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22/04/2001 - 03h53

Escândalo do Senado abala tríplice aliança

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KENNEDY ALENCAR, da Folha de S.Paulo, em Brasília

A crise do Senado não é uma daquelas típicas de Brasília, que começam na terça-feira, fervem na quarta e murcham na quinta. É a crise das forças que sustentaram seis anos de mandato de FHC, com risco de respingar no PT. Na opinião do governo e da elite do Congresso, está fora de controle e poderá produzir efeitos hoje imponderáveis.

Uma avaliação reúne governistas e oposição: é a impossibilidade de uma operação abafa -seja do Palácio do Planalto para salvar aliados, seja uma rede de proteção dos partidos governistas e da oposição para resgatar lideranças em processo de desmoralização ou sob ameaça de cassação.

"Não interessa ao país, não interessa ao Planalto e não interessa ao Senado varrer tanta sujeira para baixo do tapete", diz o líder do governo no Congresso, o tucano Arthur Virgílio (AM).

"O Marco Maciel [vice-presidente e pefelista" costuma dizer que tudo pode acontecer, inclusive nada. No caso, a probabilidade de acontecer nada é pequena", afirma o líder do PT no Senado, José Eduardo Dutra (SE).

O presidente Fernando Henrique Cardoso transmitiu a seus ministros e aliados que hoje uma operação abafa levaria o governo para o centro da crise. Para ele, a opinião pública faria pressão e criaria a CPI da corrupção.

FHC crê que os partidos que o apóiam sofreram abalos que trarão perdas ao governo. Mas preferirá administrá-las depois a tentar resolvê-las já. Até vê um lado bom: a crise moral se desviou do Executivo para o Legislativo.

"O problema começou no Congresso. Deve ficar lá até se resolver", diz o presidente, atribuindo a gênese da crise à guerra que travam há um ano o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), seu antecessor.

FHC avalia que Jader e ACM travam um duelo que acabará por matar a ambos politicamente. Quer descolar os caciques feridos dos partidos que o sustentam. Em silêncio, torce pela cassação de ACM. E, mesmo sem dizê-lo, considera Jader um aliado incômodo.

O presidente disse a peemedebistas que não prejudicará o presidente do Senado, mas, se as investigações na Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) chegarem a ele, não quer que o PMDB venha cobrar a fatura do governo.

A convicção em Brasília é que dificilmente ACM, ex-presidente do Senado, e José Roberto Arruda (PSDB-DF), ex-líder do governo na Casa, escaparão da perda do mandato. Eles são acusados de premeditar e ordenar a violação do sigilo do painel do Senado na votação que cassou Luiz Estevão.

Jader sabe que pode se tornar a "bola da vez" devido ao risco de ser atingido por fraudes na Sudam e o desvio de recursos do Banpará. Em conversas reservadas, Jader demonstrou ciência da gravidade e imprevisibilidade da crise: "O fato político quando ganha pernas perde a cabeça".

Apesar de não ser alvo de denúncias e investigações, senadores do PT também podem sair perdendo com a crise.

Após passagem-relâmpago de Luiz Inácio Lula da Silva na quarta e quinta por Brasília, Dutra discursou para evitar que Arruda e ACM o envolvessem entre os que tinham ciência da lista dos votos contra e a favor da cassação de Luiz Estevão.

Virtual candidato a presidente, Lula foi claro: o PT não pode passar a imagem de querer abafar nada, sob pena de se desmoralizar como defensor da ética, a exemplo de ACM. A senadora petista Heloísa Helena (SE) sofre com a suspeita de ter ficado ao lado de Estevão. O presidente do PT, José Dirceu, disse confiar nela, mas deixou claro que o partido "não teme investigação".

O PFL cumpriu o roteiro de solidariedade formal a ACM, com o protocolar pedido de direito à defesa. No meio da semana, o presidente da sigla, Jorge Bornhausen (SC), e o ministro das Comunicações, o tucano Pimenta da Veiga, se reuniram. Avaliaram que a crise poderá cortar as cabeças de ACM e de Jader. O PFL do B, ala de Bornhausen e de Maciel, está pronto para deixar ACM à própria sorte. Mas quer dar o troco em Jader para não perder só.

  • Colaborou JULIA DUAILIBI, da Reportagem Local
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