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22/07/2001 - 09h53

Jader não virou Barbalho sozinho; até FHC ajudou

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JOSIAS DE SOUZA, diretor da Sucursal em Brasília

Jader diz que não embolsou o dinheiro do Banpará; diz que não se lambuzou com TDAs; diz que não levou nenhum da Sudam; diz que seus negócios com o megafraudador José Osmar Borges são cristalinos como água de bica...

Melhor acreditar em Jader. Em matéria de corrupção, seria tolice discutir com um perito. E a tese de que estamos diante de um anjo vitimado por um gigantesco complô parece, a essa altura, mais conveniente.

É mais fácil engolir a idéia da orquestração contra Jader do que ter de admitir que um Barbalhão qualquer tenha barbarizado cofres públicos por quase 20 anos sem que o país se desse por achado.

Se Jader for mesmo o Barbalho que andam pintando, como explicaremos a nós mesmos o fato de ele ter chegado tão longe? Melhor nem pensar. É inocente. E ponto.

Jader, como se sabe, alcançou a presidência do Congresso com um empurrãozinho de FHC. E o soberano não emprestaria o seu prestígio ao primeiro Barbalho que lhe aparecesse.

De mais a mais, FHC confiou a Jader os cofres da Sudam. Não uma, mas duas vezes. Bem verdade que os apadrinhados de Barbalho não se portaram com decência. Mas a culpa não foi de Jader.

Ele só forneceu os nomes. Era do príncipe a caneta que os nomeou gerentes de cofre. Não é à toa que dizem que um intelectual, quando submetido às coisas práticas do cotidiano, às vezes age como pateta. Aqui, de novo, o absurdo parece mais aceitável do que o ultrajante.

Melhor apostar no estereótipo do acadêmico com dificuldades para aplicar o índice Giannotti de amoralidade admissível na política do que ter de reconhecer a existência de dois governos: o de fachada, supostamente sério, e o do fundão, ocupado por Barbalhos com licença para pilhar.

A cruzada anti-Jader transformou-o num caso raro de Barbalho retroativo. Atribuem-se a ele crimes cometidos há 17 anos. O relatório sobre o rombo produzido no Banpará, pronto desde 1990, pulou de gaveta em gaveta por 11 anos. Só olhos muito privilegiados puderam lê-lo.

O relato de todas as barbalhices detectadas consumiu 12 volumes de papel. A despeito da fartura de dados, dois presidentes do BC (Loyola e Gros) assinaram documentos aliviando a barra de Barbalho.

Só agora irrompe em cena Armínio, lançando indiretas, travando guerras de notas oficiais, dispondo-se a ajudar o Ministério Público a trazer à tona o passado Barbalho de Jader. É pena que a valentia tenha tomado assento no BC com tantos anos de atraso.

O escritor Ernest Hemingway sintetizou como poucos o espetáculo da tourada. O que acontece na arena, disse, não é a competição do touro com o toureiro. É uma tragédia reservada àqueles que aceitam o pressuposto de que o touro só está ali para perder.

O BC só reuniu coragem para invadir a arena no instante em que Jader desempenha o papel do touro da imagem de Hemingway. Um instante em que até o procurador Geraldo "Gaveta" Brindeiro faz pose de toureiro espanhol. Poucos dias depois de concluir que já não havia mais o que investigar no caso Banpará, el engavetador anunciou a intenção de desentocar o relatório do BC.

Poder-se-ia gastar papel e tinta especulando sobre as insondáveis injunções e ameaças que mantiveram casos como o do Banpará debaixo do imenso tapete metafórico de que se serviram tantos governos, desde Sarney. Sai mais barato, porém, acreditar que Jader é uma inocente vítima da perfídia humana.

Provar-lhe a culpa sem expor a rede de cúmplices equivale a transformar todos os brasileiros em palhaços. E o Tesouro Nacional, com o FMI a espreitá-lo, com metas por cumprir, não parece em condições de bancar a compra emergencial dos apetrechos: 169.544.443 narizes vermelhos, golas largas, calças frouxas e sapatos gigantes.
 

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