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01/08/2001
-
19h43
IGOR GIELOW
COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Foi dada a largada para a mais importante concorrência internacional das Forças Armadas brasileiras desde a polêmica licitação do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Sete empresas se apresentaram ontem ao Comando da Aeronáutica interessadas em participar da concorrência que vai definir o novo avião de combate da FAB.
O projeto F-X, estimado em US$ 700 milhões, prevê a compra de uma esquadrilha de 12 a 24 aviões com capacidade de combate a longa distância e interceptação. Os aviões substituirão os atuais Mirage-3, que devem ser aposentados em 2005.
Mostraram interesse as norte-americanas Boeing (com o modelo F/A-18) e Lockheed Martin (F-16), as russas RAC-MiG (MiG-29) e Rosoboronexport (Sukhoi-27/ 30), o consórcio anglo-sueco SAAB-BAe (Gripen) e a italiana Alenia Aerospazio (Eurofighter Typhoon).
Representando a francesa Dassault, esteve a brasileira Embraer. A Dassault, integrante de consórcio francês que manda em 20% da Embraer, pretende montar o Mirage-2000 no Brasil _fazendo dela uma das favoritas, por incluir a transferência tecnológica em seu pacote.
O próximo passo será a apresentação de propostas, até outubro, a seleção parcial em novembro e a escolha final, em dezembro.
A importância do negócio é sustentada por dois argumentos.
Primeiro, o técnico. A frota de 18 aviões Mirage para interceptação supersônica de longa distância está caduca _nenhum deles deverá sair do chão após 2005.
O outro braço principal da FAB, a frota tática de F-5 e AMX, tem tempo de sobrevida maior e, com a renovação do recheio eletrônico feito em conjunto por Israel e a Embraer, não dará dor de cabeça tão cedo.
Em um país do tamanho do Brasil, é necessária uma frota capaz de interceptar, para usar um exemplo hipotético, um avião suspeito que entre pela fronteira venezuelana em direção a Brasília. Não se trata de uma arma de ataque.
Do lado estratégico e geopolítico, as ponderações são mais complexas e dependem muito do tempero político das escolhas.
Nos últimos meses, os oficiais e políticos envolvidos no processo vêm dizendo que a FAB só irá comprar quem vender um pacote completo: avião moderno, sistemas de combate com capacidades de combate BVR (sigla inglesa para além do alcance visual), financiamento bom e transferência de tecnologia.
A análise tem de ser caso a caso, entre os concorrentes:
a. Mirage-2000 - De cara, os franceses da Dassault são os favoritos para levar a licitação porque prometem montar o avião no Brasil, em conjunto com a Embraer _efetivamente, foi a empresa brasileira que mandou um representante ontem a Brasília. A idéia encanta os militares: a transferência tecnológica seria imediata. Financiamento não deverá ser problema também. O problema real é o temor, por setores da Aeronáutica, da excessiva dependência de material francês _a concentração é clara quando se lembra que um consórcio daquele país, Dassault inclusa, é dono de 20% da Embraer. Pesa também a velhice do projeto.
b. Sukhoi-27/30 - Os russos são os azarões da concorrência. O avião é tido como um dos melhores do mundo, se não o melhor na opinião dos maiores interessados _os pilotos. Se houver uma oferta de transferência de tecnologia, suas chances crescem muitos. O mesmo se aplica a um financiador confiável. Pesam contra o fato de o produto ser russo, e os EUA não querem ver aeronaves russas ganhando terreno em seu quintal.
c. F/A-18 - Teoricamente, um grande concorrente. Avião moderno, financiamentos garantidos. O problema é que o governo dos EUA não está disposto a entregar o pacote completo, ou seja, com todos os recursos de combate de longo alcance e, principalmente, com a transferência tecnológica. Pesa contra também o fato de estabelecer uma dependência com os EUA num momento em que a disputa hemisférica, simbolizada na questão da Alca, acirra os ânimos antiamericanos.
d. SAAB Gripen - O caça sueco, com distribuição britânica, seria um concorrente ideal. É relativamente barato e o de projeto mais moderno entre todos na disputa. O problema é que é um avião menor, de alcance limitado, dado a teatros de operação menores, como os céus europeus. A fabricante, porém, já fala em favorecer a transferência de tecnologia e até mudar o projeto para atender às demandas da FAB.
e. F-16 (EUA) e MiG-29 (Rússia) - Os dois aviões, de projeto tão antigo quanto o do Mirage, estão praticamente fora da disputa. O norte-americano por estar sendo oferecido em uma versão desatualizada e o russo, por problemas de financiamento. Além do mais, ambos não têm garantias de transferência tecnológica.
f. Eurofighter Thypoon - A italiana Alenia apareceu, meio de surpresa, para pegar a proposta do projeto F-X em Brasília. O Eurofighter é um avião de última geração, atual como o Gripen, com características de combate ainda não testadas em guerra mas, na teoria, iguais ou melhores que a concorrência. É feito por um consórcio europeu. O problema é o preço, cerca de US$ 50 milhões _o mesmo defeito que tirou o sofisticado Rafale (Dassault) da concorrência.
O jogo agora será decidido por quem oferecer, até outubro, a melhor relação custo-benefício à FAB. Vão valer também as ponderações geopolíticas _ligar-se a um fornecedor de armas por 30 anos, como prevê o projeto F-X, tem implicações sérias.
Os chilenos, por exemplo, acabaram de pré-escolher o F-16 numa concorrência semelhante (o projeto Caza 2000). Além da relutância norte-americana em transferir tecnologia, vai pesar na decisão brasileira o fato de os EUA já estarem ''com o pé'' do outro lado dos Andes _assim como já fazem comercialmente.
É esperar para ver.
FAB abre concorrência de US$ 700 milhões para novos caças
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COORDENADOR DA AGÊNCIA FOLHA
Foi dada a largada para a mais importante concorrência internacional das Forças Armadas brasileiras desde a polêmica licitação do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Sete empresas se apresentaram ontem ao Comando da Aeronáutica interessadas em participar da concorrência que vai definir o novo avião de combate da FAB.
O projeto F-X, estimado em US$ 700 milhões, prevê a compra de uma esquadrilha de 12 a 24 aviões com capacidade de combate a longa distância e interceptação. Os aviões substituirão os atuais Mirage-3, que devem ser aposentados em 2005.
Mostraram interesse as norte-americanas Boeing (com o modelo F/A-18) e Lockheed Martin (F-16), as russas RAC-MiG (MiG-29) e Rosoboronexport (Sukhoi-27/ 30), o consórcio anglo-sueco SAAB-BAe (Gripen) e a italiana Alenia Aerospazio (Eurofighter Typhoon).
Representando a francesa Dassault, esteve a brasileira Embraer. A Dassault, integrante de consórcio francês que manda em 20% da Embraer, pretende montar o Mirage-2000 no Brasil _fazendo dela uma das favoritas, por incluir a transferência tecnológica em seu pacote.
O próximo passo será a apresentação de propostas, até outubro, a seleção parcial em novembro e a escolha final, em dezembro.
A importância do negócio é sustentada por dois argumentos.
Primeiro, o técnico. A frota de 18 aviões Mirage para interceptação supersônica de longa distância está caduca _nenhum deles deverá sair do chão após 2005.
O outro braço principal da FAB, a frota tática de F-5 e AMX, tem tempo de sobrevida maior e, com a renovação do recheio eletrônico feito em conjunto por Israel e a Embraer, não dará dor de cabeça tão cedo.
Em um país do tamanho do Brasil, é necessária uma frota capaz de interceptar, para usar um exemplo hipotético, um avião suspeito que entre pela fronteira venezuelana em direção a Brasília. Não se trata de uma arma de ataque.
Do lado estratégico e geopolítico, as ponderações são mais complexas e dependem muito do tempero político das escolhas.
Nos últimos meses, os oficiais e políticos envolvidos no processo vêm dizendo que a FAB só irá comprar quem vender um pacote completo: avião moderno, sistemas de combate com capacidades de combate BVR (sigla inglesa para além do alcance visual), financiamento bom e transferência de tecnologia.
A análise tem de ser caso a caso, entre os concorrentes:
a. Mirage-2000 - De cara, os franceses da Dassault são os favoritos para levar a licitação porque prometem montar o avião no Brasil, em conjunto com a Embraer _efetivamente, foi a empresa brasileira que mandou um representante ontem a Brasília. A idéia encanta os militares: a transferência tecnológica seria imediata. Financiamento não deverá ser problema também. O problema real é o temor, por setores da Aeronáutica, da excessiva dependência de material francês _a concentração é clara quando se lembra que um consórcio daquele país, Dassault inclusa, é dono de 20% da Embraer. Pesa também a velhice do projeto.
b. Sukhoi-27/30 - Os russos são os azarões da concorrência. O avião é tido como um dos melhores do mundo, se não o melhor na opinião dos maiores interessados _os pilotos. Se houver uma oferta de transferência de tecnologia, suas chances crescem muitos. O mesmo se aplica a um financiador confiável. Pesam contra o fato de o produto ser russo, e os EUA não querem ver aeronaves russas ganhando terreno em seu quintal.
c. F/A-18 - Teoricamente, um grande concorrente. Avião moderno, financiamentos garantidos. O problema é que o governo dos EUA não está disposto a entregar o pacote completo, ou seja, com todos os recursos de combate de longo alcance e, principalmente, com a transferência tecnológica. Pesa contra também o fato de estabelecer uma dependência com os EUA num momento em que a disputa hemisférica, simbolizada na questão da Alca, acirra os ânimos antiamericanos.
d. SAAB Gripen - O caça sueco, com distribuição britânica, seria um concorrente ideal. É relativamente barato e o de projeto mais moderno entre todos na disputa. O problema é que é um avião menor, de alcance limitado, dado a teatros de operação menores, como os céus europeus. A fabricante, porém, já fala em favorecer a transferência de tecnologia e até mudar o projeto para atender às demandas da FAB.
e. F-16 (EUA) e MiG-29 (Rússia) - Os dois aviões, de projeto tão antigo quanto o do Mirage, estão praticamente fora da disputa. O norte-americano por estar sendo oferecido em uma versão desatualizada e o russo, por problemas de financiamento. Além do mais, ambos não têm garantias de transferência tecnológica.
f. Eurofighter Thypoon - A italiana Alenia apareceu, meio de surpresa, para pegar a proposta do projeto F-X em Brasília. O Eurofighter é um avião de última geração, atual como o Gripen, com características de combate ainda não testadas em guerra mas, na teoria, iguais ou melhores que a concorrência. É feito por um consórcio europeu. O problema é o preço, cerca de US$ 50 milhões _o mesmo defeito que tirou o sofisticado Rafale (Dassault) da concorrência.
O jogo agora será decidido por quem oferecer, até outubro, a melhor relação custo-benefício à FAB. Vão valer também as ponderações geopolíticas _ligar-se a um fornecedor de armas por 30 anos, como prevê o projeto F-X, tem implicações sérias.
Os chilenos, por exemplo, acabaram de pré-escolher o F-16 numa concorrência semelhante (o projeto Caza 2000). Além da relutância norte-americana em transferir tecnologia, vai pesar na decisão brasileira o fato de os EUA já estarem ''com o pé'' do outro lado dos Andes _assim como já fazem comercialmente.
É esperar para ver.
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