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15/07/2001 - 08h48

Só quebra de sigilo dos anos 80 pega Jader, diz auditor

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MARI TORTATO
da Agência Folha, em Curitiba

Só a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), no período de seu primeiro governo no Pará (83-87), pode levar o Ministério Público a confirmar que o senador e familiares foram beneficiários de desvios que totalizariam US$ 10 milhões no Banpará.

Foi o que deixou escapar o autor dos dois relatórios do Banco Central sobre o Banpará, Abrahão Patruni Jr., 48, numa das poucas conversas que manteve com jornalistas nos últimos meses.

O auditor não entra em detalhes sobre o que apurou em 1989, quando chefiou auditoria sobre o que ocorria no banco estadual, então sob intervenção do BC.

De Curitiba, onde mora desde agosto de 2000, Patruni acompanha as notícias sobre o caso. Para a maioria, reserva o comentário de que "estão corretas". Ou de que "não são novidade".

Ele falou com a Agência Folha na semana passada. Insiste que está impedido de dar entrevistas. "Não quero me transformar na Regina Borges deste caso", brincou, em referência à ex-diretora do Prodasen cuja confissão de participação na quebra do sigilo do painel do Senado levou às renúncias de José Roberto Arruda e Antonio Carlos Magalhães.

Entrar em detalhes sobre os relatórios pode lhe render punições por parte de superiores do BC -como já ocorreu no começo deste ano, quando levou uma bronca da chefe de Fiscalização, Tereza Grossi- e até um processo, por quebra de sigilo bancário não autorizada pela Justiça. Os superiores do BC atribuem a Patruni o vazamento para a imprensa, em 1996, do teor do primeiro relatório. Ele nega.

Quando Patruni falou, foi sobre o sigilo de Jader. Ele também se permitiu comentar a notícia de substituição da juíza do caso, Rosileide Cunha, da 14ª Vara da Fazenda Pública do Pará. "Ele [Jader" é um deus no Pará. Tem tanta força no Estado quanto ACM na Bahia." O peemedebista governou o Pará entre 1983 e 1987. Voltou ao poder no Estado em 1991, depois de passar pelos ministérios da Reforma Agrária e da Previdência, no governo Sarney.

Caminho dos cheques
Patruni passou quatro meses em Belém em 1989. Depois se deslocou para o Rio de Janeiro, no rastro das operações da conta de Jader na agência Jardim Botânico do banco Itaú. Do Rio foi à central do banco em São Paulo, mas não completou o trabalho.

Os chefes do BC lhe cobraram um relatório no início de 1990. Foi o primeiro. Incompleto, pela demora dos bancos em fornecer a documentação exigida. O segundo ele aprontou em julho do mesmo ano. Tem 2.509 páginas. Além de operações de empréstimos que nunca voltaram ao banco, contém indícios de movimentação de contas correntes por laranjas.

O BC esbarrou na negativa de bancos privados que operaram contas de Jader em abrir as informações que completariam o rastreamento de 11 cheques administrativos liberados no Banpará.


Alan Marques/Folha Imagem
Jader Barbalho (PMDB-PA)
Os relatórios abrangem operações do período de 84 a 87. As informações coletadas foram checadas e confirmadas por dois outros inspetores enviados pelo BC a Belém. Eles requisitaram mais documentos. Do BC, o dossiê seguiu para a procuradora-geral da Justiça do Pará, Marilia Crespo, em 92. Acabou sumindo, e o caso foi arquivado pelo Ministério Público do Pará em abril deste ano.

Dois dias depois, Armínio Fraga mandou um ofício ao Conselho do Ministério Público do Pará pedindo a reabertura do processo. Os sete conselheiros recuaram da decisão anterior e votaram a favor da sugestão do presidente do BC.

Ameaças e geladeira
Patruni começou o levantamento de informações em Belém em fevereiro de 89. Durante o período, mudou de hotel mais de uma vez. Apesar de sigilosa, a investigação acabava vazando. Ele recebia telefonemas de desconhecidos na madrugada. Volta e meia era orientado por colegas "a sumir".

O Banpará sofria à época uma intervenção do Banco Central e vivia uma administração compartilhada de diretores indicados pelos governos federal e estadual. José Sarney cumpria o último ano de seu mandato, pelo PMDB, mesmo partido de Jader.

Terminado o trabalho, Patruni acabou na ""geladeira". Não comenta os motivos. Perdeu o cargo em comissão que detinha, e sua jornada foi reduzida de oito para seis horas, o que provocou um corte ainda maior no salário. Ele acionou o BC na Justiça do Trabalho. Passados 11 anos, está tendo de volta parte dos ganhos, pagos na forma de precatórios.

Catarinense de São Francisco do Sul, litoral do Estado, casado pela segunda vez, com quatro filhos com idades de cinco a 18 anos, Patruni tem 25 anos de BC e conta nos dedos os cinco que o separam da aposentadoria.

Desde agosto de 2000, ele trabalha como analista emprestado à Procuradoria da República no Paraná. Sua permanência acaba de ser renovada para até dezembro deste ano. O auditor assessora os procuradores em processos de fraude financeira, como o da Leasing Banestado, que teve um rombo de R$ 300 milhões, e o da Corretora Banestado, detentora de um "mico" de R$ 400 milhões pela compra de precatórios podres de outros Estados e municípios.

Entre a auditoria no Banpará e a Procuradoria no Paraná, Patruni assessorou três CPIs do Senado e da Câmara dos Deputados em investigações de lavagem de dinheiro: do rombo da Previdência, que levou à prisão da fraudadora Jorgina de Freitas; dos Precatórios, e da prostituição infantil.

Reclusão
De hábitos comuns, as horas de lazer do auditor são exclusivas da mulher e dos filhos. Patruni divide-se entre o trabalho no prédio que dá para o calçadão da rua das Flores e a família. Não gosta de ser interrompido quando mergulha no rastro de operações bancárias irregulares que os procuradores lhe conferem.

O retorno do caso Banpará ao noticiário rendeu a Patruni a reportagem de capa da edição de lançamento da revista ""Por Sina", do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central.

O editorial sustenta que o sigilo bancário não é aplicável a desvios de dinheiro público. O texto afirma que o auditor "vive acuado" em Curitiba. Patruni nega. "Isso é um exagero."

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