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03/06/2001 - 09h25

Garotinho inventa populismo multimídia

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ANTONIO CARLOS DE FARIA
da Folha de S.Paulo, no Rio

O governador do Estado do Rio, Anthony Garotinho, usa uma parafernália multimídia para se tornar conhecido nacionalmente e viabilizar sua candidatura à Presidência da República, recém-lançada mas com objeções por parte de setores do PSB.

O lance mais recente do neopopulismo midiático do governador é o livro "Virou o Carro, Virou a Minha Vida", editado pela Agência Soma, em que narra o processo de sua conversão religiosa. Na mesma linha, aparece como autor de músicas no CD "Louvor da Luz", lançado pela Igreja Presbiteriana Luz do Mundo.

Em março, iniciou o programa semanal de TV "Fala, Governador", mesmo título do que já mantinha na rádio Tupi nas manhãs de sábado. Além disso, o governador tem programas com duas edições diárias na rádio Melodia, que tem emissão a partir dos Estados do Rio, Paraná, São Paulo, Minas, Piauí e de Brasília.

Completando o arco dos meios de informação, ele dispõe desde o final do ano passado de um endereço sobre si próprio na internet (www.2002garotinho.com.br), administrado por Mauro Silva, seu ex-subsecretário estadual para a área de publicidade. Silva deixou o governo no início do ano para montar um jornal em Campos (280 km ao norte da capital do Rio), base eleitoral de Garotinho.

O governador diz que não gasta dinheiro público nessas empreitadas, sendo convidado pelos donos das atividades a divulgar suas idéias. Na área pública, ele acabou de concluir um processo licitatório em que cinco agências de publicidade ganharam o direito de administrar R$ 90 milhões para fazer campanhas sobre as realizações do governo.

Com base nesse complexo sistema de divulgação, o governador intensifica, a partir deste mês, as viagens pelo país. Tudo tendo em vista um cálculo milimétrico. Garotinho já declarou que, se não atingir 15% das intenções de voto até o final do ano, desiste da Presidência e disputa a reeleição. Na última pesquisa feita pelo Datafolha, em março, ele aparecia com 7%. Nesta semana, pesquisa do instituto Sensus apontou o governador com 10,6%.

Em qualquer caso, já definiu que deixará o governo em 3 de abril de 2002, para evitar a acusação de uso da máquina pública.

Todo o planejamento de Garotinho gira em torno de duas agendas. Uma, a do governante que comparece a reuniões de entidades políticas. Outra, a de religioso que participa de encontros promovidos por igrejas protestantes.

Ambas as agendas se interpenetram e são permeadas pela figura do radialista, profissão original de Garotinho.

Para lançar o livro, onde descreve como se tornou evangélico após um acidente de automóvel em 1994, quando disputou e perdeu sua primeira eleição para governador, Garotinho esteve em Vitória (ES), em abril. Depois de falar da obra, deu entrevistas sobre suas possibilidades na disputa presidencial.

O governador tem mais de 200 convites para realizar viagens como essa, patrocinadas por líderes evangélicos de cidades de vários Estados do país. Segundo assessores, o governador só aceita viajar quando todas as despesas são pagas pelos anfitriões.

"Acho que a política é a forma de transformação da nossa sociedade, e os evangélicos que sentirem essa missão e essa vocação não devem hesitar em participar da vida política do país", afirma o governador em seu site, onde expõe artigos, citações e um resumo de sua biografia.

Investigação
Tanta movimentação acabou chamando a atenção do Ministério Público Eleitoral, que está analisando fitas dos programas de Garotinho na TV Record e na rádio Tupi, buscando comprovar se configuram abuso de poder político e, caso confirmado, retirá-los do ar.

O procurador Antonio Carlos Martins Soares tomou como base uma representação apresentada por deputados petistas -rejeitada pelo TRE porque teria que ser oferecida pelo partido. Ele diz que o governador não pode alegar que está apenas divulgando suas realizações.

"A lei prevê que a publicidade dos atos do governo só pode ser paga, e o governador diz que não está pagando nada pelos seus programas", afirma Soares, que diz estar atento aos programas da rádio Melodia, que não fizeram parte da primeira representação encaminhada ao TRE.

Os programas da Melodia, que têm duração média de dez minutos, são gravados no Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador, nos fins de semana. O apresentador é o deputado federal Francisco Silva, dono da rádio, que em fevereiro trocou o PST pelo PL.

Silva foi secretário da Habitação de Garotinho em 1999, quando nomeou Eduardo Cunha, integrante do governo Collor, para presidir a Cehab (Companhia Estadual de Habitação).

Cunha acabou deixando o cargo em meio à crise causada pela revelação de irregularidades em torno da construção do conjunto de Sepetiba (zona oeste), a maior obra habitacional de Garotinho. Hoje, é deputado estadual e produtor do programa apresentado por Garotinho na Melodia, "A Paz do Senhor, Governador".

A mudança de Silva de partido se deu ao mesmo tempo em que o governador estabeleceu relações com a TV Record, de propriedade da Igreja Universal, para a realização do programa semanal. No Rio, o PL é presidido pelo deputado federal bispo Rodrigues, coordenador político da Universal.
 

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