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25/07/2001 - 03h28

Em entrevista exclusiva, Jader diz que não renuncia e elogia Itamar

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RAYMUNDO COSTA
da Folha de S.Paulo, em Belém

Por enquanto, o presidente licenciado do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), poupa o presidente Fernando Henrique Cardoso, mas não seu governo.
Diz que é vítima de uma conspiração de setores da base aliada do governo, interessados em enfraquecer o PMDB na sucessão presidencial.

Jader não dá nomes. É taxativo apenas quando se refere ao Banco Central.
Acha que o BC resolveu importuná-lo com o caso do desvio de verbas do Banpará porque pediu a CPI do sistema financeiro.

Com as acusações contra ele, o senador paraense acredita que o BC e o governo desviam a atenção dos verdadeiros problemas. Das dificuldades econômicas às acusações nunca investigadas sobre o processo de privatização da telefonia, o programa de ajuda aos bancos e a operação de socorro aos bancos Marka e FonteCindam na crise cambial de 99.

Jader diz que não renunciará à presidência do Senado, mas sabe que o PMDB já articula sua sucessão. E diz que, pela primeira vez, terá oportunidade de se defender da acusação de ter-se beneficiado de dinheiro do Banpará: a Justiça paraense lhe concedeu um habeas data para que tenha acesso ao processo feito pelo BC.

Folha - O sr. vai renunciar à presidência do Senado?
Jader -
Não. Eu estou de licença. Eu não posso, como democrata, colaborar para o retrocesso político no país. Eu lutei contra a ditadura militar, e lutei pertencendo ao grupo mais aguerrido da oposição brasileira, para que não fosse possível, no Brasil, se voltar a processos arbitrários e de se desejar decretar a morte política de um homem público simplesmente porque determinados setores consideram conveniente. Nós estamos vivendo num Estado democrático, regido pela lei. Em relação às acusações que me fazem, elas haverão de ser provadas e não simplesmente me submeterem a um linchamento político, enganando a opinião pública brasileira e me apresentando como grande problema nacional.

Folha - Quem deseja decretar a sua morte política?
Jader -
O grande escândalo nacional hoje se chama Jader Barbalho. O grande escândalo nacional não são as especulações dos negócios que teriam sido feito com as privatizações no Brasil, o grande escândalo nacional não são os escândalos produzidos pelo Banco Central do Brasil com o banco Econômico, com o Nacional, com o Marka e com o FonteCindam. O BC deu U$ 1,6 bilhão ao Marka e ao FonteCindam antes mesmo de a fiscalização chegar.

Folha - O site que o sr. tem, no qual responde a uma dezena de acusações, não é por si só acusador?
Barbalho -
Eu me encontro dentro de um processo de um julgamento político que começou com meu entrevero com o [ex-"senador Antonio Carlos Magalhães, há cerca de um ano e cinco meses. Naquela oportunidade ele juntou tudo quanto foi denúncia ao longo da minha vida pública. Problemas de episódios eleitorais, coisas da província, de uma carreira de 36 anos. Isso tudo foi remetido ao Ministério Público Federal pelo Conselho de Ética do Senado. Nenhuma delas prosperou. As denúncias valem pela qualidade e não pela quantidade. Eu resolvi então colocar nesse portal na internet (www.jaderbarbalho. com.br) para quem tivesse a curiosidade verificar se essas denúncias têm consistência.

Folha - Mas o procurador-geral parece estar mudando de opinião em relação a alguns episódios.
Barbalho -
Quem pode dar satisfação é o próprio procurador. O que eu tenho é uma manifestação assinada pelo vice-procurador-geral da República e pelo procurador-geral da República, que considera essa matéria [a acusação de que teria se beneficiado de desvio de recursos do Banpará] prescrita sob qualquer legislação que ela possa ser observada. E, quanto ao mérito, transcreve um trecho inteiro do relatório final do Banco Central do Brasil, que me exclui de qualquer responsabilidade. Os meus argumentos não são meus. São os argumentos do procurador-geral da República e do relatório conclusivo e final do Banco Central do Brasil. Assinado por toda a hierarquia jurídica do banco, inclusive seu procurador-geral.

Folha - Se o procurador-geral pedir a quebra de seu sigilo bancário, o sr. vai recorrer?
Jader -
Não há necessidade de ele pedir. Já foi quebrado durante cinco anos pelo banco Central.

Folha - Senador, a carta do BC diz que foram recolhidos indícios de que o sr. foi beneficiário do desvio do Banpará. Só não foram recolhidas provas para embasar juridicamente um processo.
Jader -
Em relação a mim, registra que, apesar do esmero da fiscalização, os auditores não chegaram a nenhum indício.

Folha - O sr. sempre diz que está prescrito, que não foram encontradas provas, mas não nega o fato.
Jader -
Nunca houve contraditório administrativo, nunca fui citado para coisíssima alguma a respeito disso. Há todo um processo administrativo do qual eu nunca participei, ao qual eu nunca tive acesso. Se o BC tivesse chegado a alguma prova, estaria obrigado a tomar alguma providência, sob pena de ter cometido crime de prevaricação.

Folha - Mas o relatório do auditor Abrahão Patruni diz que o sr. foi beneficiado.
Jader -
Essa questão só o BC pode explicar. Durante cinco anos esse sr. fez uma auditagem em todas as minhas contas. Se, após cinco anos, o BC não conseguiu encontrar nada que pudesse me envolver, como eu posso aceitar esse tipo de especulação?

Folha - À exceção de um cheque...
Jader -
À exceção de um cheque correspondente hoje a R$ 60 mil. Veja bem, de uma especulação que já esteve em US$ 10 milhões, em R$ 10 milhões, passou agora, segundo uma revista, para R$ 2,5 milhões. Eu só vou ter oportunidade agora, com a leitura do relatório completo, o que se disse a respeito dessa minha conta. A movimentação bancária é simples: entrada e saída. A matéria de prova contra qualquer pessoa que tenha movimentação bancária é o extrato bancário.

Folha - Por que o sr. tinha uma conta no banco Itaú no Rio?
Jader -
Porque eu ia muito ao Rio. Por outro lado, não havia mesa de aplicação de overnight aqui no Pará, na época. E eu abri esta conta muito antes, salvo engano de minha parte é de 1980 ou de 1978. É uma conta muito anterior inclusive à minha chegada ao governo do Pará em 1983.

Folha - Senador, o sr. pode dizer com todas as letras que nunca foi beneficiário de recursos desviados do Banpará?
Jader -
Não fui. E terei a oportunidade, ao final de tudo isso, de comprovar o que estou dizendo. Fui avisado de que tudo seria uma campanha orquestrada.

Folha - Avisado por quem?
Jader -
Por diversas pessoas.

Folha - Cite um.
Jader -
O presidente José Sarney, meu amigo, numa conversa na casa dele. Ele me avisou o que iria me acontecer se eu insistisse em ser candidato à presidência do Senado. O que estava sendo montado, essa orquestração. Não só ele me disse, outras pessoas também me avisaram. Eu achei que aquilo era uma forma de me intimidar. Depois veio o episódio do painel [a quebra do sigilo dos votos na sessão que cassou o mandato de Luiz Estevão". Novamente eu fui instado. Desta vez eu tinha de salvar o Antonio Carlos, eu tinha de colaborar para que o Antonio Carlos não perdesse o mandato. Porque, se ele perdesse o mandato, inevitavelmente eu também deveria perder o mandato.

Folha - Por quem o sr. foi instado?
Jader -
Por diversas pessoas, por diversos políticos.

Folha - Mas por que tantas pessoas estavam interessadas em desestabilizá-lo?
Jader -
Na hora que eu fui eleito presidente do Senado, acumulando com a presidência do PMDB, passei a ser uma peça da maior importância para a sucessão presidencial. E era fundamental remover essa peça. Era fundamental diminuir o tamanho do presidente do PMDB politicamente. Eu não tenho a menor dúvida de que, além desses atores aos quais já me referi, há outros atores, internos no governo, na própria base do governo, no sentido de enfraquecer o PMDB.

Folha - Quem são esses atores?
Jader -
Eu não gostaria de citar nomes. O que eu estou fazendo é um diagnóstico.

Folha - Se há uma orquestração, há um regente. Quem é?
Jader -
Não posso nominar um regente, existem vários regentes. Existem vários sócios nessa empreitada.

Folha - O sr. guarda alguma mágoa em relação relação ao presidente Fernando Henrique Cardoso nesse processo?
Jader -
Absolutamente. O presidente é um homem que acompanha atentamente a cena política.

Folha - O PMDB vai apoiar uma candidatura do governo?
Jader -
Chance sempre existe em política. Mas considero cada vez mais remota essa possibilidade, por achar que cresce a tese da candidatura própria do PMDB. Esse é o caminho eleitoral e politicamente mais adequado.

Folha - Essa candidatura pode ser a do governador Itamar Franco?
Jader -
A decisão do PMDB deve ser democrática. Não só por ser governador de Minas Gerais, mas também presidente da República, não tenho a menor dúvida de que ele, neste momento, é o que se apresenta com maior densidade eleitoral.

Folha - Por que o sr. não disse desde o início que foi sócio do empresário José Osmar Borges, que é apontado pelo Ministério Público como o maior fraudador da Sudam da?
Jader -
Quando o conheci, ele foi apresentado como um empresário vitorioso, com projetos com certificado de implantação concedidos pela Sudam. Ninguém pode ser responsabilizado por qualquer acusação que pese em relação a outro.

Folha - Por que o sr. não declarou a compra dessa fazenda ao Imposto de Renda?
Jader -
Eu declarei. Tudo o que a legislação determina foi cumprido em relação a essa compra.

Folha - Numa conversa gravada, o sr. é acusado de ter se beneficiado da desapropriação de uma fazenda.
Jader -
As pessoas que se envolveram nesse tal de telefonema [o ex-banqueiro Serafim e sua mulher, Vera Arantes", depondo na Polícia Federal e perante o corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma, dizem que a história não tem nenhum fundamento. É um absurdo sem tamanho, como o é esse episódio publicado pela revista "IstoÉ", segundo o qual o deputado Mário Frota teria usado o meu nome e solicitado valores a um empresário.

Folha - Usou?
Jader -
Nunca o deputado Mario Frota me procurou para conversar absolutamente nada a respeito de Sudam. Ele já desmentiu. Disse a mim que isso seria uma montagem patrocinada pelo governador do Amazonas, Amazonino Mendes (PFL), que é inimigo pessoal dele.

Folha - Até hoje não apareceu uma fita com sua voz, mas por que será que as pessoas o citam tanto, senador?
Jader -
Se eu não tivesse ousado enfrentar o Antonio Carlos, se eu não tivesse ousado me transformar num dos políticos mais importantes deste país, eu não estaria sendo objeto de todas essas misérias, de todas essas calúnias.

Onde está uma ação contra mim? Onde está uma ação de ressarcimento? Eu respondo a um processo só nas revistas e nos jornais. Mais nada além do que isso. Ninguém encampa. Ninguém assume.

Folha - O procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, está preparando uma ação.
Jader -
Eu estou aguardando. A última vez em que o dr. Brindeiro se manifestou a respeito do assunto foi para dizer que legalmente não era possível ingressar. Se ele prepara uma ação a respeito do Banpará, eu já tenho a minha contestação. Será o parecer dele.

Folha - No depoimento prestado à Polícia Federal o sr. disponibilizou seu sigilo bancário. Depois, pediu para o Supremo Tribunal Federal negá-la. Por quê?
Jader -
Porque o que se quer fazer é um show de pirotecnia. Se havia eu aberto mão do mão do meu sigilo bancário, se a transação foi uma transação bancária, a coisa mais simples seria verificar a ordem de pagamento ou cheque. Pedir a quebra dos sigilos fiscal e telefônico não tem cabimento. Se o casal diz que tudo o que havia falado ao telefone era mentira, nós estamos diante do quê? Um show de pirotecnia.

Folha - O sr. tem TDAs (Títulos da Dívida Agrária)?
Jader -
Nunca tive.
 

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