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24/04/2001 - 07h55

Direção do PT ignora as bases, diz Suplicy

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CÉLIA CHAIM
SANDRA BRASIL

da Folha de S.Paulo

O senador Eduardo Suplicy voltou a sorrir. Ele está trabalhando muito, lendo quatro livros, correndo 8 quilômetros (em novembro, corria 1,5 quilômetro; segundo sua treinadora, Tatiana Abicair, "ele está numa fase em que precisa soltar os bichos").

Paparicado pelas irmãs, sobrinhos, amigos e principalmente pela mãe, dona Filomena, 92 anos, que o chama de "filhinho" e que está adorando tê-lo como hóspede no escritório convertido em quarto às pressas, quando seu filho e sua nora Marta se separaram, menos de um mês atrás.

Ninguém naquele apartamento, decorado com móveis de época, obras de arte e objetos valiosos, toca no assunto que fez Eduardo chorar. Fortalecido, o senador se recusa a falar de seus problemas pessoais com a prefeita Marta, a quem se refere frequentemente com admiração e elogios.


17.abr.2001 - Beto Barata/Folha Imagem
O senador por São Paulo Euduardo Suplicy (PT)


Ele parece estar direcionando toda a sua energia à decisão de participar da prévia do PT como candidato a candidato a presidente da República em 2002. Vencendo, Lula poderia ser vice; perdendo, mergulhará de corpo e alma na campanha de Lula.

A pressão da cúpula do PT chegou a levá-lo ao teclado do computador na última quinta-feira de março, dia 28, para escrever uma carta renunciando à decisão. Desistiu quando, por meio de pesquisas feitas por onde passa (ele anda muito), por telefone e por computador, descobriu que as chamadas bases acham que ele deve manter sua candidatura.

A opinião de três mulheres foi decisiva. Tetê Vasconcelos, irmã de Marta Suplicy, foi enfática: "Eduardo, você não pode abrir mão da candidatura de maneira alguma". O senador surpreendeu uma amiga da adolescência, Renata Souza, com um telefonema.

Renata, que mora em São Lourenço e que não o via há 40 anos, recomendou que Suplicy ouvisse seu silêncio e que lesse "Uma ética para o novo milênio", de Dalai Lama. Ele leu e adorou: "Fez um enorme bem para mim". A terceira, mais fundamental, segundo ele, foi de Rose Marie Muraro, de quem ele e Marta são grandes amigos. O que ouviu: "De maneira nenhuma você deve desistir, você tem que ouvir as bases".

Ao insistir em concorrer, Eduardo Suplicy está dando uma lição de democracia à cúpula do PT: a liberdade é para todos, não apenas para a cúpula e sua corte. Nesta entrevista concedida à Folha em duas etapas, sábado e domingo, ele diz que não voltará atrás em sua consolidada decisão.


08.nov.2000 - Sérgio Lima/Folha Imagem
Suplicy durante uma sessão de fotos para a Folha


Se Lula ganhar a prévia (que acontecerá entre outubro de 2001 a março de 2002), fará o que sempre fez (e o PT nunca retribuiu à altura): vai mergulhar na campanha para levá-lo ao Palácio do Planalto. Se Lula perder, tem a opção de ser vice. Geograficamente, Suplicy está bem mais perto do Planalto: a janela de seu gabinete em Brasília dá de frente ao palácio.


Folha - A reação contrária da direção do PT à sua decisão de participar da prévia que vai escolher o candidato à Presidência tornou público um lado pouco democrático do partido. O que está ocorrendo?
Eduardo Suplicy
- O que eu quero dizer com firmeza é que os deputados do PT e os membros da direção do PT passem a consultar as bases porque eles hoje não sabem o que se passa nas bases do partido. Eu estou tendo a percepção de que na base do partido a minha pré-candidatura é bem aceita e, portanto, os parlamentares e membros da direção que fizeram apelo a mim não consultaram as bases ao fazer o apelo. Portanto, a prática da democracia dentro do PT envolve a decisão correta que eu estou tomando de ser pré-candidato. Sou PT para a vida.


Folha - O senhor pretende restabelecer a democracia no partido?
Suplicy
- Eu estou praticando a democracia como sempre o fiz. Num diálogo intelectual entre Lênin e Rosa Luxemburgo sobre a Revolução Russa, ela disse o seguinte à certa altura: "A liberdade apenas para os que apóiam o governo, apenas para os membros de um partido, não é liberdade total; a liberdade é sempre e exclusivamente liberdade para aquele que pensa diferentemente...".


Folha - O sr. sustenta a decisão de ser candidato à Presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores com quais argumentos?
Suplicy
- Desde meu primeiro mandato como senador, as pessoas que comigo trabalhavam e conheciam meu trabalho de perto diziam que achavam que eu seria candidato a presidente. Em 1996/ 1997, quando o Tarso Genro e o Cristovam Buarque começaram a observar publicamente que gostariam de disputar a Presidência da República em 1998, algumas das pessoas desse grupo disseram que eu também precisava me colocar. E quem muito disse isso, com firmeza, foi a Marta. Ela achava que eu tinha todo o mérito para colocar-me à Presidência. Mas eu achei que as coisas precisavam ser mais bem amadurecidas.


Folha - Isso mudou. Hoje o sr. é pré-candidato e um setor do partido acha que isso poderia causar um transtorno interno? É isso?
Suplicy
- Eu não serei um instrumento de ataque ao Lula. Eu disse e reafirmo que podem contar comigo para trabalhar por Lula. Se perder a prévia, eu serei o seu maior defensor na campanha. Eu acho que ele tem hoje condições excepcionais também para ser presidente da República.


Folha - O sr. aceitaria ser vice do Lula?
Suplicy
- Eu vou disputar e se eu vencer gostaria muito de ter o Lula como vice. E com respeito a quem vai ser o vice, se o Lula vencer, o que eu disse é que eu vou ajudar o Lula, serei o maior entusiasta de sua candidatura caso ele vença a prévia. Agora, a decisão de quem vai ser o vice depende do partido, das coligações.


18.ago.2000 - L.Carlos Murauskas/Folha Imagem
Suplicy ao lado de Marta na campanha pela prefeitura de São Paulo



Folha - O sr. acha que sua declaração em favor da CPI do lixo prejudicou a prefeita?
Suplicy
- Acho que será muito bom para a Marta. Ao contrário do que disseram, estou sendo solidário com Marta. As gestões anteriores serão investigadas. Diferentemente do que alguns membros da equipe da Marta avaliaram, de que tudo iria ser confundido em meio à opinião pública, tenho a convicção de que não.


Folha - O senhor herdou a persistência do seu pai [Suplicy havia mostrado as fotos de família e contado a história de amor de seu pai pela mãe. O pai do senador, Paulo Suplicy, se apaixonou por Filomena Matarazzo ao vê-la uma única vez, em Santos. Chegou em casa dizendo que se casaria com ela. E casou mesmo, depois que ela ficou viúva do primeiro marido]?
Suplicy
- Basta a minha expressão [disse com os olhos cheios de lágrimas].


Folha - Como o sr. está vivendo esses dias? O que o sr. tem feito? O que o sr. tem lido?
Suplicy
- Trabalhando intensamente. Lido?


Folha - O sr. tem falado muito no Dalai Lama.
Suplicy
- Sim, mas, eu estou relendo o "Desenvolvimento Como Liberdade", do Amartya Sen [Prêmio Nobel de Economia em 1999], que eu já li e reli diversas partes. Vou estar com ele na semana que vem, em Londres. Vou entrevistá-lo para o livro que estou escrevendo desde 1999.


Folha - Entre os livros que o sr. está lendo agora não há nada do Leonardo Boff?
Suplicy
- Eu li, claro que eu li. "Tempo de Transcendência", eu li três vezes. Eu até o procurei para conversar esses dias, porque eu quero muito conversar com ele, inclusive, sobre tudo o que está acontecendo no PT e pessoalmente. Até o procurei, mas ele está na Alemanha. Vou ver se ele já chegou. Sou muito amigo dele.


Folha - Só uma coisa, o sr. concorda com a chamada da capa da Revista da Folha? Solteiro, bonito, disputado? O sr. é solteiro?
Suplicy
- Olha, ontem, quando eu fiz a palestra na Cidade Tiradentes, veio a mim uma moça bonita que queria me conhecer. Aí ela me disse que tinha ficado viúva há três anos e, ao saber que eu estava separado, queria me conhecer. Aí eu disse a ela: "Olha, você perdeu o seu marido para sempre. Para mim é diferente porque eu, eu... Para mim é diferente".


Folha- Não tem a mínima possibilidade?
Suplicy
- Não. Disse que, nessa circunstância, a única coisa que posso dar é um presente. Vou mandar para ela um livro do Dalai Lama "A Ética Para um Novo Milênio", porque se trata da história de uma pessoa, porque ele foi designado líder espiritual da sua nação, o Tibet.


 

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