25/04/2001 - 02h59

Arruda foi "muito falso", dizem alunos em colégio de Brasília

MALU GASPAR, da Folha de S.Paulo, em Brasília

Se os alunos do CEL (Centro Educacional do Lago Sul), em Brasília, pudessem votar no Senado, José Roberto Arruda não escaparia da cassação.
O discurso feito anteontem no plenário pelo ex-líder de FHC no Senado chegou a comover alguns alunos de 8ª série do CEL, que assistiram ao discurso das galerias, mas, para a maioria deles, Arruda foi "muito falso".

Os adolescentes estavam no plenário por acaso: tinham ido ao Congresso ver uma exposição de fotos de Sebastião Salgado e aproveitaram para passear no prédio. Acabaram presenciando uma sessão "histórica".

"Ele estava apenas representando um papel. E amanhã o ACM vai fazer a mesma coisa", dizia, empolgada, Renata Gurgel, 16. Ela foi uma das 140 crianças a quem Arruda pediu desculpas, chorando, quando confessou sua participação na fraude: "Reitero o meu pedido de desculpas aos senadores, aos funcionários, aos jornalistas, a Brasília, ao Brasil -e a estas crianças que, talvez para aumentar o castigo, me estão aqui ouvindo", disse o senador no plenário.

Ontem, os alunos viram uma reprise do discurso em vídeo, acompanhada por exclamações ("ah!", "oh!"). Reagiram com ironia às afirmações de Arruda, de que não sabia escrever em computador e quando, quase chorando, citou são Pedro.

O depoimento mexeu com os alunos, apesar de a professora de geografia Maria Cristina Bastos ter definido a turma como "desinteressada" da
política.

A parte em que os próprios alunos apareceram na tela foi a mais barulhenta. "Ele quis falar da gente para parecer mais vítima ainda.

Mas, se ele fez isso com o voto dos senadores, imagina o que não poderia fazer com o nosso?", disse Renata.

Parte da turma gostou tanto da experiência que muitos alunos estão combinando nova ida ao Senado para ouvir o discurso de ACM amanhã: "Aposto como ele vai ser falso também. Vai representar tudo", disse Daily Kelly, 16, uma das acusadoras de Arruda. Para ela, "ele (ACM) é quem está por trás de tudo isso".