizendo que ele é uma farsa. Lamento, só, que o jornal tivesse levado dois anos e oito meses para dizer o que eu sabia: que é uma farsa".

O presidente se confundiu ao fazer referência à reportagem da Folha. O jornal não disse que o dossiê Caribe "é uma farsa". Apenas um trecho dos papéis contidos no dossiê é falso.

O dossiê Caribe é um conjunto de papéis sem autenticidade comprovada sobre suposta empresa (a CH, J & T) e conta no exterior do presidente Fernando Henrique Cardoso, do ministro José Serra (Saúde), do ministro Sérgio Motta (Comunicações, morto em 1998) e do governador paulista Mário Covas (morto neste ano).

Em sua reportagem de domingo, a Folha trata apenas de uma conta bancária citada no dossiê Caribe, e não "contas", como afirmou FHC em seu discurso.

Sobre a publicação da informação no domingo, o jornal publicou que teve cópia do extrato em novembro de 98, há 29 meses. Não o publicara até então porque procurava meios de provar se o papel era falso ou verdadeiro.

Primeiro, como informou a reportagem, foi realizada uma extensa investigação informal para checar o conteúdo do suposto extrato, cujo saldo era de US$ 352,9 milhões. Essa checagem foi feita na Suíça, com o auxílio de pessoas que puderam verificar para o jornal se havia procedência nos dados contidos no papel - uma mera fotocópia.

Uma vez confirmado informalmente que os dados eram forjados, o jornal então entrou em contato formal com o banco mencionado no extrato - o britânico-suíço Schroders. Obteve uma declaração oficial da instituição, atestando a falsidade da suposta conta bancária.

No seu discurso de ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso dá como inteiramente falso o dossiê Caribe: "Não sei que banco é esse, não conheci banco nenhum. De qualquer maneira, não se deve nem se perder mais tempo com alguma coisa cuja falsidade é patente. E que os que distribuíram esse dossiê foram objeto de uma ação que eu estou movendo aqui, no Brasil, porque não tive, nunca, acesso a esses papéis. De tão imundos que são, não chegaram às minhas mãos, porque acho que não tiveram coragem de me mostrar tal podridão".

Na realidade, há pelo menos um trecho do dossiê que é verdadeiro. A empresa CH, J & T, peça central dos papéis, existe e tem registro em Nassau, capital das Bahamas - a Folha publicou essa informação em sua edição de 11 de novembro de 98, apresentando os documentos dessa firma.

Diferentemente do que afirma o presidente, não há provas definitivas sobre a falsidade do restante do dossiê - apesar de a descoberta da Folha a respeito do extrato bancário forjado reforçar a tese de defesa do Planalto.

Teria sido possível esclarecer o caso no início de 99. A Polícia Federal sugeriu que fossem enviadas cartas rogatórias para os países citados no dossiê Caribe. A carta rogatória é o instrumento usado por países para intercambiar informações que podem servir em um processo judicial.

FHC entretanto não demonstrou interesse por esse caminho. Em 5 de maio de 99, o presidente decidiu apenas solicitar que fossem processadas os possíveis divulgadores do dossiê - Paulo Maluf (ex-prefeito de São Paulo), Lafayete Coutinho (ex-presidente do Banco do Brasil) e Caio Fábio (pastor presbiteriano). "Eu acho um desrespeito ao país levar tantos anos especulando sobre uma farsa, quando todos nós, homens responsáveis, de vida pública aberta, dissemos sempre que era uma farsa", disse FHC.


 

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