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01/08/2001 - 03h43

Auditoria acusa Geddel de desviar R$ 1 mi de corretora de valores

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WLADIMIR GRAMACHO
da Folha de S.Paulo, em Brasília

Relatório de auditoria interna revela que o líder do PMDB na Câmara, deputado Geddel Vieira Lima (BA), foi pivô num esquema que desviou mais de R$ 1 milhão da corretora de valores do Baneb -antigo banco estadual baiano, comprado pelo Bradesco em 1999. O desfalque provocou a demissão de Geddel do cargo de diretor da corretora.

Os auditores da instituição descobriram que ele próprio e três familiares foram beneficiados por rendimentos pagos acima da média do mercado. Esse desvio foi contemporâneo ao ocorrido no Banpará, em 1984, quando outro peemedebista, o senador Jader Barbalho (PA), teria sido beneficiado por resgates de aplicações em títulos de renda fixa.

Jader, então, era governador do Pará e já gozava de prestígio no PMDB. Geddel, aos 25 anos, experimentava sua primeira indicação política, como diretor da corretora subordinada ao Baneb.

A incursão malsucedida pelo mundo financeiro foi a única atividade profissional exercida por Geddel, segundo o currículo oficial do deputado. O texto só não informa que a experiência encerrou-se com sua demissão.

De acordo com relatório dos auditores Raimundo Versulotti e Djalma Britto, de 7 de dezembro de 1984, a gestão de Geddel permitiu "favorecimento a um restrito grupo de clientes [...], por meio da utilização de taxas de rentabilidade superiores às praticadas no mercado". Um caso concreto, relatado pelos auditores, traduz melhor essa conclusão. No dia 29 de dezembro de 1983, Geddel aplicou cerca de R$ 350 mil (Cr$ 93,9 milhões) em títulos de renda fixa ao portador - os mesmos papéis usados no esquema Banpará.

Passados dois meses, em 1º de março de 1984, o peemedebista resgatou seu investimento. O dinheiro havia rendido 22,9% ao mês e batia quase em R$ 530 mil, atualizados. A média do mercado no período, entretanto, havia sido de apenas 10,53%, o que lhe permitiria retirar R$ 428 mil.

Só nesta operação, Geddel ganhou além da conta aproximadamente R$ 100 mil, o equivalente ao que recebe num ano inteiro como deputado federal. Os valores foram atualizados pela Folha com base na tabela do Tribunal de Justiça de São Paulo.

Essas remunerações também favoreceram um grupo de clientes, entre os quais o pai do deputado, Afrísio Vieira Lima, a mãe, Marluce, e o irmão Lúcio. Os auditores, porém, não individualizaram os valores desviados para "clientes especiais" da corretora. Apenas indicaram uma amostra das operações irregulares, que implicaram o líder do PMDB.

Em sua defesa administrativa, Geddel e outro diretor demitido da corretora, Victor Djmal, produziram documento no qual expuseram os meandros das transações usadas pela instituição.

Para garantir rentabilidade, Geddel e Djmal informaram que "faziam-se operações de compra e venda num regime triangular, cujos vértices eram a corretora, a Dibahia [distribuidora do Baneb] e o Desenbanco [banco de desenvolvimento do Estado]".

"Essas operações, repetidas, nos causaram uma incisiva e constrangedora advertência do Banco Central", admitiram. Geddel e Djmal não negaram a vantagem produzida com as transações. "É certo - e ninguém discorda disso - que algumas práticas operacionais existentes na empresa acabaram por beneficiar um reduzido número de clientes".

Alertada pela auditoria, a Receita Federal investigou o caso e concluiu que "as operações irregulares que envolveram diretores e pessoas ligadas" podem ser consideradas "distribuição disfarçada de lucros" a diretores.

No Tribunal de Contas do Estado, dois processos cobraram providências para que o dinheiro desviado sob a forma de rendimentos voltasse ao caixa da instituição. O diretor-executivo do Baneb, Ademir Cossiello, informou que não tem em seus arquivos registro de cobrança do dinheiro.

Leia mais:
Líder do PMDB na Câmara diz que foi inocentado pelo Banco Central
 

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