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29/06/2001
-
03h56
WILLIAM FRANÇA
da Folha de S.Paulo
O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem um comentário sobre o futuro da democracia na América do Sul para falar sobre as manifestações contrárias ao governo. Indiretamente, tratou do protesto ocorrido anteontem em Brasília. "Se eu fosse somente sociólogo, seria fácil tratar [da evolução do poder político e econômico], seria maravilhoso. Poderia falar e os estudantes me aplaudiriam".
FHC disse que, como presidente, cabe a ele "sofrer [as consequências" do processo de transformação] que, avalia, está em curso em todo o continente. Esse processo seria o da tentativa de uma maior participação popular no poder -que quer quebrar a consolidação das instituições, mas que sofre a rejeição delas. "Sofro [esse processo", mas, como sociólogo, tenho que entendê-lo".
Ao falar para uma platéia formada por 17 representantes do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), no último evento de sua viagem à Bolívia, FHC fez uma análise política do futuro da região. E disse que "o grande risco" que existe para a democracia na América do Sul neste momento "é a quebra das instituições" -e que ele teme por isso.
Ontem, o presidente não fez nenhuma associação de políticos ou de partidos brasileiros a esse risco, embora, em outras oportunidades, tenha citado o PT e a CUT como potenciais provocadores. "Não me refiro a golpes ou ao fim da democracia, nada disso, mas à perda da vitalidade das instituições por causa da ansiedade [das novas forças] de chegar mais rápido a um bom porto".
"Isso pode prejudicar a consolidação institucional, mas não vejo no mundo moderno como se pode avançar sem que haja essa consolidação."
Populismo
Ao falar sobre o futuro político do continente, FHC disse que haverá um "empurrão nas forças políticas populistas apoiadas pelas forças tradicionais, oligárquicas e clientelistas" para ocupar o poder.
Embora não tenha feito nenhuma referência a políticos ou países, seu comentário foi visto como uma avaliação sobre o crescimento das candidaturas de Itamar Franco (PMDB) e de Anthony Garotinho (PSB) à sucessão em 2002. Também como uma avaliação da ascensão de presidentes populistas na América do Sul, como Alejandro Toledo, no Peru, e Hugo Chávez, na Venezuela, ou os dois candidatos à sucessão boliviana, Gonzalo Sanchez de Lozada e Jaime Paz Zamora.
"Minha avaliação é que as forças tradicionais, ou seja, as forças oligárquicas, perderão a capacidade de controle. Oxalá as forças populistas também, mas elas estão agora recebendo um certo empurrão".
Para FHC, a reversão desse quadro só se dará se "a sociedade recuperar o conceito de política", abrindo espaço para o novo. "Embora parte dessa sociedade já esteja orientada hoje para a destruição do velho".
Presidente diz que entende manifestações populares
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da Folha de S.Paulo
O presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou ontem um comentário sobre o futuro da democracia na América do Sul para falar sobre as manifestações contrárias ao governo. Indiretamente, tratou do protesto ocorrido anteontem em Brasília. "Se eu fosse somente sociólogo, seria fácil tratar [da evolução do poder político e econômico], seria maravilhoso. Poderia falar e os estudantes me aplaudiriam".
FHC disse que, como presidente, cabe a ele "sofrer [as consequências" do processo de transformação] que, avalia, está em curso em todo o continente. Esse processo seria o da tentativa de uma maior participação popular no poder -que quer quebrar a consolidação das instituições, mas que sofre a rejeição delas. "Sofro [esse processo", mas, como sociólogo, tenho que entendê-lo".
Ao falar para uma platéia formada por 17 representantes do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal), no último evento de sua viagem à Bolívia, FHC fez uma análise política do futuro da região. E disse que "o grande risco" que existe para a democracia na América do Sul neste momento "é a quebra das instituições" -e que ele teme por isso.
Ontem, o presidente não fez nenhuma associação de políticos ou de partidos brasileiros a esse risco, embora, em outras oportunidades, tenha citado o PT e a CUT como potenciais provocadores. "Não me refiro a golpes ou ao fim da democracia, nada disso, mas à perda da vitalidade das instituições por causa da ansiedade [das novas forças] de chegar mais rápido a um bom porto".
"Isso pode prejudicar a consolidação institucional, mas não vejo no mundo moderno como se pode avançar sem que haja essa consolidação."
Populismo
Ao falar sobre o futuro político do continente, FHC disse que haverá um "empurrão nas forças políticas populistas apoiadas pelas forças tradicionais, oligárquicas e clientelistas" para ocupar o poder.
Embora não tenha feito nenhuma referência a políticos ou países, seu comentário foi visto como uma avaliação sobre o crescimento das candidaturas de Itamar Franco (PMDB) e de Anthony Garotinho (PSB) à sucessão em 2002. Também como uma avaliação da ascensão de presidentes populistas na América do Sul, como Alejandro Toledo, no Peru, e Hugo Chávez, na Venezuela, ou os dois candidatos à sucessão boliviana, Gonzalo Sanchez de Lozada e Jaime Paz Zamora.
"Minha avaliação é que as forças tradicionais, ou seja, as forças oligárquicas, perderão a capacidade de controle. Oxalá as forças populistas também, mas elas estão agora recebendo um certo empurrão".
Para FHC, a reversão desse quadro só se dará se "a sociedade recuperar o conceito de política", abrindo espaço para o novo. "Embora parte dessa sociedade já esteja orientada hoje para a destruição do velho".
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