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26/06/2000 - 08h04

Políticos controlam 2.000 rádios piratas

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DANIEL CASTRO

da Folha de S.Paulo

As eleições deste ano devem consolidar as rádios "comunitárias" como um instrumento eleitoral tão importante quanto o corpo-a-corpo dos candidatos.

Entidades que congregam emissoras clandestinas estimam que cerca de 2.000 rádios piratas, em todo o país, estejam hoje sob controle de políticos e que outras 4.000 estejam nas mãos de religiosos.

No país, operam cerca de 10 mil emissoras sem concessão. As emissoras controladas por políticos são administradas por testas-de-ferro ou por associações.

Juntas, as rádios comunitárias atingem entre 115 mil e 140 mil ouvintes por minuto na Grande São Paulo, na média diária, das 5h às 24h. No conjunto ocupam o quarto lugar no ranking das FMs paulistanas.

A partir de agosto, quando começa a campanha eleitoral, o número de emissoras a serviço de políticos deve dobrar. As vendas de transmissores de FM de baixa potência cresceram 50% neste ano, segundo fabricantes do setor.

As rádios clandestinas deverão exibir propagandas, debates e entrevistas com candidatos.

Em pequenas cidades do interior, onde não há emissora comercial, as piratas poderão decidir eleições. Na cidade de Guapira (SP), no Vale do Ribeira, existem quatro comunitárias, cada uma ligada a um grupo político.

Em Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, o prefeito (e provável candidato à reeleição) Silvio Cavalcanti Peccioli, do PFL, tem um programa de duas horas aos sábados na rádio pirata Parnaíba FM.

Já Novo Tempo, de Barueri (Grande São Paulo), atualmente fora do ar, teria ligações com o prefeito interino da cidade, Clarindo Aparecido (PMDB).

Nas grandes cidades, as piratas deverão ser instrumento de candidatos a vereador, principalmente dos evangélicos.

Localizada no Tatuapé (zona leste), a Beta FM (92,5 MHz) exibia alguns meses atrás vinhetas dizendo que sua programação tinha o apoio do vereador Gilson Barreto, do PSDB. O vereador negou ter vínculos com a rádio pirata. Ele declarou que apenas ajudava o dono da emissora.

Também na zona leste, a rádio Atalaia (103,7 MHz) estará neste a ano a serviço de seu fundador, o vereador de Ferraz de Vasconcelos José Roberto de Oliveira, do PDT. Em São Paulo, a emissora irá apoiar o evangélico Humberto Martins, do PDT.

Os muros do metrô da zona leste já estampam a candidatura de Nairton de Castro, pelo PV. As pichações anunciam o programa que Castro apresenta em duas rádios piratas de São Miguel, a Conquista (101,3 MHz) e a Marca Maior (102,3 MHz).

No sábado (24), Castro negou que seus programas estivessem no ar, embora as FMs afirmassem o contrário.

Fórum de emissoras
"Neste ano, cada rádio vai apoiar um candidato. Não existe emissora sem candidato", diz o professor de ética no jornalismo José Carlos Rocha, coordenador do Fórum Democracia na Comunicação, que congrega 700 emissoras comunitárias _30% delas são evangélicas.

O fórum está orientando suas filiadas a pedirem autorização da Justiça Eleitoral para transmitirem o horário eleitoral gratuito.

Tido como o braço de rádios comunitárias do PT, a Abraço (Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária, cujo lema é "Ousar, Resistir, Transmitir Sempre!") diz possuir 4.500 associadas no país (apenas 150 no Estado de São Paulo). A entidade está orientando suas filiadas a promoverem debates com candidatos de todos os partidos.

A Abraço possui um código de ética, que prega o pluralismo, a gestão pública e rejeita os fins comerciais. "Este ano vai haver uma deturpação do conceito de rádio comunitária", diz o presidente nacional da Abraço, José Soter.

São rádios comunitárias, livres, piratas, enfim, clandestinas, as emissoras que operam sem autorização do governo federal e com baixa potência.

Em 1998, foi aprovada a Lei da Radiodifusão Comunitária. Até agora, 217 associações já conseguiram autorização do Ministério das Comunicações, mas ainda dependem de aprovação do Congresso Nacional.

Para Rocha, do Fórum, as piratas vão apoiar candidatos a vereador porque estão ligadas a políticos ou porque precisam de apoio político. Soter, da Abraço, diz que o baixo custo de montagem de uma estação _cerca de R$ 5.000_ incentiva os candidatos a apostar na mídia clandestina.

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