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28/05/2001 - 07h40

"FHC trabalhou para que eu fosse cassado" , diz ACM

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RAQUEL ULHÔA
enviada especial da Folha de S.Paulo a Salvador
LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) afirmou ontem, em entrevista concedida em Salvador, que o presidente Fernando Henrique Cardoso "trabalhou" por sua cassação.

O senador pefelista passou o fim de semana na capital baiana preparando o discurso de renúncia ao mandato que fará nesta quarta-feira, na tribuna do Senado.

FHC será citado nominalmente no discurso, mas o baiano mandou um recado ambíguo ao presidente (tranquilizador, por um lado, mas ameaçador, por outro): não serão reveladas conversas íntimas que ambos tiveram.

Por outro lado, ACM disse que seu discurso de renúncia, que terá duração de 35 minutos, segundo seus cálculos, trará ataques contra o governo e contra o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), seu principal rival político. Para o senador baiano, Jader e governo "são a mesma coisa, pela opção política".

Na entrevista, ACM declarou também que a lista com os votos a favor e contra a cassação do ex-senador Luiz Estevão (PMDB-DF), obtida a partir da violação do painel eletrônico do Senado, "vai aparecer". Segundo ele, a lista existe, mas não está em seu poder.

Na sexta-feira, o ex-senador José Roberto Arruda (sem partido-DF) sugeriu, em entrevista à rádio Itajubá (MG), que tem a lista.

CPI
O filho e suplente do senador baiano, Antonio Carlos Magalhães Júnior -conhecido como ACM Júnior-, que o substituirá no Senado, poderá assinar o requerimento da oposição propondo a criação da CPI da corrupção, segundo o pai. Para ACM, é "inevitável" que a CPI seja instalada.

Ele viaja hoje para Brasília. Ontem, um grupo de 30 eleitores, principalmente mulheres vestidas com roupa típica de baiana, passou a manhã em frente ao prédio onde mora ACM, cantando. Entre as músicas, uma das mais interpretadas foi "Amigo", de Roberto Carlos. O grupo de fãs levou flores e cesta de café da manhã. Por volta das 12h, chegou o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), que logo depois desceu com o baiano.

ACM beijou, abraçou, agradeceu e posou para fotos. Responsabilizou o governo FHC pela "revolta contra os políticos" que vê na população. Ele disse que vai "destruir o que resta da oposição na Bahia, que é muito pouco".

A seguir, os principais trechos da entrevista que concedeu antes, em seu apartamento.

DISCURSO DE RENÚNCIA - "Não será o mais importante da minha vida, mas é o mais esperado. Vou fazer referências ao senador Jader Barbalho e citar o nome do presidente Fernando Henrique. Vou falar bem e mal. O presidente [FHC] sabe que não vou atacá-lo tão forte. Não falarei nada que tenha sido objeto de conversa íntima entre nós dois. Mas farei tudo para não frustrar as expectativas que existem hoje sobre o discurso [de que será um discurso forte, com ataques]. No discurso, vou juntar o Jader e o governo. Mostrar que os dois são a mesma coisa, pela opção política."

FHC E A CASSAÇÃO - "O processo contra mim no Conselho de Ética não foi exclusivamente por causa da violação do painel. Foi incentivado pelo Palácio do Planalto. O presidente trabalhou para que eu fosse cassado. Trabalhou muito no início, depois ficou amedrontado."

DECEPÇÃO COM COLEGAS - "Tenho de dizer na cara deles [dos senadores] alguma coisa que eles têm de ouvir [no discurso]. Alguns prometeram votar comigo na véspera da sessão do Conselho de Ética e no dia votaram contra. Estou com nojo daquela gente."

REFÉM DE JADER - "Se eu não renunciasse, eu ganharia no plenário. Na pior hipótese, eu teria 27 contra mim, entre votos a favor da cassação e abstenção [são necessários 41 para aprovar a cassação]. Jader mandou dizer que no voto secreto eu ganharia no plenário. Mas não vou ficar refém de Jader. Na Mesa Diretora, eu ganharia de quatro a dois. Mas não entro nessa. Não vou depender do Jader."

A Mesa é presidida por Jader e composta por dois pefelistas -Edison Lobão (MA) e Mozarildo Cavalcanti (RO)-, Antero Paes de Barros (PSDB-MT), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE), Carlos Wilson (PPS-PE) e Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB). Se Cunha Lima não pudesse votar por problemas de saúde, votaria em seu lugar Alberto Silva (PI).

O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), negou ontem que tenha enviado um recado ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) dizendo que ele poderia livrar-se da cassação durante votação secreta.

"O presidente do Senado não manda recados, apenas cumpre suas prerrogativas previstas no regimento", disse Jader Barbalho, por meio de sua assessoria de imprensa. Jader Barbalho passou o fim de semana em Belém (PA), onde participa hoje de inauguração do Interlegis, sistema informatizado que pretende ligar todas as casas legislativas do país ao Congresso Nacional.

A RENÚNCIA - "O Márcio Thomaz Bastos, meu advogado, disse que daria para anular a decisão do Conselho de Ética no STF (Supremo Tribunal Federal). Mas não valeria a pena essa briga. Iria demorar muito, a imprensa continuaria batendo. Seria muita briga, a imprensa continuaria batendo. A cada dia eu ficaria mais calado. Não poderia atacar Jader e criticar o governo. Não adiantaria nada eu ficar lá. No dia em que resolvi renunciar, fiquei aliviado. O Júnior [seu filho e suplente] ficará lá, fazendo o que eu preciso fazer."

A LISTA - "A lista vai aparecer. Eu não tenho, porque destruí. Mas tem gente que tem e acho que ela deveria ser divulgada. [...] Se o senador José Roberto Arruda disse que ela vai envergonhar o PT, é porque ela realmente vai envergonhar o partido."

CPI DA CORRUPÇÃO - "A CPI da corrupção acho inevitável que saia. Não sei se os senadores Waldeck Ornélas e Paulo Souto [do PFL da Bahia, que assinaram o primeiro requerimento, propondo a CPI mista] vão assinar, mas o Júnior pode ser."

ELOGIOS FEITO PELO SECRETÁRIO-GERAL DA PRESIDÊNCIA, ALOYSIO NUNES FERREIRA - "Ele está tapiando [sic] para eu não fazer discurso contra. [....] Aloysio me elogiou muito. Ele foi o único no Palácio do Planalto que torceu por mim. Quando me afastei do governo, todos se afastaram de mim, inclusive Pedro Parente e Pedro Malan [ministros da Casa Civil e da Fazenda, respectivamente], que iam em casa toda semana."

APAGÃO - "O presidente tem que parar de dizer que é infalível. Como é que diz ter ficado surpreso com a crise energética? Ele é o responsável pelo apagão. Todos os ministros da área mostraram a ele o problema e disseram que era preciso investimento. A área econômica nunca quis fazer investimento, mas é claro que a opção era do presidente. Não querem gastar dinheiro e agora ficam jogando a culpa em são Pedro."

ACM disse que, no discurso, irá responder às declarações feitas por FHC em encontro do PSDB de que a crise energética não teria chegado ao ponto em que chegou se o Ministério de Minas e Energia estivesse nas mãos do PSDB.

O senador mostrou alguns estudos levados a FHC por ministros e técnicos do setor energético, apontando a gravidade da situação e a necessidade de investimentos. Um relatório de 1996, assinado pelo então presidente da Eletrobrás, Antonio Imbassahy, Andrea Calabi (Planejamento), os irmãos Luiz Carlos Mendonça de Barros e José Roberto Mendonça de Barros (um estava no BNDES e o outro, na Secretaria de Política Econômica) e Pedro Parente, então secretário-executivo do Ministério da Fazenda.

Mostrou também um relatório levado a FHC em abril de 2000 por Rodolpho Tourinho, ex-ministro de Minas e Energia indicado por ele, chamado ""Resumo da Crise do Setor Elétrico".

ACM apontou, no documento, gráficos que sinalizavam desde então a necessidade de construção de linhas de interligação e de termelétricas. Pediu atenção a um gráfico mostrando que a partir de 1985 a curva da demanda crescia bem mais do que a da oferta, com base na capacidade normal instalada.

SUCESSÃO - "No dia de hoje, o governo não ganha. Hoje, qualquer sujeito com a marca do governo não ganha. Hoje tem três soluções: Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PPS) e o governador Itamar Franco (PMDB). Mas isso pode mudar.

Quando o presidente Fernando Henrique era candidato e tinha apenas 3% dos votos, fiz um discurso "levanta cadáver" no plenário do Senado, apoiando sua candidatura. Hoje sou PFL, mas, se o partido for para uma saída suicida, não me levam. Eu não vou [para essa solução] e levo a maioria do PFL. O senador Jorge Bornhausen (SC) [presidente do partido] sabe disso. Conversamos sobre isso na quinta-feira, em sua casa, quando fui agradecer a solidariedade do partido no episódio do painel."

ITAMAR - "Não tenho mágoas dele, hoje."

FUTURO - "Vou menos a Brasília. Vou tentar ficar mais em São Paulo. Vou dar entrevistas, principalmente nas televisões. Tudo passa por São Paulo. Também vou viajar muito pelo interior do Estado, fazendo contatos políticos. Vou ficar aqui na Bahia.

Antes de dezembro ou janeiro não vou decidir se disputarei o Senado ou o governo do Estado. Primeiro, terei de discutir com Waldeck Ornélas e Paulo Souto, meus companheiros que foram leais."

Pesquisa realizada pelo instituto Vox Populi, no período de 7 a 9 de abril, por encomenda do PFL, apontou que, se a eleição para governador fosse hoje e ACM fosse o candidato do PFL, ganharia com 75% dos votos. Em segundo lugar ficaria o candidato do PT, Nelson Pelegrini, com apenas 6% dos votos.

"Pesquisa mais importante é a das ruas [referindo-se às manifestações de apoio que tem recebido]. Nenhum dos senadores tem isso. Muitos nem andam na rua."


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