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23/04/2001 - 08h00

Relator do Conselho de Ética acha difícil abafar violação do painel

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VERA MAGALHÃES
da Folha de S.Paulo

Para o relator do processo sobre a violação do painel eletrônico no Conselho de Ética do Senado, Roberto Saturnino Braga (PSB-RJ), 69, não há como abafar as investigações para poupar Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (PSDB-DF).

Ele afirma ter certeza de que a ordem para violar o sigilo da votação da cassação do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF), em junho do ano passado, partiu de um senador. "Alguém mandou fazer. A pergunta é: quem mandou?"

Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo senador em seu gabinete, na última sexta-feira.

Folha - No ano passado, o Senado cassou, pela primeira vez, um senador. Agora, pode-se abrir processos contra outros dois. Como fica a imagem da instituição?
Roberto Saturnino Braga
- Já houve várias cassações em Assembléias Legislativas por todo o país e na Câmara dos Deputados. Não é uma situação específica do Senado, mas é reflexo de uma crise que atinge toda a classe política.


Folha - É a pior crise do Senado?
Saturnino
- Nunca vi nada tão grave. Acho que isso é reflexo de uma grande transformação da vida política do país. A população está mais exigente em relação à ética, à verdade e à transparência.


Folha - O Senado vai fazer um julgamento corporativo e abafar as denúncias ou vai até o fim?
Saturnino
- Acho difícil abafar, pela pressão da opinião pública. Os senadores ouvem cobranças em seus Estados. Essa pressão -que é a essência da democracia- vai levar a um comportamento não corporativo. Mesmo entre os partidários de ambos [Arruda e ACM". Percebo que a disposição é apurar até o fim.


Folha - Como avalia o depoimento de Regina Borges?
Saturnino
- Achei muito convincente, completo e verossímil. Faltaram alguns detalhes, mas é natural, porque os fatos aconteceram há alguns meses.


Folha - O sr. compartilha da tese de que ela e os demais funcionários poderiam ter a pena atenuada por terem confessado a fraude?
Saturnino
- Haverá um primeiro atenuante - que não a exime da culpa - se provado que houve um mandante. O segundo vem do fato de ela ter aberto a verdade e exposto a si mais que aos outros. Terá de haver punição, mas as atenuantes podem reduzi-la.


Folha - O sr. acha que a situação de Arruda e ACM é igual?
Saturnino
- Preciso verificar se houve e até que ponto houve acerto prévio, se um tomou a iniciativa em nome de outro ou se, até, não houve iniciativa deles. Isso deve ser esclarecido com o depoimento. Eles terão de depor, e será um indício forte de mudança da prática política. O interesse é deles mesmos, porque estão sendo observados pela nação inteira.


Folha - A defesa de Arruda foi cheia de álibis e declarações. O sr. acredita na versão dele ou na de Regina?
Saturnino
- Quero ouvir o depoimento do senador no Conselho de Ética. Pode ser que ele tenha esquecido de algo, porque as coisas se passaram há vários meses. Agora, o depoimento dela [Regina" foi muito convincente. Acredito que, ao depor, [Arruda" leve em consideração que o depoimento dela foi muito completo.


Folha - O sr. acha que ficou clara a participação do senador ACM?
Saturnino
- Isso é um dos pontos principais a esclarecer. Segundo o depoimento dela, não foi o senador Antonio Carlos que a achacou e disse: "Quero que faça isso".


Folha - A finalidade da fraude também ainda não ficou clara.
Saturnino
- A pergunta pelo mandante é óbvia por isso. Sem mandante, por que os funcionários fizeram isso? Ninguém pode acreditar que uma operação complexa, durante uma madrugada, com várias pessoas, fosse brincadeira. A hipótese que excluiria o mandante seria a de fazerem isso para chantagear alguém, mas isso teria aparecido. A pergunta é: Quem mandou?


Folha - O sr. acha que podem ser comparadas as situações dos dois senadores acusados dessa fraude e a de Jader Barbalho, sobre quem pairam denúncias de corrupção?
Saturnino
- Não é o mesmo pacote. Isso não quer dizer que sobre o senador Jader não pesem acusações que talvez até sejam mais graves, mas que não se caracterizam tão claramente como quebra de decoro parlamentar, que é o objeto dessa investigação.


Folha - O sr. acredita em um pacto governista para livrar a todos?
Saturnino
- Seria uma desmoralização tão absoluta dos partidos, uma manobra tão descarada, que não acredito que aconteça.

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