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12/05/2001
-
03h16
ELIANE CANTANHÊDE
KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo
Dirigentes e líderes do PMDB, PSDB e PFL engoliram velhas mágoas e rancores e operaram juntos o fim da CPI da corrupção por um instinto comum aos três partidos: o de sobrevivência.
Avaliaram que a CPI não enfraqueceria e acuaria apenas o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governo, mas também os partidos aliados. Todos seriam vítimas. Só a oposição lucraria.
"O governo e a base são uma coisa só. Quando todos os partidos aliados entenderem isso, as coisas vão melhorar", diz o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), um dos operadores do fim da CPI.
O pragmatismo no caso da CPI projeta uma recomposição tácita da base aliada no Congresso, em frangalhos desde o início dos xingamentos e troca de acusações entre os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
Os dirigentes e líderes, porém, não estão seguros da consistência e longevidade da reaproximação. Ante um novo choque, tudo pode voltar à estaca zero.
A cúpula tucana, por exemplo, fez fila para garantir que o fim da CPI não implicaria a salvação do mandato de ACM, acusado de participar da violação do painel de votação do Senado.
Foi simbólica a escolha do líder do PSDB, Jutahy Magalhães Jr., para entregar o requerimento de retirada de 20 adesões de deputados à CPI. Os tucanos quiseram mostrar que não há acordo com ACM. Jutahy é visceral inimigo do senador pefelista na Bahia.
Pelo menos três tucanos que participaram ativamente da megaoperação para enterrar a CPI disseram à Folha que, se depender do Planalto, ACM pode se considerar cassado. Consideram que ACM foi o principal detonador do processo da CPI e é responsável direto pelas maiores dificuldades de FHC, governo e os aliados. Foi ele, portanto, quem empurrou todos eles para o desgastante papel de abortar a CPI.
Além disso, mesmo que não tivesse retirado assinatura nenhuma, o governo já tinha conseguido o número para acabar com a comissão. O custo de salvar seu mandato não cobre o benefício duvidoso da retirada de cinco adesões de deputados carlistas.
Segundo os tucanos, FHC, o governo, o Congresso e os políticos sofrem um desgaste enorme na opinião pública por causa do fim da CPI. A cassação de ACM seria "uma compensação".
Um desses tucanos comparou: ACM "entregou a mercadoria" (retirou as assinaturas carlistas da CPI) sem garantia de pagamento (a salvação do mandato).
Na prática, porém, os partidos governistas trabalharam com dois interesses: um geral, que foi impedir a instalação da CPI, e outro particular, caso a caso. ACM é um desses interesses particulares.
O PFL quis aproveitar a onda para preservar o baiano, seu maior nome. O PMDB precisa esfriar a carga de denúncias contra Jader. O PSDB avalia que é necessário recompor o que for possível da base para 2002, porque é o partido governista com maiores chances de apresentar um candidato viável e comum.
A recomposição da base, entretanto, deve passar ao largo de ACM, que se indispôs de forma irreconciliável com FHC e está frágil como nunca e isolado no Congresso. O principal articulador do PFL é Jorge Bornhausen (SC).
Três argumentos pesam a favor de uma recomposição:
1) O regime é presidencialista. Os instrumentos de governo são ainda a maior alavanca política que eles têm, especialmente diante das eleições de 2002;
2) Quem ganha política e eleitoralmente com o enfraquecimento do governo são as oposições.
3) Em 2002, o PFL não tem candidato, a cúpula do PMDB resiste ao governador Itamar Franco (MG), e o PSDB precisa ampliar apoios a seu nome, seja qual for.
Futuro da tríplice aliança esbarra na punição de ACM
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KENNEDY ALENCAR
da Folha de S.Paulo
Dirigentes e líderes do PMDB, PSDB e PFL engoliram velhas mágoas e rancores e operaram juntos o fim da CPI da corrupção por um instinto comum aos três partidos: o de sobrevivência.
Avaliaram que a CPI não enfraqueceria e acuaria apenas o presidente Fernando Henrique Cardoso e o governo, mas também os partidos aliados. Todos seriam vítimas. Só a oposição lucraria.
"O governo e a base são uma coisa só. Quando todos os partidos aliados entenderem isso, as coisas vão melhorar", diz o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), um dos operadores do fim da CPI.
O pragmatismo no caso da CPI projeta uma recomposição tácita da base aliada no Congresso, em frangalhos desde o início dos xingamentos e troca de acusações entre os senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA).
Os dirigentes e líderes, porém, não estão seguros da consistência e longevidade da reaproximação. Ante um novo choque, tudo pode voltar à estaca zero.
A cúpula tucana, por exemplo, fez fila para garantir que o fim da CPI não implicaria a salvação do mandato de ACM, acusado de participar da violação do painel de votação do Senado.
Foi simbólica a escolha do líder do PSDB, Jutahy Magalhães Jr., para entregar o requerimento de retirada de 20 adesões de deputados à CPI. Os tucanos quiseram mostrar que não há acordo com ACM. Jutahy é visceral inimigo do senador pefelista na Bahia.
Pelo menos três tucanos que participaram ativamente da megaoperação para enterrar a CPI disseram à Folha que, se depender do Planalto, ACM pode se considerar cassado. Consideram que ACM foi o principal detonador do processo da CPI e é responsável direto pelas maiores dificuldades de FHC, governo e os aliados. Foi ele, portanto, quem empurrou todos eles para o desgastante papel de abortar a CPI.
Além disso, mesmo que não tivesse retirado assinatura nenhuma, o governo já tinha conseguido o número para acabar com a comissão. O custo de salvar seu mandato não cobre o benefício duvidoso da retirada de cinco adesões de deputados carlistas.
Segundo os tucanos, FHC, o governo, o Congresso e os políticos sofrem um desgaste enorme na opinião pública por causa do fim da CPI. A cassação de ACM seria "uma compensação".
Um desses tucanos comparou: ACM "entregou a mercadoria" (retirou as assinaturas carlistas da CPI) sem garantia de pagamento (a salvação do mandato).
Na prática, porém, os partidos governistas trabalharam com dois interesses: um geral, que foi impedir a instalação da CPI, e outro particular, caso a caso. ACM é um desses interesses particulares.
O PFL quis aproveitar a onda para preservar o baiano, seu maior nome. O PMDB precisa esfriar a carga de denúncias contra Jader. O PSDB avalia que é necessário recompor o que for possível da base para 2002, porque é o partido governista com maiores chances de apresentar um candidato viável e comum.
A recomposição da base, entretanto, deve passar ao largo de ACM, que se indispôs de forma irreconciliável com FHC e está frágil como nunca e isolado no Congresso. O principal articulador do PFL é Jorge Bornhausen (SC).
Três argumentos pesam a favor de uma recomposição:
1) O regime é presidencialista. Os instrumentos de governo são ainda a maior alavanca política que eles têm, especialmente diante das eleições de 2002;
2) Quem ganha política e eleitoralmente com o enfraquecimento do governo são as oposições.
3) Em 2002, o PFL não tem candidato, a cúpula do PMDB resiste ao governador Itamar Franco (MG), e o PSDB precisa ampliar apoios a seu nome, seja qual for.
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